quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Vinho verde no Brasil




Em Santos, os contêineres com vinho também ficam ao sol, esperando a liberação da alfândega
Foto Ricardo Nogueira/Folhapress, publicada na Folha de S. Paulo

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O crítico de vinhos do Jornal da Noite, Olyr Corrêa, tomou uma folga do jornal e escreve para o Blog, aproveitando a deixa dos vinhos verdes sobre os quais falei na edição anterior. Vamos ler o que ele escreve:
“O problema dos vinhos verdes no Brasil chama-se Equador.
Um vinho verde é gostoso de tomar, como você ressalta, fresco e recém engarrafado. Aí ele conserva toda aquela acidez, o frescor e a sua tão característica agulha.
Mas, Portugal fica no Hemisfério Norte. E nós estamos no Hemisfério Sul!
Viajar do norte para o sul significa atravessar o equador.
Lá, onde o sol é padrão, a temperatura fica acima dos quarenta. Vinho verde nenhum aguenta e é cozinhado na casca.
A não ser que venha de avião. Mas, devido ao preço (tanto de custo como de venda) isto se torna impossível.
Da mesma forma o uso de “reefers” (contêineres refrigerados) . Estes custarão em média 25 Euros (R$ 55,00) para caixas de 12 garrafas, do Porto até Santos.
Ora, um vinho verde comum de boa qualidade (tipo Muralhas de Monção) custa lá seus 2,5 Euros. Já entraria no navio custando 5 Euros ou uns R$ 12,00.
E olha que o custo do “reefer” é por um determinado número de dias estimado para transporte. Acabaram os dias, acaba o diesel no reservatório e o “reefer” vira o contrário, uma estufa!
Experimenta fazer um negócio destes e mandar para o porto de Santos, onde às vezes se espera 40 dias para descarregar!
Depois disso fica numa fila ao sol, esperando ser alfandegado e transportado para o destino final. Nestas alturas, o diesel acabou há muito tempo.
Tive oportunidade de presenciar a abertura de um desse contêineres, que ficou uns 7 dias no porto do Rio sem refrigeração, por uma seguradora. O bafo quente que saiu na abertura fez todo mundo recuar.
Ali dentro estava a 60ºC e algumas garrafas tinham expulsado a rolha.
A seguradora tinha sido chamada porque o vinho havia vazado para fora do contêiner e o importador percebeu o que ocorrera e chamou a seguradora para presenciar a quebra do lacre e a abertura.
Mas, de qualquer forma, 95% dos vinhos de baixo preço vem em contêineres “dry” (não refrigerados) e geralmente no deck do navio. E levam uns 5, 6 dias para atravessar o equador.
Por isso a compra de vinho verde (mesmo sendo do ano e chegado aqui no inverno) no Brasil é uma roleta, na qual você apostou em um só número.
A defesa dos produtores e importadores foi filtrar estéril o vinho, colocar muito SO2 e parar a fermentação antes de acabar o açúcar ou mesmo agregá-lo depois.
Daí o porque da existência dos Casal Garcia, Gatão, Casalinho e Acácio. Mas estão muito longe do que realmente caracteriza um vinho verde.
Por isso que os patrícios por aqui dizem “o vinho que se toma no Brasil não é o mesmo de Portugal”.
Bom, e aí? Teremos de ir a Portugal para beber um bom vinho verde?
Acho que sim, pois as nossas chances de beber algo em condições impecáveis são muito pequenas. Ou alguém trás para nós no avião ou teremos que pagar mais de R$ 50,00 numa boa importadora, que traga observando todos os perigos e tomando todas as precauções.
Mas há uma outra alternativa.
No Uruguai, há dois bons vinhos verdes, nos extremos baixo e alto dos preços para o consumidor:
Pisano Verde Vírgen: incrível frescor e acidez. Perfeito para o verão no lugar da cerveja. Acompanha frutos do mar, sardinha, atum e aperitivos de maneira sensacional. R$ 11,00 no Uruguai.
Bouza Albariño: aqui um vinho mais sério, equivalente aos melhores Alvarinhos, como o Palácio da Breijoeira, o Dona Paterna, o Deu-la-Deu e Quinta do Regueiro. Anda lá pelos R$ 50,00 mas é muito boa relação preço x benefício. Para acompanhar pratos mais elaborados de frutos do mar, jamón serrano e queijos azuis e amadurecidos.

Um abraço,
Olyr Corrêa

P.S. Achou o artigo da Proletarização do Gosto? Morreu dentro de um HD meu e não tenho cópia. E os arquivos da Vinho Para Quem Gosta de Vinho foram para o brejo.
Resposta

P.S. 2 - Para ilustrar os problemas com as importações de vinho da Europa, em especial, os vinhos leves e frágeis, como o verde, saiu, dia 7, uma reportagem Folha de São Paulo que afirma estar o tempo médio de liberação de um contêiner em 17 dias. Uma viagem Porto-Santos, dependendo das paradas, dura entre 10 e 15 dias.

2 comentários:

Rodrigo Maianrdi disse...

Caro Danilo,

Achei sei artigo muito oportuno, mas pode levar a um engano. Algumas importadoras, como a Mistral, transportam e mantém os containers refrigerados até os vinhos chegarem no estoque, que também é refrigerado. Assim não passam este tempo no sol. Faça uma experiência e prove o nosso Soalheiro!

Abraço,

Rodrigo Manairdi

OC disse...

Quanto custa o Soalheiro?

olyr