quarta-feira, 24 de março de 2010

A performance do Malbec

O crítico de vinhos do Jornal da Noite, olyr Corrêa, de vez em quando, deixa sua proverbial preguiça, como diz o João Carlos Botezzelli, e manda alguma coisa. Eis uma nova contribuição para o mundo do vinho:
A UIVC (União Inteprofissional dos Vinhos de Cahors) resolveu aproveitar-se do incrível avanço dos argentinos no maior mercado vinícola do mundo, os Estados Unidos da América.
Como sabem, Cahors é a região em particular do Malbec na Europa. E o Malbec é o vinho que mais cresce em vendas nos Estados Unidos.
Pedigree por pedigree, Cahors é quase imbatível em história.
O vinho de côt noir, como é chamado a malbec por lá, foi implantado em 50 A.C. pelos romanos e é um dos vinhos mais antigos da Europa.
Desde a Idade Média, o apelidado "licor de fogo" ou "vinho negro" ganhou fama mundial desde o casamento de Henrique II, rei da Inglaterra, com Eleonor D´Aquitânia, onde estava presente em todas as mesas. Um "cahoriano", o Papa João XXII, contribuiu mais ainda para a fama ao fazê-lo seu vinho de "mesa e missa". Pedro, o Grande, czar da Rússia o apreciava e a Igreja Ortodoxa o adotou como vinho de missa.
Mas o crescimento do vinho de Cahors iria enfrentar um problema sério: o caminho da exportação era através do Rio Lot e passa por Bordéus para chegar ao norte da Europa e à America.
Ao atingir a corte da Inglaterra, o Cahors torna-se um concorrente de respeito para o vinho bordalês. Os viticultores de Bordéus procuravam impedir a passagem dos vinhos de Cahors antes da festa de Todos os Santos (1ª semana de novembro) para poder escoar primeiro a sua produção.
Este conflito durou até 1780 onde um acordo prejudicial a Cahors , no longo prazo, acalmou a disputa.
Após 1800, o vinho de Cahors vai caindo pouco a pouco no esquecimento, derrotado pela maior vitalidade, facilidade e investimento de Bordéus. Em 1880, a praga da filoxera liquida de vez com o futuro da região, exterminando quase a totalidade dos vinhedos e restando uma produção irrelevante.
Quando, quase um século depois, Cahors começa a levantar a cabeça, fortíssimas geadas abatem novamente as parreiras.
A retomada é lenta e difícil e a região, escaldada, opta por vinhos fáceis, de alta produção porém sem caráter.
Este foi o fado funesto de Cahors, que permitiu à Argentina encontrar um nicho onde não encontra concorrente em nível mundial.
Porém, a partir dos anos 80 do século passado, as coisas começam a mudar com a enorme afluência de ricos mercados para o vinho e a rejeição social e moral das bebidas destiladas nas classes altas educadas e de maior poder aquisitivo.
Uma recente geração de vitivinicultores percebe o espaço aberto nos mercados mundiais e passa a produzir um Cahors moderno, poderoso mas elegante, calcanhar de Aquiles do vinho argentino à base da malbec.
Cortando a dureza dos 70% de malbec, os produtores atuais mesclam-na com merlot para arredondar o vinho e com tannat, a cepa principal do vizinho Madiran, para acentuar o seu potencial de guarda.
Este é o pano de fundo da recente turnê que os produtores de Cahors fazem pelo mercado norte-americano. Vinte mil quilômetros em seis dias, de Miami a São Francisco passando por Washington, os resultados parecem agradar aos 17 maratonistas gauleses, como diz Olivier Barret, representante do Château Pineraie: " Desde a primeira turnê, vendemos 1800 garrafas. Esperamos dobrar esta cifra em 2010."
É isso mesmo! Você não leu mal, nem eu fiz as caras e bocas das apresentadoras da Globo quando lêem admiradas cifras na casa dos milhares quando na verdade eram milhões.
O homem estava falando de 3.000 GARRAFAS!
Bom, se a elegância é o calcanhar de Aquiles dos argentinos, a dos cahorenses é o volume da produção.
Estamos falando de 4.000 hectares de vinhas e 22 milhões de litros de vinho.
A Argentina possui 250.000 hectares de vinhedos e produz quase 1 bilhão e meio de litros de vinho, estimando-se os à base de Malbec em um 15% disto, ou seja, 225 milhões de litros, com uns 30.000 hectares em produção e aumentando ano a ano .
Queden-se tranquilitos, hermanos, ningun peligro à la vista.

Um comentário:

OC disse...

"deixa sua proverbial preguiça"

Estou aposentado, em férias ew cdom o dinheiro! Meu problema é como gastá-lo bem e não corre atrás para ganhá-lo. Por isso não tenho pressa pois a pressa é a maior inimiga dos epicuristas.

Abraços

P.S. Os "cahorianos" produzem pouco mas já chegaram aos supermercados do RiO de Janeiro. Acabei de comprar no Mundial da Praça Saens Peña, por R$34,50, um vinho cuja etieueta reza:
Malbec CLASSIQUE de France
Grand Châtelain
Reserve "Gabriel"
Appellation CAHORS Controlée

Este vinho é impotado pela Compagnie Vins de France de Curitiba e é uma assemblage de malbec (100%) de três safras, 2002, 2004 e 2005.