Confira o artigo técnico sobre o Desempenho da
vitivinicultura brasileira em 2015, elaborado pela pesquisadora da Embrapa
Uva e Vinho Loiva Maria Ribeiro de Mello:
“A vitivinicultura brasileira, embora presente em vários
estados e regiões brasileiras, se concentra em poucas regiões. É especialmente
importante para o Rio Grande do Sul, na serra gaúcha, onde quase a totalidade
da produção se destina à agroindústria do suco e do vinho e essencialmente
produzida por pequenos agricultores de agricultura familiar. Na produção de
uvas de mesa, a cultura se destaca no Vale do São Francisco (Pernambuco e
Bahia) e em São Paulo, gerando renda para milhares de famílias. Nos últimos
anos, com a implementação das Indicações Geográficas no Brasil, a viticultura
tem contribuído fortemente para o desenvolvimento dos territórios envolvidos,
promovendo a agregação de valor aos produtos e a valorização de seus
respectivos fatores naturais e culturais.
Para
analisar o desempenho da viticultura brasileira foram usadas fontes de dados
secundários. Os dados de área e produção de uvas foram disponibilizados pelo
IBGE e os dados de importações e exportações disponibilizados pelo Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Para a produção e
comercialização dos produtos elaborados foram usados os dados disponibilizados
pelo Ibravin/Uvibra, referentes ao Rio Grande do Sul, que respondem a cerca de
90% da produção nacional, pois não se dispõe de estatísticas do país. De certa forma o Rio Grande do Sul pode ser usado como
referência para o país, pela elevada representatividade na produção de suco de
uvas e vinhos. Os
dados de comercialização de suco, vinhos e derivados disponíveis referem-se aos
meses de janeiro a novembro de 2015 razão pela qual foram estimados pelo autor
para o mês de dezembro.
Produção de uvas
Em 2015 foram produzidas 1.499.353 t de uvas no Brasil
(Tabela 1), com aumento de 4,41% em relação ao ano de 2014. Ocorreu redução de
produção nos estados da Bahia, São Paulo e Paraná. Nesses estados, além de
fatores climáticos terem afetado a produtividade, também ocorreu redução de
área. Na Bahia a redução da produção foi de 0,13%, em São Paulo o recuo foi de
3,22% e no Paraná a produção de uva diminuiu 1,12%.
No Rio Grande do Sul, maior estado produtor de uvas,
ocorreu aumento de 7,85% na produção em 2015. Em Santa Catarina ocorreu
acréscimo de 4,66% na produção, em Minas Gerais o acréscimo foi de 9,15% e em
Pernambuco ocorreu um leve incremento de 0,25%.
Tabela 1. Produção de uvas no
Brasil, em toneladas.
Estado\Ano
|
2013*
|
2014**
|
2015***
|
Ceará
|
664
|
573
|
940
|
Pernambuco
|
228.727
|
236.767
|
237.367
|
Bahia
|
52.808
|
77.504
|
77.401
|
Minas
Gerais
|
12.734
|
11.557
|
12.615
|
São Paulo
|
172.868
|
146.790
|
142.063
|
Paraná
|
79.052
|
80.910
|
80.000
|
Santa
Catarina
|
53.153
|
66.106
|
69.189
|
Rio
Grande do Sul
|
808.267
|
812.537
|
876.286
|
Goiás
|
4.581
|
3.330
|
3.492
|
Brasil
|
1.412.854
|
1.436.074
|
1.499.353
|
*Dados capturados em 23.01.2014. ** Dados
capturados em 13.01.2015 *** Dados capturados em 12.01.2016
A produção de uvas destinadas ao processamento (vinho,
suco e derivados) foi de 781.412 milhões
de quilos de uvas, em 2015, representando 52,12% da produção nacional. O
restante da produção (47,88%) foi destinado ao consumo in natura (Tabela 2). A
quantidade de uvas processadas para elaboração de vinhos e suco apresentou
aumento de 16,03% em 2015, comparativamente ao ano de 2014.
Tabela 2. Produção de uvas
para processamento e para consumo in natura, no Brasil, em toneladas.
Discriminação/ano
|
2013
|
2014
|
2015
|
Processamento
|
679.793
|
673.422
|
781.412
|
Consumo in natura
|
733.061
|
762.652
|
717.941
|
Total
|
1.412.854
|
1.436.074
|
1.499.353
|
Fonte: Dados estimados por Loiva Maria Ribeiro
de Mello - Embrapa Uva e Vinho, considerando os dados oficiais de uva para
processamento do RS, e uma estimativa para os demais estados brasileiros.
