Sobre o preço do vinho brasileiro
Sílvia,
bem-vinda à esta briga sem glória e sem esperança de sucessos.
Alguns poucos tentamos há anos sensibilizar produtores, comerciantes e governo para a triste situação que tão bem explicitaste. Eu mesmo, sempre que há uma festa (e minha mulher adora festas grandes!)tento encontrar primeiro um vinho nacional dentro do budget. A última foi a Festa Julina do dia 24 último, onde não deu para vinho de 10 reais a garrafa. Tive de trazer um Tannat/CS de Rivera, das Viñas del 636 por...5 reais o litro. Não há nada igual a isso no Brasil por 15 reais o litro.
Sábado temos uma costela e paleta de cordeiro do Pedregal, em Livramento, a melhor das carnes de carneiro, que será preparada por mineiros para ver como fica. E o vinho? Precisava-se dea lgo especial e o Budget para 10 garrafas (15 pessoas) era de 500 reais. Depois de muito batalhar, muito mesmo, e não encontrar fui supreendido com o preço do Salton Talento em um Supermercado local (o Mundial) onde está à venda por R$ 45,50. Esses portugueses do Mundial são comerciantes bastante razoáveis e a margem deles é sempre sensata. Eu particularmente acho que o problema maior do preço do vinho brasileiro está, na grande maioria dos casos, no final da cadeia, no ponto de venda de varejo e nos restaurantes. É impensável para eles um markup abaixo de 50% no caso dos primeiros e 100% no caso dos últimos.
Então, com 45 reais pelo Talento, estamos não competitivos, mas ao menos dentro do jogo.
Mesmo assim perdemos de goleada para um Chateau Peyros do Madiran e um Cuna de Piedra de San Juan, Uruguai(equivalentes do Talento a R$ 25,00). No final, dei uma de DNIT e abandonei a concorrência pública e comprei o brasileiro por "critérios".
Será sábado, segunda eu conto como foi.
Um abraço, parabéns, siga lúcida e não vá trabalhar para nenhuma vinícola ou loja de vinhos.
Olyr Corrêa, do Rio
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Silvia Mascella Rosa deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Vinho brasileiro é caro, sim senhor!":
Ah! Olyr, as lutas inglórias são tantas...
Mas sabe que há alguma luz no fundo da taça!
Antes de mais nada obrigado pelas boas vindas e boa festa sábado, claro!
Tive uma reunião muito boa com o Márcio Marson na segunda-feira e até coloquei no blog, onde discutimos esse e outros assuntos.
Uma de nossas 'batalhas' é para que as pessoas ao menos SAIBAM que existem alternativas (isso falando de consumidor em relação ao vinho brasileiro) e outra é que os produtores tenham claro 'o porquê' de perderem tantas disputas - seus preços não são competitivos. Corram atrás.
É como adesivo de caminhão: "Não me Inveje, Trabalhe".
É preciso atacar na frente da informação e na frente tática, descobrindo na mesa de negociações como modificar essas leis retrógradas (e modificar constumes antigos que dizem que se vender um pouquinho tá bom...).
Meu mentor e padrinho, Carlos Cabral, costuma dizer sobre o varejo que é fácil vender a primeira garrafa. Difícil é vender a segunda.
Grande abraço!
Silvia, SP
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A contribuição de Marco Danielle
Caro Ucha,
Meus cumprimentos ao desabafo da repórter Silvia Rosa, em artigo entitulado "Vinho brasileiro é caro, sim senhor!". Há tempo me afastei desses debates e fóruns, pois vivemos num país onde poucos se manifestam ou se insurgem contra os vícios e injustiças do sistema, e, infelizmente, como bem diz a repórter, tão logo alguém decide fazê-lo, é logo rotulado como "polêmico" e recebe uma enxurrada de críticas dos que preferem resguardar-se numa zona mais segura: em cima do muro.
Proponho uma reflexão sobre o problema levantado pela repórter através de duas abordagens: uma objetiva, e outra subjetiva.
