segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Uma safra dos enólogos

A safra 2010 dos vinhos brasileiros está bem melhor do que se esperava diante das condições climáticas adversas do final do ano passado e do verão deste ano, com chuvas fora de tempo ou em excesso, mas foi resultado direto da intervenção do enólogo para correção dos defeitos gerados pela natureza. Esta é a principal conclusão da 18ª Avaliação Nacional de Vinhos, realizada, sábado, dia 25 de setembro, em Bento Gonçalves, com a participação de 16 degustadores especializados, nacionais e estrangeiros, e 750 degustadores do público em geral. Foram degustados 16 vinhos selecionados por 83 enólogos entre 260 amostras inscritas por 55 vinícolas de sete estados – RS, SC, PR, BA, SP, PE e MG. Uma demonstração de que a produção de vinho espalhou-se pelo País, é que um dos destacados na Avaliação, veio de Minas Gerais, um chenin blanc da Vinícola Santa Maria.
Também ao contrário do que os especialistas esperavam, os vinhos base para espumantes e tintos jovens se mostraram muito bons, superando os efeitos negativos de 220 ml de chuva acima do normal no período de maturação. Alguns provadores estrangeiros, como a famosa espanhola Maria Isabel Mijares, chegaram a dar nota 93 para o cabernet sauvignon apresentado pela vinícola Almaúnica. Outro cabernet sauvignon, da vinícola Santo Emílio, também recebeu nota 93, do crítico de vinhos Didu Russo. Os nomes das vinícolas só foram divulgado depois da degustação. A média das notas dos bases e dos brancos ficou entre 74 e 89 pontos; a dos rosés e tintos, entre 86 e 93. Sem duvida, boa pontuação para uma safra que enfrentou tantas dificuldades climáticas.
É claro que não se poderia esperar comentários muito negativos dos degustadores-comentaristas estrangeiros convidados para avaliar o vinho brasileiro, mas foi interessante ouvi-los, depois de provarem os vinhos, dizer que a qualidade do produto brasileiro evoluiu muito e alguns vinhos, principalmente os brancos, têm boas perspectivas do mercado internacional. Foi o que disseram Carmen Perez, da Argentina, David Furer, dos Estados Unidos, Fernando Petenuzzo, do Uruguai, Roberto Rabacchino, da Itália, Maria Isabel Mijares e Luis Vicente Pastor, ambos da Espanha, Suzanne Krantz, da Suécia, e Michael Whiteside, da Inglaterra.
Ao comentar a degustação de um chenin blanc, depois identificado como produto da Vinícola Santa Maria (MG), o italiano Roberto Rabachino, presidente da Fisar International na Itália, afirmou que se trata de um vinho com projeção de sucesso. “Está na escola primária e vai chegar à universidade”, afirmou, divulgando sua nota de 85 pontos, sem dúvida boa para a safra de 2010.
O evento, como vem sendo feito há 18 anos, é uma iniciativa da Associação Brasileira de Enologia, presidida por Christian Bernardi, que brindou com todos os participantes pelo sucesso da avaliação, que reuniu mais de 750 pessoas. Também brindou à qualidade da safra, que superou “muitas dificuldades, muita chuva, poucas horas de sol e mostrou que é possível ir muito além do que a ciência ensinou para conseguir bons vinhos”. O que falta, agora, segundo ele, “é o povo brasileiro sentir-se membro do mundo do vinho”. Desde da primeira edição, mais de 10 mil pessoas participaram das Avaliações.
As queixas dos produtores de vinhos continuam as mesmas: impostos muitos altos e concorrência desleal do vinho estrangeiro que chega ao país, segundo eles, sem fiscalização sobre a qualidade e, alguns, com benefícios fiscais nos países de origem. Mesmo assim, o negócio do vinho no Brasil é crescente e sempre com novidades. Antonio Czarnobay, que foi enólogo chefa da Aurora por muitos anos, por exemplo, está se preparando para lançar espumantes e vinhos através de um nova vinícola, a Bodega Copetti & Czarnobay, com vinhedos e cantina em Encruzilhada do Sul. Será a primeira cantina desta nova província vinícola brasileira, na qual outras grandes empresas, como Valduga e Chandon, já possuem vinhedos.
Os vinhos brasileiros mostraram, também, que estão dentro da tendência mundial de diminuição dos níveis de álcool. Os cabernet sauvignons estiveram entre 12,55% e 13,07% de álcool. Os demais caíram para 11% e 12%, de uma maneira geral. Menos álcool nos vinhos é o que o mercado internacional está pedindo.
Alguns dos principais enólogos da vitivinicultura brasileira estavam em Bento Gonçalves participando da Avaliação Nacional de Vinhos. Ter um de seus “filhos” entre os destacados é o sonho de todos. Entre os mais conhecidos, Adriano Miolo, Christian Bernardi, Dario Crespi, Dirceu Scottá, Carlos Abarzúa e o português Miguel Ângelo Almeida, um dos “pais” do famoso Sesmarias, da Miolo.
A safra de uva 2010 registrou uma queda de 1,6%, no Rio Grande do Sul, em relação a de 2009. Mais de 50% das uvas comuns, um recorde histórico, segundo o Ibravin, foram destinadas à produção de suco, reivindicação antiga do setor, que vê no suco a melhor maneira de escoar a produção das uvas híbridas, abrindo espaço para o vinho fino. O mercado de sucos, para satisfação dos produtores que não tinham para quem vender suas uvas comuns, cresceu mais de 40% no ano e a tendência é de se manter. O Ibravin e a Apex-Brasil estão incentivando a exportação de suco de uva e selecionaram países alvos: Estados Unidos, Canadá, Angola, Emirados Árabes Unidos.
Fiquei sabendo lá que a Vinícola Aurora lançou o quinto vinho Millésime de sua história, o Aurora Millésime 2008. Um tinto especial, elaborado 100% com Cabernet Sauvignon, exclusivamente em safras excepcionais. Os anteriores foram das safras 1991, 1999, 2004 e 2005. Passou por amadurecimento de 10 meses em barricas novas de carvalho francês e americano.

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