Área plantada
A área ocupada com vinhedos
diminuiu em 2015, seguindo uma tendência iniciada em 2013, com redução de 1,83%
na área plantada (Tabela 3). A maior redução da área ocorreu no estado do
Paraná, 13,98 %. Ainda na Região Sul, os estados do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina apresentaram redução da área em 0,51% e 0,98%, respectivamente. No
Nordeste, a área cultivada com videiras permaneceu praticamente a mesma de
2014, a da Bahia foi levemente reduzida em 0,10%.
O estado de São Paulo que já
apresentou redução de 12,79% na área plantada em 2014, em 2015 sofreu nova
redução de 5,86%. No entanto, o estado de Minas Gerais apresentou aumento de
10,91% na área plantada com vinhedos.
Em alguns locais, a
especulação imobiliária está contribuindo para redução da área vitícola, em
outros os problemas climáticos associados à falta de mão-de-obra tem
desestimulado o crescimento da vitivinicultura.
Tabela 3. Área plantada de
videiras no Brasil, em hectares.
Estado\Ano
|
2013*
|
2014**
|
2015***
|
Ceará
|
50
|
25
|
38
|
Pernambuco
|
6.817
|
6.833
|
6.833
|
Bahia
|
2.395
|
2.864
|
2.861
|
Minas Gerais
|
849
|
834
|
925
|
São Paulo
|
9.526
|
8.308
|
7.821
|
Paraná
|
5.824
|
5.580
|
4.800
|
Santa Catarina
|
4.474
|
4.989
|
4.940
|
Rio Grande do Sul
|
51.450
|
51.005
|
50.743
|
Goiás
|
222
|
138
|
133
|
Brasil
|
81.607
|
80.576
|
79.094
|
*Dados capturados em 23.01.2014. ** Dados
capturados em 13.01.2015 *** Dados capturados em 12.01.2016
Produção de Vinhos, suco e derivados
A produção de vinhos, suco e
derivados do Rio Grande do Sul foi de 583.015 milhões de litros, em 2015, 15,38%
superior à verificada em 2014 (Tabela 4).
Os vinhos finos, que são
elaborados com uva Vitis vinifera L,
apresentaram redução de produção de 3,42%. Os três tipos de vinhos finos
sofreram redução na produção, sendo que os vinhos tintos foram reduzidos em 2,69%,
os brancos diminuíram 2,46% e os rosados sofreram queda de 29,94%.
Os vinhos de mesa, elaborados
com uvas americanas e híbridas, mostraram aumento de 7,21% na sua produção, com
alta de 7,63% para os tintos e de 5,66% para os brancos.
O suco de uva apresentou
incremento de produção de 9,63%, sendo o maior aumento de suco de uva integral
(20,54%). A produção de suco concentrado aumentou em 6,79%. Cabe destacar
também o aumento de produção de mosto simples em 75,24%. Este pode ser usado
tanto para vinificação quanto para a elaboração de suco e outros derivados.
O segmento de suco tem sido
uma alternativa para a sustentabilidade da vitivinicultura gaúcha pois tem
absorvido uma boa parte da produção de uvas americanas e híbridas que
tradicionalmente eram absorvidas pelos vinhos de mesa.
Tabela 4.
Produção de vinhos, suco e derivados do Rio Grande do Sul, em litros.
PRODUÇÃO
|
2013
|
2014
|
2015
|
Vinho de
mesa
|
196.904.222
|
196.173.123
|
210.308.560
|
Tinto
|
163.111.797
|
157.776.363
|
169.811.472
|
Branco
|
32.066.403
|
37.438.069
|
39.557.250
|
Rosado
|
1.726.022
|
958.691
|
939.838
|
Vinho
Fino
|
46.956.931
|
38.464.314
|
37.148.982
|
Tinto
|
23.156.458
|
17.208.996
|
16.745.896
|
Branco
|
23.080.750
|
20.054.804
|
19.561.966
|
Rosado
|
719.723
|
1.200.514
|
841.120
|
Suco de
uva integral
|
33.673.396
|
43.331.223
|
52.233.155
|
Suco
concentrado*
|
156.031.970
|
166.961.570
|
178.306.565
|
Mosto
Simples
|
58.517.506
|
57.585.195
|
100.911.592
|
Outros
derivados **
|
2.909.520
|
2.801.715
|
4.106.899
|
TOTAL
|
494.993.545
|
505.317.140
|
583.015.753
|
*Transformados em litros de suco simples.
