terça-feira, 1 de março de 2011
Campanha, uma Nova Califórnia
Afrânio Moraes Filho é o presidente da Associação dos Produtores de Vinha da Campanha
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O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos da Campanha, Afrânio Moraes, explicou que a refigião é uma nova fronteira vitivinícola que já figura como a segunda maior região produtora de vinhos do Brasil. Compreende os municípios de Santana do Livramento, Bagé, Candiota, Quarai, Dom Pedrito, Itaqui, Rosário do Sul, Uruguaiana e Alegrete.
Região de solos arenoso/argilosos, com baixa fertilidade natural e boa drenagem, tem uma topografia que apresenta pequenas ondulações (as coxilhas) que permitem a ação dos ventos, eliminando parte da umidade. No verão, há déficit hídrico, que começa a ser corrigiido com irrigação por gotejamento. Mas o stress hídrico – 100 mm de deficiência anual – acontece no período da maturação e favorece o acúmulo de açúcar e acresce a qualidade das uvas. A Campanha é dotada de solos profundos (1,5 a 2 m), o que desenvolve o sistema radicular das plantas e melhora o aproveitamento de água e nutrientes.
A região é de clima subtropical de noites tempreadas com invernos rigorosos, verões quentes e secos, com amplitude térmica (diferença entre a temperatura do dia e a da noite) superior a 12° C, fator importante para a boa maturação da uva. Está situada no Paralelo 31, o mesmo no qual, em outras regiões do Hemisfério Sul, se elabora alguns dos grandes vinhos: Santiago, no Chile; Mendoza,na Argentina; Stellenbosch, na África do Sul; e Nova Gales do Sul, na Austrália. A região é forte pólo pecuário de gado de raças européias – hereford, angus, devon – e agrícola, com culturas como arroz, milho, soja, sorgo, que se somam aos bovinos e ovinos.
De acordo com o Cadastro Vitícola de 2009 – hoje, os números são bem maiores, pois o desenvolvimento dos últimos dois anos foi extraordinário – existem 1.300 hectares de vinhedos, predominando a uva cabernet sauvignon (361 hectares), cultivados por 150 produtores, que já são responsáveis por 15% da produção de uvas para vinhos finos do País. O enólogo Adriano Miolo garante que esta participação já é muito maior. Hoje, a Campanha produz 8 milhões de litros de vinhos finos/ano e pretende chegar aos 15 milhões de litros/ano em cinco anos.
Em 2010, as vinícolas Almadén, Seival Estate, Vinhobles Routhier & Darricarrère, Corilheira de Sant´Ana, Peruzzo, Vinhos Rio Velho, Campos de Cima, Aliança, Guatambu, Três Cerros, Vinoeste, Dom Pedrito Rigo Vinhedos, Irmãos Camponogara, Bella Vista Estate e Associação Quaraiense de Fruticultores criaram a Associação Vinhos da Campa, cujo presidente, Afrânio Moares, ressalta: “O objetivo da associação é organizar a cadeia vitivinicola, valorizar a região e buscar o reconhecimento, atravé da indicação de Procedência e depois a Denominação de Origem”.
Hoje, a Região da Campanha está explodindo em novos empreendimentos vitivinicolas e, por isso, Adriano Miolo, a chama de Nova Califórnia, mas, desde o século XIX, ela já conhecia videira. O botânico francês Saint-Hilaire, em visita de estudos à região, comentou a possibilidade de adaptação da cultura da videira na Campanha. No final daquele século, o italiano João Remedi instalou vinhedo e cantina em Sant´Ana do Livramento, trabalho que não foi continuado por seus descendentes.
Na década de 1940, o professor norte-americano Harold Olmos, da Universidade de Davis, veio à região e mostrou que ela era uma das melhores para o cultivo de viníferas nobres do mundo. Como a produção vitifinera estava concentrada na serra gaúcha, completamente diferente em matéria de solo e clima, muitos não se importaram com seus estudos. Na década de 1970, estudos mais detalhador, referenciados pela mesma universidade de Davis (USA), mas com participação de técnicos brasileiros do Instituto Agronômico de Pelotas (RS) e da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, comprovaram que a Campanha tem os fatores edafoclimáticos à vitivinicultura e deram as bases para experiências do grupo multinacional National Distillers, primeiro em Bagé, depois em Livramento, onde eles fundaram a Almaden, em 1973, plantando mudas em 136 hectares de uma área total de 1.200 hectares que adquiriram na localidade de Palomas, onde existe o Cerro de Palomas, símbolo do município, e que por mais de 30 anos ilustrou os rótulos dos vinhos Almaden.
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