Sobre o Vale dos Vinhedos já escrevi muito, tanto aqui no Blog, quanto em jornais e revistas, mas sobre os Altos Montes, embora visite Flores da Cunha há mais de 40 anos, muito pouco, pois a região, embora seja a maior produtora de uvas e vinhos do Brasil, não se preocupava muito em divulgar suas vinícolas e seus produtos. Eu já comprava vinhos em Flores da Cunha nos anos de 1970, quando fui jurado, durante nove anos, da Vindima da Canção, festival de música criado pelo empresário Eloy Kunz, já falecido, pelo prefeito Bedin e pelo presidente do Clube dos Compostiores, Demósthenes Gonzales, também já falecido. Hoje, é um lugar onde tradição e modernidade se encontram para formar um conjunto de vinícolas único no Brasil.
A união entre a tradição na produção de vinhos e espumantes de qualidade e a modernidade necessária para encarar os desafios da atualidade. No roteiro enoturístico dos Altos Montes, entre as cidades de Flores da Cunha e Nova Pádua, na Serra Gaúcha, é possível encontrar tecnologia, diversidade, riqueza enogastronômica, paisagens de tirar o fôlego e um conjunto de 11 vinícolas que é único no Brasil. Foi o que nos mostrou esta nova viagem de uma semana pela região.
Com altitude média superior a 750 metros, a região possui 173 km² demarcados e próximos de se transformarem em uma Indicação Geográfica (IG). O estudo indica as características climáticas e de solo para a produção de vinhos na região demarcada. A indicação também representa um marco de qualidade para a produção, que precisa, a partir de então, respeitar parâmetros mínimos para a elaboração de vinhos e espumantes.
Nos Altos Montes predomina o cultivo de uvas viníferas das variedades Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat, Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer e Trebbiano, Moscato Branco e Moscato Branco (clone R2), Malvasias, Moscato Giallo e Moscato de Alexandria. A região possui riqueza inigualável para quem busca boas opções de visitação. No roteiro é possível encontrar desde pequenas e acanhadas vinícolas, rodeadas por vinhedos, até alguns dos maiores ícones da arquitetura do vinho na América do Sul. Quase todas com um mesmo tempero especial: a boa receptividade de famílias que estão envolvidas com o universo do vinho há décadas. Além das vinícolas existem paisagens deslumbrantes de canions e vales de rios que cercam toda a região. Integram o roteiro dos Altos Montes as vinícolas Fabian, Fante, Luiz Argenta, Mioranza, Nova Aliança, Panizzon, Salvador, Terrasul, Valdemiz, Venturini e Viapiana.
A Indicação de Procedência deve ser publicada em breve pelo INPI, pois foi autorizada a Indicação de Procedência (IP) para a região vitivinícola dos Altos Montes. Agora os vinhos finos e espumantes das vinícolas da Associação dos Produtores de Vinhos Finos dos Altos Montes (Apromontes) produzidos na área delimitada dos municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua,, que passarem pelo criterioso processo de seleção irão apresentar o selo do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A instituição representativa dos produtores, com apoio de órgão de pesquisa e empresas especializadas, pleiteava a Indicação desde 2005. “A Apromontes foi criada em 2002 e desde então ocorreu um grande processo de transformação em nossas vinícolas e produtos. Foram realizados muitos investimentos em vinhedos, vinícolas e em enoturismo. Atualmente somos 11 vinícolas preparadas para receber bem e produzir ótimos vinhos. Esse será um marco em nossa histórica”, destaca o presidente da Apromontes, Deunir Argenta.
Além do esforço dos produtores associados à Apromontes, o reconhecimento da IP foi possível graças ao projeto financiado pela Embrapa, tendo como instituições executoras a Embrapa Uva e Vinho (coordenação geral), a Embrapa Clima Temperado, a Universidade de Caxias do Sul e Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ao todo, o projeto mobilizou uma equipe de 15 pesquisadores destas instituições. O trabalho ainda contou com apoio financeiro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo.
Segundo Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa que coordenou o projeto da IP Altos Montes, o reconhecimento é resultado da clareza de objetivos imposta pela associação de produtores, bem como cooperação com a equipe do projeto, que teve início em 2005 com o então presidente da Apromontes, Antonio Mioranza. Tonietto salienta que, muito embora a região fosse conhecida pela sua liderança na produção de vinhos de mesa, a primeira avaliação realizada em 2006 pela equipe da Embrapa mostrou o grande potencial que a região apresentava para o desenvolvimento de uma indicação geográfica de vinhos finos. Vendo o comprometimento dos produtores com a qualidade, através de investimentos em vinhedos, tecnologias enológicas e estrutura para o enoturismo, a Embrapa decidiu apostar na ideia e implementou o projeto. “Em poucos anos de trabalho já são visíveis os resultados obtidos com a produção de vinhos cada vez melhores, que conquistam o reconhecimento dos consumidores. Alguns produtos são históricos na região, como o Riesling Itálico, o Cabernet Franc e a Malvasia de Candia. Outros estão se firmando como novas descobertas, como é o caso da Ancellotta”, destaca Tonietto.
A produção dos vinhos da IP Altos Montes segue uma rígida normativa de controle, operacionalizada pelo Conselho Regulador da Apromontes, presidido por Daniel Salvador. Atualmente, 14 vinhos da safra 2012 já estão aprovados para receberem selos. Esses vinhos já passaram por análise de degustação dos membros do Conselho, pesquisadores da Embrapa e da Associação Brasileira de Enologia (ABE). “Em abril ou maio haverá degustação, análise e certificação dos produtos de 2013. Nessa safra o número de vinhos certificados deve dobrar devido ao melhor preparo das vinícolas para o envio de amostras”, destaca Salvador.
