Meu parceiro de viagem ao Chile, à convite da Vinícola Ventisquero, Jomar Brustolin, escreveu um belo texto sobre a viagem. E prometeu, para mais adiante, uma exposição sobre os vinhos que provamos. Ele escreve no site QVinho.com.br:
“Estive recentemente no Chile a convite da Viña Ventisquero para comemorar os seus 10 anos de vindima. Antes de viajar recebi da assessoria de imprensa um roteiro completo, logo percebi que essa ação tinha um mote: Explorando os terroirs chilenos ao estilo Ventisquero. O meu lado marqueteiro ficou atiçado, gosto de empresas ousadas, que valorizam seus produtos e fazem um bom marketing. Como crítico de vinhos fiquei um pouco desconfiado, afinal terroir é um conceito bastante vago quando não é contextualizado. Pensei comigo, como seria o estilo Ventisquero? Como o tal estilo poderia influenciar a qualidade dos vinhos? As respostas não demoraram a aparecer, muito embora precise abrir um parenteses antes de começar a relatar sobre a Ventisquero.
Atualmente o Chile está vivendo um processo de consolidação de qualidade, que na realidade já está em curso há alguns anos, mas que só começou a ficar claro recentemente. O Chile quer ser visto como berço de vinhos de alto padrão, não somente como um país que produz cabernets e merlots de excelente relação qualidade / preço. Mostrar diversidade é parte fundamental desse processo, por isso todas as vinícolas sérias estão pesquisando e correndo atrás de novos terrenos, para que o mundo perceba que um Carmenere de Apalta é bem diferente de um Cabernet do Alto Vale de Maipo. Não é fácil, exige muito estudo, experimentação e, principalmente, capital investido. Já esbocei o tema da pesquisa sobre os terroirs chilenos quando escrevi sobre a Casa Marin e a Viña Errazuriz.
A Ventisquero, assim como outras vinícolas de respeito, também investiu (e continua investindo) pesado na questão da diversidade. Na prática, significa ter vinhedos em diferentes localidades, com variedades adaptadas a cada parcela de terreno. São poucas as vinícolas que podem se orgulhar de possuir vinhedos próprios em Maipo Costa, Casablanca, San Antonio e Colchagua. Neste último vale a Ventisquero dispõem de um amplo leque de opções de clima e de solos. Os vinhedos de Apalta, Lolol e Peralillo podem fornecer uvas para um delicado Gewurztraminer, ou ainda para um encorpado e suculento Carménère, tudo vai depender do terroir de origem. Nesse ponto já estava levando a sério o mote Explorando os terroirs chilenos ao estilo Ventisquero.
O trabalho de cultivar a uva certa no terreno certo já aparece no copo, evidenciando vinhos com diversidade de aromas e sabores. Ponto para o estilo ousado e dinâmico da Ventisquero, afinal é muito dinheiro investido em áreas que nunca haviam sido cultivadas. Vale a ressaltar o fantástico vinhedo do Pangea e do Vertice, terraças esculpidas numa bela encosta de Apalta, onde a Syrah parece ter encontrado o lugar ideal. Acredito que o Aurélio Montes, da Viña Montes, foi o primeiro cara a enxergar o potencial das encostas de Apalta para a Syrah, embora a Ventisquero, com a perspicácia de Felipe Tosso e a consultoria do célebre enólogo John Duval, parece estar traçando um caminho todo próprio. A prova disso é o Vertice, um vinho feito com Syrah e Carménère, que ao contrário do senso estabelecido de que o melhor Carménère de Colchagua provém das planices quentes, é feito com uvas plantadas nas encostas de Apalta. Um momento marcante da viagem ocorreu na visita ao vinhedo de Apalta, onde o enólogo Felipe Tosso serviu às cegas três amostras de barrica da safra 2009. Disse apenas que eram todas da mesma variedade e do mesmo vinhedo, embora de setores diferentes. Depois pediu para os convidados (estava com outras 8 pessoas, entre sommeliers e jornalistas) arriscarem um palpite sobre a variedade de uva. Eu falei de pronto que era Carmenere, mas com certo receio, afinal aquelas amostras eram bem diferentes de um Carménère qualquer. A maioria apostou na Syrah, com alguns arriscando na Merlot. Era de fato Carménère, de parcelas de diferentes solos e níveis de elevação nas encostas de Apalta, como revelou Tosso logo em seguida. As três amostras eram parecidas, mesmo assim com certos aspectos de diferença que podem ser atribuidos ao terroir. Gostei do Carménère da parte mais elevada de Apalta, surpreendentemente fresco (para um carmenere recém saido da barrica) e mineral, poderia tranquilamente ser engarrafado como um single vineyard. As amostras que provei ainda estão em barrica e farão parte da mistura final do Vertice 2009.
Outro ponto alto da viagem foi a degustação dos vinhos Ramirana, uma nova marca que a Ventisquero está lançando pelas mãos do enólogo Alejandro Galaz. O conceito é aproveitar os vinhedos mais costeiros, com influência dos ventos frios do pacífico, para assim conseguirem elaborar vinhos frescos e com boa acidez natural. Alejandro é o cara certo no projeto certo, conhecido pelo seu trabalho como enólogo chefe na Amayna, é um fã confesso da Pinot Noir e dos vinhos brancos em geral. Os vinhos Ramirana são mais frescos, com menos álcool e menor influência do carvalho.
Toda a produção da Ventisquero é concentrada na localidade de Trinidad, em Maipo Costa, com todos aqueles requintes que uma vinícola moderna deve ter. A preocupação com o meio ambiente também é constante, a utilização racional da água, a preservação de bosques nativos e outros inúmeros procedimentos garantem uma mínima intervenção na natureza. Em 10 anos de vindima a Ventisquero evoluiu bastante e continua mostrando fôlego para ir ainda mais longe.
* Em breve um post com a avaliação dos vinhos que provei nessa viagem.”
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
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