Fontes: União Brasileira de Vitivinicultura –
Uvibra, Instituto Brasileiro do Vinho – Ibravin
Elaboração: Loiva Maria Ribeiro de Mello -
Embrapa Uva e Vinho
Comercialização de Vinhos, suco e
derivados
Apesar da crise econômica e
do baixo desempenho da economia brasileira, a quantidade de suco e vinhos
comercializados pelo Rio Grande do Sul, em 2015, apresentou acréscimo de 4,52%
(Tabela 5).
Os vinhos de mesa
apresentaram aumento de 1,81% na quantidade comercializada, sendo que os vinhos
de mesa tintos, que são os de maior volume, tiveram acréscimo de 2,56%, os
vinhos de mesa rosados aumentaram em 0,77% e os vinhos branco de mesa sofreram
redução de 3,09%.
Na categoria vinhos finos, o
aumento na comercialização foi de 3,89%, em 2015, em relação ao ano anterior.
Os vinhos finos tintos apresentaram crescimento de 5,57%, os vinhos finos
rosados apresentaram aumento de 2,43% enquanto que os vinhos brancos foram
reduzidos em 1,13% na quantidade comercializada em 2015.
Os vinhos espumantes,
continuaram sua trajetória crescente, com aumento de 16,64%, em 2015, sendo
que, os espumantes moscatéis obtiveram aumento de 22,48%, e os espumantes finos
apresentaram crescimento de 14,51% nas vendas desse ano.
A comercialização de suco de
uva continuou crescendo em 2015, com aumento de 5,80%, atendendo a crescente
demanda que tem se verificado nos últimos anos. O suco de uva integral, pronto
para consumo, apresentou aumento de 31,10% na comercialização nesse ano e o
suco concentrado apresentou redução de 5,5%.
Tabela 5. Comercialização de
vinhos e de suco de uva provenientes do Rio Grande do Sul, em litros.
Produtos\Anos
|
2013
|
2014
|
2015*
|
Vinho de
Mesa¹
|
221.590.810
|
206.404.427
|
210.147.593
|
Tinto
|
188.033.494
|
178.250.072
|
182.807.550
|
Rosado
|
1.777.648
|
1.419.855
|
1.430.767
|
Branco
|
31.779.668
|
26.734.500
|
25.909.276
|
Vinho
Fino²
|
27.912.934
|
20.424.983
|
21.218.965
|
Tinto
|
19.121.750
|
15.354.938
|
16.210.163
|
Rosado
|
214.269
|
164.219
|
168.203
|
Branco
|
8.576.915
|
4.905.826
|
4.850.599
|
Vinho
Frisante
|
1.764.851
|
1.893.469
|
1.963.096
|
Espumantes
|
12.194.973
|
12.602.610
|
14.431.193
|
Espumante
Moscatel
|
3.783.531
|
4.588.465
|
5.620.169
|
Suco de
Uva Integral
|
72.216.872
|
88.013.377
|
115.389.024
|
Suco de
Uva Concentrado³
|
191.849.570
|
196.799.675
|
185.967.593
|
TOTAL
|
531.313.541
|
530.727.006
|
554.737.634
|
*dados
estimados pelo autor com base na comercialização até novembro; ¹elaborado com
uvas americanas e híbridas; ²corte de vinho de mesa e vinho de viníferas; ²elaborado
a partir de cultivares Vitis vinífera L; 3valores
convertidos em suco simples;
Fonte:
UVIBRA e IBRAVIN
Elaboração:
Loiva Maria Ribeiro de Mello - Embrapa Uva e Vinho
Exportações
Em 2015, as exportações
brasileiras do setor vitivinícola foram de 81,81 milhões de dólares, 8,32%
inferior das realizadas no ano de 2014 (Tabela 6). Na pauta das exportações do
setor vitivinícola brasileiro, somente a uva apresentou incremento, sendo
21,30% na quantidade exportada e 8,26% no valor obtido. As exportações de uva de
mesa haviam diminuído nos últimos anos (34,35%, em 2014). Os demais itens apresentaram queda acentuada,
tanto em quantidade como em valor. O suco de uvas sofreu redução de 47,30% em
quantidade exportada e 54,41% no valor obtido pelas exportações. Os vinhos,
incluindo de mesa e finos, apresentaram queda de 46,04% na quantidade e 60,84%
no valor das exportações e os espumantes decresceram 67,94% em quantidade e
66,25% em valor.