Os controles incluem os vinhedos (variedades autorizadas; produtividade controlada nos vinhedos e autorização de colheita com uvas maduras para valorizar a qualidade dos vinhos; origem da uva da região delimitada), a elaboração dos vinhos de acordo com padrões diferenciais constatados através análises químicas e sensoriais de todos os vinhos que irão para o mercado.Segundo Norberto de Barcellos, da Barcellos Marcas, empresa responsável pelo processo junto ao INPI, o pedido foi encaminhado à Delegacia Regional do Rio Grande do Sul no dia 13 de março de 2012. A partir de então não sofreu nenhuma exigência e tramitou normalmente. A publicação de deferimento ocorreu em 10 de dezembro de 2012, após uma tramitação rápida pelo órgão. “A tramitação foi muito rápida devido a exigência estabelecida em todas as etapas pela própria região produtora. Foi aprovado, aguardamos apenas uma notificação oficial e a entrega de certificações”, destaca Barcellos.
Localizada na região vitivinícola da Serra Gaúcha, no nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, a IP Altos Montes possui uma área delimitada contínua de 173,84 km2, ocupando parte do município de Flores da Cunha e parte do município de Nova Pádua, na margem esquerda do Rio das Antas. A área delimitada de fato faz jus ao nome Altos Montes, já que está localizada na porção mais alta da viticultura da Serra Gaúcha, com altitude média de 678m e montes que chegam a até 885 metros. Inclui as áreas de uso vitícola, sendo circundada por vales de menor altitude e altas declividades. Área com boa homogeneidade de fatores naturais, apresenta clima Temperado Quente encontrando-se nas áreas mais altas o clima Temperado. A Geologia corresponde a rochas vulcânicas, incluindo basaltos, riolitos, riodacitos e dacitos.
As classes de solos que ocorrem na região são de Argissolo Acinzentado, Cambissolo Háplico e Neossolo Litólico. Os estudos mostraram que a IP Altos Montes apresenta uma área de 14.616 hectares nas classes de solo de aptidão Preferencial e Recomendável para uso com viticultura, o que corresponde a 84% de sua área total. Dados do Cadastro Vitícola mostram que os municípios de Flores da Cunha e de Nova Pádua possuem um total de 1.967 propriedades vitícolas, cuja área média é de 12,7 ha, sendo utilizada basicamente mão-de-obra familiar. Cada propriedade cultiva, em média, 3,13 ha de vinhedos. Embora a viticultura de vinhos tintos ocorra na região desde os anos 1930, em particular pela ação da então Vinícola Rio-Grandense, a viticultura para vinhos finos e espumantes da Apromontes foi retomada sobretudo pelas vinícolas associadas, através da implantação de vinhedos de alta qualidade.
Regras da IP Altos Montes
A produção de vinhos da IP Altos Montes é feita de acordo com o que estabelece o Regulamento de Uso onde estão definidos, dentre outros:
a) Os produtos e variedades autorizadas:
- Para Vinho Fino Tinto Seco: Cabernet Franc, Merlot, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Ancellotta, Refosco, Marselan, Tannat;
- Para Vinho Fino Branco Seco: Riesling Itálico, Malvasia de Candia, Chardonnay, Moscato Giallo, Sauvignon Blanc, Gewurztraminer;
- Para Vinho Fino Rosado Seco: Pinot Noir, Merlot;
- Para Vinho Espumante Fino Branco ou Rosado: Riesling Itálico, Chardonnay, Pinot Noir, Trebbiano;
- Para Vinho Espumante Moscatel Branco ou Rosado: Moscato Branco, Moscato
- Branco – clone R2, Malvasias, Moscato Giallo, Moscato de Alexandria.
b) No mínimo 85% da uva utilizada deve ser proveniente da área delimitada;
c) A produtividade máxima autorizada e a graduação mínima da uva para vinificação:
- Para vinhos finos tintos secos (estruturados): 8,0 t/ha e 19ºBabo;
- Para vinhos finos tintos secos (jovens): 9,0 t/ha e 18ºBabo;
- Para vinhos finos brancos secos: 8,0 t/ha e 18ºBabo;
- Para vinhos espumantes finos brancos ou rosados: 10,0 t/ha e 15ºBabo para as uvas brancas autorizadas e 9,0 t/ha e 15ºBabo para a variedade tinta Pinot Noir;
- Para vinhos espumantes moscatéis brancos ou rosados: 13,0 t/ha e 14ºBabo.
d) Os vinhos finos brancos e os vinhos espumantes varietais têm na sua composição 100% da uva do respectivo varietal.
e) A elaboração, envelhecimento e engarrafamento dos produtos deve ocorrer dentro da área geográfica delimitada;
f) Todos os lotes de vinhos são rastreados sob o controle do Conselho Regulador da IP; ainda, nenhum vinho pode ir para o mercado sem passar pelo crivo da comissão de degustação que avalia, às cegas, a qualidade dos produtos.
Fim da 1ª parte.
Como estou me preparando para embarcar para São Paulo, onde assistirei o desfile de carnaval da Vai Vai, que apresentará um enredo relacionado com o vinho, graças ao Ibravin e várias vinícolas, encerrarei por aqui o relato da viagem pelo Vale dos Vinhedos e pelos Altos Montes. Reiniciarei depois do carnaval. Ainda há muito para contar e comentar sobre as vinícolas, seus proprietários e seus vinhos. Até então.
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Um comentário:
Parabéns pela cobertura da Vindima, completa e pontual, muito boa, abraços, Cristina Bielecki Jornalista e Assessora de Imprensa, São Paulo-SP
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