Morei algum tempo em Portugal, quando jovem sem muito dinheiro, e costumava beber vinho verde, em copo, nas tascas que, então, existiam nas ruelas paralelas à avenida Liberdade. Lembrei-me disso, com saudade, dia 29 de novembro, quando fui até o Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre, participar de uma degustação de vinho verde promovida pela Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verde, sob coordenação do enólogo português António Cerdeira e do crítico e comentarista brasileiro de vinhos Marcelo Copello, a quem eu já havia ouvido, na semana anterior, durante uma palestra de comparação entre vinho e cinema, no restaurante Chez Philippe, do meu amigo chef Philippe Remondeau. Foi de manhã, às 10h30min, mas valeu a pena.
O Brasil é o 7º mercado do vinho verde no mundo e os portugueses, que mandam para cá 500 mil litros/ano, querem aumentar este volume, no mínimo, em 10%, em 2011. Por isso, é que estão realizando estas degustação pelo país, pois o consumo se concentra, hoje, no Rio e São Paulo, segundo Cerdeira. Estão visitando Porto Alegre, Belo Horizonte e algumas capitais do nordeste.
Copello explicou o que é um vinho verde e porque se chama assim. Confesso que achei a explicação meio insossa. Eu queria mais história, mais lenda, mas mistério. Copello e Cerdeira garantiram que se chama “vinho verde” porque “a região onde é produzido é muito verde”. Confesso que esperava mais. Disseram que qualquer outra explicação é história. É um vinho muito leve, bebido, pelo menos, desde 138 Antes de Cristo. É, também, um vinho de baixo teor de álcool, de 8% a 11,5%, produzido por cerca de 27 mil produtores, os quais ocupam cerca de 30 mil hectares com suas vinhas. Há mais de 1000 marcas de vinhos verdes. A produção é de 84.531.610 litros/ano, sendo 62 milhões de litros brancos. Pode ser branco, tinto, rose e espumante.
A degustação começou com um Quinta da Lixa 2009, 60% loureiro e 40% trajadura, 11,5% de álcool, frutado com notas florais destacadas, seco, elegante, persistente, com fresco e volume em boca, acidez e maciez,ideal para acompanhar pato com laranja, cozinha tailandesa e terrine de foie gras. Depois, experimentamos um Estreia Loureiro 2009, de Ponte da Barca, 100% loureiro, e um Loureiro 2009, da Adega Cooperativa de Ponte de Lima, resultado de um clima mais Atlântico. O primeiro tinha mais fruta, o segundo menos flor.
O 4º vinho, foi um Quinta de Gomariz Grande Escolha Verde 2009, com trajadura, alvarinho e loureiro, de estilo mais novo mundo, com mais álcool (11,5), mais tropical e mais açúcar residual . Sente-se bem as frutas tropicais no aroma, maracujá, abacaxi e limão, ervas aromáticas, com excelente equilíbrio entre acidez e maciez, isto é, com frescor acentuado. Um vinho ideal para acompanhar cordeiro com pouco alecrim, talvez com damasco, ou cordeiro só selado na chapa quente, cru por dentro, com pouco molho, a não ser seu suco.
Depois, degustamos um alvarinho – Quinta da Aveleda Alvarinho Follies 2009 -, nas cido de um bom solo, com muito sol, sofrimento, sabedoria e sossego, com frutas amarelas maduras, pêssego, lixia, manga, abacaxi, laranja, maracujá. Alcool de 11,5%. Um vinho fresco, encorpado, aromático e bem estruturado, ideal para pratos condimentados, maricos, peixes grelhados, ostras frescas, risoto à milanesa, escargots, chucrute, rãs, espaghetti com frutos do mar.
Também provamos os rosés, com aroma de frutos vermelhos, principalmente morango, framboesa e cereja, cor clara; ou os de cor mais carregada, com aroma de groselhas, mirtilo e morango. São bons os vinhos rose com uva espadeiro Quinta do Gomaris.
O 6º, foi um Quinta das Arcas, 100% espadeiro, com 11,5% de álcool, um rose da nova geração, com frutos vermelhos, bem frutado e fresco, aromas de morango e framboesa, paladar equilibrado. Bom para acompanhar atum mal passado, sopa de peixe, ovas de salmão, paella de mariscos e sobremesas não muito doces.
Os verdes tintos, segundo Cerdeira e Copello, elaborados com uvas pisdadas, são consumidos na própria região produtora, no Minho, e pouco exportados. Mas são ideais para acompanhar lampreia, bacalhau com migas, cabrito, cordeiro, cozidos à portuguesa, papas de sarrabulho, rojões à moda do Minho. Leitão assado, cassoulet (a feijoada francesa) e a própria feijoada brasileira. Têm muita cor, pouco álcool, menos calorias, maior refrescância e mais possibilidades de harmonização.
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