O
deputado Sérgio Turra (PP) homenageou, no Grande Expediente da Assembleia
Legislativa do Rio Grande do Sul desta terça-feira (5), a vitivinicultura
gaúcha e concedeu a Medalha do Mérito Farroupilha ao pesquisador e empresário
Rinaldo Dal Pizzol. O parlamentar lembrou que o Rio Grande do Sul, apesar da
vocação agropastoril, perdeu a liderança na produção de carnes e de grãos, mas
mantém a hegemonia no cultivo da uva e na fabricação de vinho. “Temos a maior
área cultivada com vinhedos do País. São 40 mil hectares e mais de 680
vinícolas em atividade”, contabilizou.
Do Rio Grande do Sul, saem 90% do vinho nacional
consumido pelos brasileiros. São 230 milhões de litros por ano, além dos 73
milhões de litros de suco de uva. O consumo per capita de vinho no Estado é de
quase 8 litros ao ano. “Ainda é pequeno se comparado ao de regiões vinícolas
tradicionais, como Bordeaux, Toscana ou Mendoza. Mas é quatro vezes superior à
média brasileira, que não chega a dois litros por habitante ao ano”, comparou.
Além da Serra Gaúcha, principal área vitivinícola, outras
regiões, como Campanha, Serra do Sudeste, Alto Uruguai, Missões e Campos de
Cima da Serra, vêm investindo na implantação de vinhedos como alternativa à
pecuária ou a produção de grãos. “E os vinhos que elaboram já começam a ser
premiados em concursos nacionais e internacionais”, revelou o parlamentar.
Turra ressaltou que, embora situadas dentro do mesmo
Estado, estas novas fronteiras da vitivinicultura gaúcha diferem completamente
em topografia, solos e microclimas, e por isso seus vinhos já apresentam
personalidades próprias, inclusive, quando elaborados com as mesmas variedades
de uvas. “Uma diversidade de estilos, aromas e sabores que encanta consumidores
e especialistas com espírito aberto ao novo”, frisou.
É para essas regiões, com verões mais secos e terras mais
planas, conforme lembrou o deputado, que algumas das maiores e mais
tradicionais vinícolas da Serra Gaúcha estão expandindo seus vinhedos. “Cada
vez mais, nos tornamos um estado vinícola, como a Califórnia, nos Estados
Unidos, ou a Província de Mendoza, na Argentina”, apontou.
Abrangência social
A vitivinicultura gaúcha congrega 100 mil gaúchos, mantém
20 mil famílias de pequenos agricultores com renda estável no campo, gera quase
três mil empregos diretos e milhares de outros indiretos, além de movimentar 1%
do PIB estadual e fortalecer a economia dos pequenos municípios. “O turismo
ligado ao vinho traz mais de um milhão de visitantes todos os anos a lugares
como o Vale dos Vinhedos, os Caminhos de Pedra, a Rota das Cantinas Históricas,
a Estrada do Sabor ou a Rota dos Espumantes, nos municípios de Bento Gonçalves,
Garibaldi, Pinto Bandeira, Flores da Cunha, Caxias do Sul, Antônio Prado e
outros”, enumerou.
O deputado fez menção ainda à qualidade dos vinhos
gaúchos, revelando que conquistaram mais de duas mil medalhas em concursos
nacionais e internacionais. “Fazemos bons vinhos tintos, ótimos vinhos brancos
e excelentes espumantes. Nossos vinhos borbulhantes posicionam-se, atualmente,
entre os melhores do Velho Mundo ao lado dos espanhóis, italianos e franceses e
são, seguramente, os melhores do Novo Mundo”, comemorou.
Pouca ajuda estatal
Turra afirmou que o setor vitivinícola gaúcho se
organizou com pouca ajuda estatal. “Todo o complexo industrial, gastronômico e
turístico que cresceu em torno da uva e do vinho foi construído com muito
trabalho e quase sempre com recursos privados”, ressaltou.
Lembrou, também, que o Rio Grande do Sul é o único ente
federativo que reserva uma data especial em seu calendário oficial de eventos
para homenagear a bebida: O Dia do Vinho, instituído pela Assembleia
Legislativa e comemorado sempre no primeiro domingo de junho. É também o único
Estado brasileiro que abriga cinco regiões vinícolas demarcadas, nos mesmos
moldes das que existem na Europa há séculos. “O processo de certificação destas
áreas começou há pouco mais de dez anos com o Vale dos Vinhedos, em Bento
Gonçalves, a primeira Indicação Geográfica concedida pelo Instituto Nacional de
Propriedade Industrial a uma região vinícola”, sublinhou.
