sábado, 4 de dezembro de 2010

Michel Rolland e o vinho brasileiro

Michel Rolland e Danilo Ucha degustando um espumante da Miolo
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Deu um crepe no meu out look e ele foi para o espaço – por isso, várias pessoas deixarão de receber o Blog,principalmente os mais novos inscritos, até que elas entrem em contato comigo e peçam para ser colocadas na lista novamente. Em função disso, tive que chamar um técnico e ele tentou remediar a situação. Salvou alguma coisa,mas, curiosamente, só as mensagens mais antigas. A deste ano e destres últimos meses não retornaram.
Nesta salvação de mensagens antiga, veio uma velha entrevista da minha amiga Bete Duarte, de Zero Hora, de Porto Alegre, com o enólogo francês Michel Rolland. Nós os dois estávamos juntos e eu também fiz a entrevista. Mas publiquei, à época,e não me lembro mais dos detalhes. Mas, a da Bete, estava nos meandros do meu computador e vale a pena ser lida, novamente, para algumas reflexões sobre o vinho brasileiro.
Ei-la:
Bete Duarte - Há cinco anos, o sr. disse que o vinho brasileiro era inexpressivo e que o país precisava melhorar muito para alcançar destaque no mercado internacional, o que causou um mal-estar entre os vinicultores nacionais. O sr. continua com a mesma opinião?
Michel Rolland - Sinto muito por eles, mas continuo. Acredito que o Brasil tem condições de ter bons vinhos, mas não pode continuar elaborando vinhos de baixa qualidade. Além disso, o vinho brasileiro não tem expressividade no mercado mundial. Isso leva muitos anos para se alcançar. O Brasil tem muita sorte de ter mercado doméstico muito bom e grande. Mas, em nível internacional, o Brasil não existe como produtor de vinhos, apesar de ter alguns vinhos bons. Isto porque leva muito tempo para que as pessoas considerem os vinhos de um país bons. Precisa tempo. Precisa que as pessoas conheçam, bebam e aprovem.
Bete Duarte - Qual foi a sua primeira impressão a respeito do vinho nacional? E ela mudou?
Michel Rolland - Meu primeiro contato com o vinho brasileiro foi no Rio de Janeiro, em 1982, quando vim passar um Carnaval. E não tenho boas recordações. Não lembro que vinho era. Tomei uma vez, e não tomaria outra. Atualmente, acho que isso mudou sim. Quem tomar uma garrafa de uma boa vinícola certamente tomará outra. O que não faria há 15 anos.
Bete Duarte - Então, por que a imagem do vinho brasileiro, na sua opinião, continua a mesma?
Michel Rolland - Porque são necessários cerca de 10 anos para formar uma imagem de um vinho. Um exemplo disso é a Argentina, que levou cinco anos para conseguir ser visto como um país produtor de bons vinhos. O mesmo aconteceu com a Austrália, que conseguiu fama nos anos 90, mas estava trabalhando há 20 anos por esse reconhecimento.
Bete Duarte - O sr. considera os prêmios internacionais importantes?
Michel Rolland - Mal não fazem. Mas não suficientes, até porque os que ganham medalhas estão concorrendo com as amostras que foram inscritas naquele prêmio, mas não com todos os vinhos do mercado. É preciso muito mais coisa para avaliar a qualidade de um vinho. Mas as medalhas sempre ajudam.
Bete Duarte - O que o sr. acha dos vinhos de butique, vendidos quase como jóias?
Michel Rolland - Existem vários níveis de mercado. O mercado global importa milhões de garrafas. Mas há sempre um mercado restrito, com poucos consumidores, que buscam esses vinhos mais elaborados. É fácil produzir bons vinhos, o mais complicado é conseguir vender. O Brasil tem que conquistar o mercado externo, mas há muita concorrência. É preciso conhecer bem os concorrentes e o gosto dos consumidores.
Bete Duarte - Na sua opinião, qual a melhor região produtora de vinhos brasileiros?
Michel Rolland - Considero o Vale dos Vinhedos como a de maior potencial. O Vale do São Francisco, no Nordeste, é mais um negócio. De lá, não se pode esperar vinhos espetaculares. Vacaria tem bons solo e clima. Lá, podem ser produzidos bons Chardonnay, Pinot Noir e Merlot, mas não Cabernet Sauvignon. O vinhedo de Raul Radon, que produz o RAR, é o mais bonito do Brasil hoje.Na região da Campanha, os vinhedos são jovens. A Touriga Nacional e as variedades portuguesas resultam em bons vinhos, de personalidade. Mas o Vale dos Vinhedos tem mais história e expressão, o clima e solo são adequados. O Merlot que elaborados no Vale foi muito bem trabalhado. Selecionamos as uvas com todo o cuidado. Acredito que seja um dos melhores que elaboramos.
Bete Duarte - Na sua opinião qual o melhor tipo de vinho do mundo?
Michel Rolland - Não se impõe um tipo de vinho. É o gosto pessoal que vai fazer decidir. Mas o mais exitoso, na minha opinião, é o Malbec argentino. Só não sei até quando. Porque, por exemplo, a Austrália, que fez muito sucesso com o Shiraz, está enfrentando problemas, principalmente porque os Estados Unidos trancaram o consumo desse vinho. Na África do Sul, o Cabernet Franc está crescendo, mas falta expressão.
Bete Duarte - E o sucesso do Cabernet Sauvignon, preferido pelo menos no Brasil?
Michel Rolland - O Cabernet Sauvignon é o mais famoso, o mais vendido em todo o mundo. Porém, é consumido por gente que não está muito preocupada com qualidade. No Brasil, o Cabernet Sauvignon não é de melhor qualidade. É o mais fácil de fazer, o mais resistente. É muito fácil fazer um vinho correto. Mas o Merlot tem mais potencial. Elaborar Merlot no Brasil sim tem futuro.
Bete Duarte - Existe uma nova região no mundo que seja promessa para o futuro?
Michel Rolland - A região promissora fica ao redor do Mar Negro. É a Bulgária, a Romênia, a Rússia. Lá, os solos são muito bons.
Bete Duarte - Como o sr. vê o Sesmarias, vinho da Fortaleza do Seival, em Candiota, lançado hoje?
Michel Rolland - Esse vinho vai ser o ícone do Seival. É a primeira experiência do Brasil de fermentação integral em barricas. As barricas são giradas todos os dias. As uvas foram selecionadas, com uma produção de menos de 1kg por planta. De 10 vinhos varietais produzidos na propriedade, seis são escolhidos para compor o corte do Sesmarias. A ideia é que a cada ano tanto os vinhos quanto as suas proporções sejam diferentes, para atingir o que houver de melhor.Esse vinho ainda não tem preço, mas ele surgiu a partir da ideia de Top 100, um vinho com preço próximo aos 100 dólares. Para falar de um bom vinho, é preciso falar de um que envelheça bem. Serão 4.400 garrafas, mas o vinho ainda deve ficar uns cinco meses em barricas. O recomendado é que seja tomado daqui a 5 anos ou mais. Ele deve durar uns 10 anos. Acredito que daqui a 4 ou 5 anos, esse Sesmarias será o melhor vinho do Brasil.”
Em tempo, Michel Rolland continua dando assessoria ao Miolo Wine Group. O enólogo Adriano Miolo gosta muito dele.

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