Primeiro a objetiva. É talvez por essa cultura brasileira da passividade e do laissez faire que convivamos serenamente com a robalheira dos bancos, das companhias telefônicas, dos pedágios, e nos resignemos como um rebanho de ovelhas a observar os impostos, substituições tributárias e outros insultos pornográficos perpretados contra o setor vinícola nacional, enquanto nossos vizinhos estrangeiros deitam e rolam por aqui, desovando seus estoques de água açucarada com bem menos entraves e restrições do que as infligidas aos calejados vinicultores locais. Na contramão dos países civilizados, quando alguém se revolta contra isso é acusado de um crime grave no Brasil: o nacionalismo.
Chamo a atenção de Silvia Rosa para um detalhe, contudo. O objetivo e a condição de sobrevivência de um produtor de qualquer coisa que seja é vender o quanto antes aquilo que produziu, e não esconder seus produtos para longe do alcance dos olhos dos consumidores. Se existe a dificuldade em encontrar vinhos brasileiros de maior qualidade no comércio convencional isso não deve ser por acaso, ou porque os produtores não têm interesse em vender. O povo da Serra Gaúcha é dos mais ambiciosos que conheço (até em excesso!), é dinâmico e diligente em relação aos negócios, e se não consegue distribuir seus vinhos no Brasil, algum motivo sério deve estar por trás. Há que se analisar o problema de forma dialética. Primeiramente, a escatológica medida da "substituição tributária" torna infrutífero o comércio junto às Pessoas Jurídicas de São Paulo, que tenderão a dispor apenas de vinhos gaúchos feitos em série, de qualidade inferior. Um vinho brasileiro de exceção vendido a um restaurante ou loja de São Paulo, após a substituição tributária e a dupla tributação terá seu valor final impraticável. O mesmo não ocorre nas vendas diretas entre as vinícolas e os consumidores finais, em que a tributação é diferente, e cujo inconveniente único é o valor do frete, mas que conforme a compra compensa de longe o investimento. Ou seja, por alguma razão obscura os nossos burocratas parecem odiar quem produz vinhos no Brasil, ou quem deseja comercializar vinhos brasileiros - haja vista o descaso com quem elabora ou vende o vinho do pais, e o incentivo à entrada de praticamente qualquer porcaria vinda de fora. Perdem nossos produtores, perdem nossos comerciantes, perdem nossos consumidores, perde o país (onde a única coisa que parece avançar é o atraso). Ganham os usineiros do vinho barato argentino, chileno e europeu, mestres na arte de misturar água, açúcar e ácido tartárico. Palmas aos nossos dirigentes!
Dito isso, não estou tentando encobrir a eventual falta de qualidade ou justificar que o problema do vinho brasileiro deva-se exclusivamente ao parasitismo crônico dos nossos esfaimados déspotas. Quero simplesmente propor uma reflexão sobre o porquê dessa dificuldade em encontrar os bons vinhos brasileiros nas lojas de São Paulo. Na verdade não vale a pena nem para os produtores do Rio Grande do Sul, nem para os comerciantes paulistas manter estoques em São Paulo. A menos que se produza vinho em massa (quando qualquer coisa vale), virou uma grande dor de cabeça vender às Pessoas Físicas de certos estados. E o pior é que tudo caminha para desestimular e dissuadir qualquer idealista que queira produzir vinhos artesanais de grande qualidade no Brasil, em pequenas quantidades. Estamos na contramão da Europa, modelo mundial de vinicultura, que tanto valoriza as pequenas produções. Aqui, quem deseja elaborar quatro mil garrafas por ano será tratado pelo governo de igual para igual a uma indústria que produz vinte milhões de litros, sendo obrigado a selos, notas eletrônicas, trâmites absurdos para autorizar um rótulo - o que torna praticamente impossível legalizar uma pequena vinícola artesanal. Por falar em rótulos, não estaria na hora de alguém se revoltar contra os dizeres ridículos que nos obrigam a imprimir? Não vou entrar em cifras para informar a extorsão perpetrada em nome da obrigatoriedade das notas eletrônicas para vinícolas de qualquer porte, não importando se fazem mil garrafas ou cem milhões. Os