Importações
O valor das importações
brasileiras dos produtos da vitivinicultura em 2015, apresentaram redução de
14,25%, comparativamente ao ano 2014 (Tabela 6). As importações de uvas frescas
foram reduzidas em 5,76% na quantidade e 19,85% no valor, ou seja, foram
cotadas a preços inferiores aos de 2014. As importações de uvas passas foram
maiores em quantidade, 4,68%, no entanto apresentaram redução no valor da
compra em 23,48%. As importações de vinhos cresceram na quantidade em 1,01% e
sofreram redução de 10,78% no valor. Para os espumantes houve redução na
quantidade e no valor de 4,92% e 4,08%, respectivamente.
Balanço
Em 2015, o país apresentou déficit de 300.798 milhões de
dólares, 14,25% inferior ao verificado em 2014. Tanto as importações quanto as
exportações apresentaram redução de valores, mas o preço médio obtido pelo
produto nacional foi superior aos pagos pela uva importada. O preço médio
obtido pelas exportações de uvas caiu de U$ 2,36/Kg para U$ 2,10/ Kg, da mesma
forma que o preço médio pago pelas importações de uvas diminuíram de U$ 1,85/Kg
para U$ 1,57/Kg. No caso dos vinhos e
espumantes, o preço médio pago pela importação foi superior ao recebido pela
exportação, da mesma forma que o ano de 2014. Entretanto, os preços médios pago
e recebido sofreram redução. O vinho foi importado em 2014 ao preço médio de U$
3,77/L, passando para U$ 3,33/L em 2015. O vinho brasileiro foi exportado por
U$ 3,21/L e U$ 2,33/L, em 2014 e 2015 respectivamente. O país pagou em média U$
7,93/L e U$ 8,01/L o espumante, enquanto vendeu ao mercado internacional ao
preço de U$ 4,66/L e U$4,91/L, para os anos de 2014 e 2015, respectivamente.
Tabela 6. Balanço das
exportações e importações de uvas, suco de uvas, vinhos e derivados: valores em
US$ 1.000,00 (FOB) – BRASIL – 2012/2014.
Discriminação
|
2013
|
|
2014
|
|
2015
|
|
||||||
|
Quantidade
|
Valor
|
Quantidade
|
Valor
|
Quantidade
|
Valor
|
||||||
Exportações
|
|
|
|
|
|
|
||||||
Uvas
frescas (t)
|
43.181
|
102.995
|
28.348
|
66.791
|
34.385
|
72.307
|
||||||
Suco de
uva (t)
|
4.212
|
12.428
|
4.953
|
12.866
|
2.610
|
5.866
|
||||||
Vinhos
(1.000 L))
|
9.149
|
22.745
|
2.324
|
7.473
|
1.254
|
2.926
|
||||||
Espumantes
(1000 L)
|
215
|
929
|
452
|
2.109
|
145
|
712
|
||||||
Total
|
|
139.097
|
|
89.239
|
|
81.811
|
||||||
|
|
|
|
|
|
|
||||||
Importações
|
|
|
|
|
|
|
||||||
Uvas
frescas (t)
|
32.631
|
59.581
|
33.761
|
62.338
|
31.818
|
49.965
|
||||||
Uvas
passas (t)
|
23.414
|
53.285
|
23.723
|
53.062
|
24.834
|
40.603
|
||||||
67.954
|
255.566
|
76.910
|
290.253
|
77.685
|
258.978
|
|||||||
Espumantes
(1000 L)
|
4.269
|
34.652
|
4.317
|
34.261
|
4.105
|
32.862
|
||||||
Suco de
uva (t)
|
1.064
|
754
|
88
|
91
|
175
|
201
|
||||||
Total
|
|
403.838
|
|
440.005
|
|
382.609
|
||||||
Balanço
|
|
(264.741)
|
|
(350.766)
|
|
(300.798)
|
||||||
Fonte: MDIC
Elaboração: Loiva Maria Ribeiro de Mello -
Embrapa Uva e Vinho
Considerações finais
Ocorreu um
leve aumento na produção de uvas no Brasil, com redução de produção em alguns
estados e acréscimo em outros. O volume de uva processada apresentou aumento
enquanto a uva in natura teve seu volume reduzido.
O mercado
dos vinhos nacionais apresentou um bom desempenho em 2015 com destaque para os
espumantes.
O suco de
uvas integral apresentou excelente desempenho enquanto o suco concentrado
apresentou retração nas vendas.
A elevação
da taxa de câmbio não impulsionou as exportações e tão pouco inibiu as
importações, contudo, houve redução dos preços médios de importação e de
exportação de uvas, suco e vinhos.
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