Atualmente, além da Denominação de Origem do Vale dos
Vinhedos, reconhecida internacionalmente, o Rio Grande do Sul já tem as Indicações
de Procedência de Pinto Bandeira, dos Altos Montes, em Flores da Cunha e Nova
Pádua, de Monte Belo do Sul e de Farroupilha. E outras regiões, como a Campanha
e os Campos de Cima da Serra, também já se mobilizam para obter a certificação
do INPI, que confere identidade e agrega valor a produtos agroalimentares.
Foi só no início da década de 1990 que pesquisadores
franceses descobriram que o vinho poderia fazer bem ao sistema cardiovascular
humano. A descoberta, que ficou conhecida como o Paradoxo Francês, mostrou que,
embora os franceses se alimentassem com uma dieta rica em gorduras, com patês,
queijos e manteiga, eram insignificantes os danos causados pelo colesterol.
“Isso porque o coração dos franceses estava protegido pelo resveratrol e por
outras substâncias benéficas contidas no vinho tinto”, afirmou, salientando que
o vinho é um alimento que, se consumido com moderação e sem restrição médica,
pode tornar-se importante complemento à dieta.
Ele alertou que, quando o vinho também for considerado como
alimento pelos governos, será possível reduzir a tributação que onera
produtores e consumidores. “Hoje, 55% do valor de uma garrafa de vinho é
composto de impostos de vários tipos, em cascata. Isso sem falar na questão da
substituição tributária, que penaliza a produção gaúcha na guerra fiscal com
outros Estados”, criticou.
Segundo o deputado, para agravar ainda mais ainda o
quadro, num ano em que o Rio Grande perdeu 65% de sua safra de uva para geadas
extemporâneas, chuva em excesso e granizo, o governo federal ainda aumentou o
Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) do vinho de 76 centavos por litro
para dez por cento do valor da garrafa. “Com este aumento do IPI, em vigor
desde o início deste ano, um vinho de 40 reais, por exemplo, que recolhia 76
centavos de imposto, passou a pagar R$ 4,00”, revelou.
Liderado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), o
setor pleiteia a redução da alíquota para 6%.
No final do Grande Expediente, Turra entregou a Medalha
do Mérito Farroupilha, a mais alta insígnia concedida pelo Parlamento gaúcho,
ao estudioso da vitivinicultura gaúcha Rinaldo Dal Pizzol.
Natural de Bento Gonçalves e economista por formação, Dal
Pizzol dirige empresas do setor desde 1960. Presidiu a União Brasileira de
Vitivinicultura (Uvibra), foi vice-presidente da Festa Nacional do Vinho, em
Bento Gonçalves, e da Festa Nacional do Champanhe, em Garibaldi. Atua como
consultor de empresas no Brasil e no exterior e é diretor da Dal Pizzol Vinhos
Finos, de Bento Gonçalves.
O homenageado é um dos autores da obra Memórias do Vinho
Gaúcho, a mais completa referência sobre a Vitivinicultura Gaúcha, com Sérgio
Inglez de Souza, e do livro Paisagem do Vinhedo Rio-Grandense, em parceria com
o antropólogo espanhol Luiz Vicente Elias Pastor. “O trabalho de Rinaldo Dal
Pizzol como estudioso da nossa vitivinicultura convergiu para a criação do
Instituto Dal Pizzol, ao qual está ligado o Ecomuseu da Cultura do Vinho, que
abriga o Vinhedo do Mundo, uma das maiores coleções privadas de videiras das
Américas, com cerca de 400 variedades diferentes, oriundas de cinco continentes
e 30 países”, finalizou o deputado.
Também se manifestaram, por meio de apartes, os deputados
Frederico Antunes (PP), Ronaldo Santini (PTB), Zilá Breintenbach (PSDB), Adão
Villaverde (PT), Vilmar Zanchin (PMDB), Vinícius Ribeiro (PDT), Elton Weber
(PSB) e Missionário Volnei (PSC).
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