contabilistas passaram a cobrar um polpudo salário extra para administrar o ininteligível processo de emissão de notas eletrônicas, os honorários podendo incluir um contrato inicial, um fixo mensal e mais uma taxa por cada nota emitida. Uma nova indústria se criou do nada, para quem preferir se aventurar a emitir suas notas sem ajuda do contador: as empresas de informática que prestam serviço sobre a emissão de notas eletrônicas, vendendo o software de emissão mais a assessoria a custo fixo mensal. Em ambos os casos, o preço para emitir notas fiscais é indecente. As vinícolas pequenas estão bendizendo o tempo em que o custo para emitir notas fiscais resumia-se à gráfica. Uma fortuna incalculável e obscena está sendo gerada com o comércio tirano das certificações eletrônicas, explorado pela Serasa sob as nossas barbas: custa R$ 1.500,00 a autorização para emitir notas eletrônicas e R$ 450,00 a obtenção do CPF eletrônico, válidos por 3 anos. Frente a esse descalabro, o rebanho de ovelhas rumina a própria impotência, em silêncio. Tudo isso devemos pagar apenas para poder emitir notas fiscais, que deveriam ser gratuitas ou mesmo remuneradas, se vivêssemos num país sério ou se abandonássemos o comportamento ovino.
O vinho brasileiro está historicamente ligado à idéia da quantidade em detrimento da qualidade, e pelo que tudo indica, a política governamental pretende oficializar esse statu quo ad infinitum. Nossos burocratas têm pressa e não se contentam com pouco: desejam ganhar rapidamente, portanto precisam de volume e alto giro. Pouco se importam com a dificuldade e os custos de abrir um negócio, afinal, trabalho não é com eles. Mas quando uma empresa começa, são os primeiros a esperar sua parte. Risco também não é com eles: pouco importa se o cliente vai pagar ou não quando uma venda é feita, a parte que lhes cabe é abocanhada na frente.
Esmagando os pequenos e as produções qualitativas com medidas do gênero "selo", "nota eletrônica" e "substituição tributária", entre outros, apenas os grandes usineiros do vinho, capazes de ganhar em escala, poderão distribuir seus produtos por todos os cantos. Forma-se assim um círculo vicioso a serviço dos interesses dos grandes industriais do "vinho Coca-Cola" e de seu sócio compulsório, o governo. Além de compulsório, esse sócio é desleal, pois não joga seus industriais sozinhos na arena, joga junto os leões: para conseguir sustentar a ganância de seus soberanos e ainda assim sobreviver à competição com os "vinhos Coca-Cola" estrangeiros, a última coisa que importa aos empresários do setor é o que vai para a garrafa. Como sempre, quem sofre e quem paga a conta é o consumidor desavisado, que compra seus vinhos quase sempre em supermercados.
Agora, a abordagem mais subjetiva do problema. Cara Silvia, por mais que a sinceridade possa doer, a primeira regra, a mais básica e elementar que aprende um enófilo iniciante... é evitar os vinhos de supermercado, por várias razões práticas. Primeiramente, porque em geral apenas quem produz em escala consegue negociar com supermercados, para quem o vinho é apenas mais um commodity, uma moeda corrente como o sabão em pó ou o óleo de soja. Entra quem tem o preço mais baixo. Mas é senso comum que os vinhos impessoais produzidos em série, mesmo quando aparentemente bons, não guardam muita relação com os produtos exclusivos de vinícolas pequenas. E mesmo quando esses vinhos massificados parecem agradáveis ao paladar, os consumidores deveriam se perguntar se o que estão consumindo é resultado da agricultura ou de um laboratório químico. O vinho é um produto nobre, que merece um tratamento diferenciado em relação aos demais itens de consumo corrente . A começar pelos cuidados de guarda. Quem vende vinhos commodities sabe que esses terão o mesmo tratamento das barras de sabão, ficando meses em pé, chocando sob luzes quentes das prateleiras de supermercados. Vinhos para esse fim precisam ser fabricados à base de tratamentos químicos que os deixam praticamente indestrutíveis - o que é sem dúvida uma vantagem para os investidores, mas pergunto, qual a vantagem para os consumidores?
Minha segunda e última observação é de ordem estritamente subjetiva. Acho uma lástima que o povo adore tanto esses vinhos estilo Coca-Cola dos supermercados, principalmente os mais baratos, do Chile e da Argentina, todos idênticos: uma calda xaroposa pesada e enjoativa, composta basicamente de água, açúcar, essência de carvalho e ácido tartárico adicionado ( a Argentina é o maior consumidor de ácido tartárico do mundo), cujos aromas se resumem às mesmas uvas cozidas de sempre, resultado do sol fulminante dos desertos. Não apenas estou convencido como tenho demonstrado na prática que o terroir brasileiro oferece possibilidades muito mais ricas para uma vinicultura de alta qualidade do que acontece no Chile e Argentina - o que não significa afirmar que nossos produtores estejam sabendo (ou querendo) explorar esse potencial em toda sua plenitude. Tenho certeza absoluta que se as pequenas produções artesanais fossem incentivadas e valorizadas, se a educação para o vinho fosse melhor cultivada, e se surgissem mais produtores naturais, você poderia harmonizar sua pizza com um "despretensioso" tinto natural da Serra Gaúcha, complexo, leve, refrescante e gastronômico, em vez de um pesado e quente vinho artificial de supermercado, produzido em série no Chile ou na Argentina.
Espero que não surjam muitos cricris me acusando de depreciar os vinhos andinos. Há verdadeiras pérolas no Chile e na Argentina, que respeito muito. Mas esses vinhos não se encontram em supermercados, nem aqui, nem lá, e estão muito longe dos "dulsões" artificiais produzidos em série e desovados no mercado brasileiro. Uma visão elitista do vinho? Talvez. A cultura sempre foi elitista, e é só através dela que poderíamos ver realizar-se a utopia com a qual sonham os enófilos: ver as prateleiras dos nossos supermercados climatizadas, e abarrotadas de vinhos naturais e honestos, bons e baratos. Isso é quase o que ocorre na Europa, mas para tanto é necessário antes de tudo uma demanda qualificada, o que implica alguns séculos de educação e prosperidade.
Concluindo, Silvia, sugiro sim que você compre diretamente dos produtores, visite o Vale dos Vinhedos, garimpe pequenos vinhateiros desconhecidos, pechinche diretamente com os agricultores e encha seu porta-malas. Esse é um dos maiores prazeres dos enófilos de todas as partes. Na própria Europa é assim, os franceses e italianos sabem que as verdadeiras pérolas da vinicultura não se encontram no supermercado da esquina. Além de descobrir vinhos exclusivos e fugir à mesmice da vala comum comercial - sempre nivelada por baixo -, você obterá vinhos que dificilmente entrarão no circuito comercial dos supermercados ou lojas especializadas, estará consumindo produtos mais autênticos e mais saudáveis, sua pizza será valorizada, e homenagear suas visitas surpreendendo-as com vinhos especiais será uma prova de requinte e dedicação que de longe irá compensar o trabalho de montar uma adega encomendando com antecedência diretamente das vinícolas, ou comprando no local de produção.
Grande abraço!
Marco Danielle
Atelier Tormentas Vinhos de Autor
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Arraspide
Viernes 30 de julio de 2010 - Sexta-feira, 30 de julho de 2010
Apreciados lectores, espero se encuentren bien.
Tengo el placer de anunciarles mis nuevos artículos en Vinos y Bebidas en el Portal
Un gran abrazo a todos, y deseo que disfruten de agradable lectura.
Caros leitores, espero que estejam bem.
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Um grande abraço a todos, e desejo que vocês tenham boa leitura.
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Daniel Arraspide, Montevideu
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sexta-feira, 30 de julho de 2010
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