Dois eventos realizados simultaneamente dia 17, a mais de 500 km um do outro, demonstram como a vitivinicultura voltou a despertar interesse econômico entre os brasileiros. Em Nova Pádua, na serra gaúcha, foi realizada a 11ª Jornada da Viticultura Gaúcha para ouvir técnicos falarem sobre inovações tecnológicas no manejo da produção para garantir maior sustentabilidade e rentabilidade aos produtores e havia 800 pessoas (!) na platéia. Em Bagé, foi niciado o VII Seminário de Vitivinicultura da Metade Sul do Rio Grande do Sul e, segundo os organizadores, estavam presentes, pelo menos, 700 pessoas (!), principalmente técnicos, produtores de uva e de vinho, empreendedores, donos de vinícolas e interessados em investir no setor.
Fiquei particularmente impressionado . Com tantos problemas em relaçao ao preço da uva, ao preço do vinho, à concorrências desleal dos importadores, do contrabando e de outras bebidas, tantos interessados em entrar no setor deixou-me impressionado e feliz. Também vi o rápido crescimento dos vinhedos e das vinícolas na Metade Sul, especialmente na região da Campanha, onde até poucos anos só tinha a solitária e pioneira Almaden. Hoje, somando Campanha e Serra do Sudeste, já são mais de 30 vinícolas novas.
Eu fiz a palestra de abertura do VII Seminário, realizado no grande salão do Clube Comercial de Bagé, que estava lotado, e também fiquei muito contente. Nunca havia falado para um auditório de 700 pessoas, atentas e sem arredar pé até o final da palestra. Acho que falei mais de um hora, apresentando os “desafios de competitividade para a vitivinicultura da Metade Sul”. Amanhã ou depois, vou colocar a íntegra da palestra aqui no Blog. Nela, apresento uma série de indicações sobre o futuro interessante que se abre para o setor naquela região, principalmente na Campanha, pelas condições favoráveis de solo e clima, que já estão atraindo as principais vinícolas brasileiras – Miolo, Salton, Casa Valduga, Chandon, Aliança e outras. Ate´o locutor Galvão Buenos resolveu investir num vinhedo em Candiota (seus vinhos já estão no mercado).
Nova Califórnia
Falei que a Campanha pode se transformar em uma Nova California, em questão de vinhos, uma denominação que nasceu em um almoço com o enólogo Adriano Miolo, diretor do Miolo Wine Group, que tem dois grandes investimentos na região – Fortaleza do Seival e Almaden – e fique orgulhoso pela governadora Yeda Crusius ter perfilhado a denominação. Em carta que mandou aos participantes do seminário, lida por seu representante, o secretário de Turismo Heitor Gulart, a governadora escreveu: “Como economista e como governadora conheço e reconheço o importante valor atual e o imenso potencial da vitivinicultura na nossa Metade Sul. Nosso Bioma Pampa, com toda justificativa, é considerado como a Nova Califórnia do mundo vitivinícola. E nós precisamos converter essa possibilidade numa realidade social e economicamente produtiva.”
Crescimento
A Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Região da Campanha, presidida por Afrânio Moraes (Almaden), é outra prova do fantástico crescimento da região: há dois meses, na Expovinis, em SãoPaulo, quando foi oficialmente lançada, a associação tinha 13 vinícolas associadas. Hoje, já tem 18 e a expectativa é conquistar mais algumas.
Casa Valduga
A destacada Casa Valduga, de Bento Gonçalves, que produz alguns dos grandes vinhos brasileiros, também decidiu avançar sobre a Campanha e lá instalar vinhedos. A diretor Comercial, Juciane Casagrande, confirmou que a empresa está buscando uma área de 500 há, provavelmente em Livramento, para um novo empreendimento. Como bom repórter investigativo (perdoem o auto-elogio) fui mais adiante e descobri que a Casa Valduga poderá adquirir uma grande vinícola que já opera na região, com 300 ou 400 hectares de vinhedos e cantina devidamente instalada. Meus amigos João e Juarez Valduga estariam de olho na antiga Santa Colina, criada por japoneses, mas que hoje pertence à Vinícola Aliança. Acontece que a Aliança, que reestruturou sua organização administrativa em torno de cinco cooperativas da serra gaúcha, estaria estrategicamente decidida a se consolidar lá na serra e passar adiante a Santa Colina, instalada no Passo do Guedes, em Livramento.
A Casa Valduga já está na Metade Sul. Ela tem vinhedos e vinhos em Encruzilhada do Sul. Agora, quer se expandir para a Campanha. Bem vinda seja.
Impostos
A pesada carga de impostos sobre o vinho nacional – enquanto o importado entra no País quase sem pagar nada – foi outro tema do Seminário em Bagé. O produtor Valter José Pötter, da Vinícola Guatambu, é um neófito em vinhos, mas experiente produtor rural – grande plantador de arroz, criador de gado hereford – e profundo conhecedor da história dos impostos que os governo brasileiros teimam em aplicar sobre a produção primária. Os vinhos estão pagando 54,73% de impostos, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, e isso é que encarece mais o preço do nosso vinho ao consumidor. Pötter também manifestou preocupação com a entrada de vinho de contrabando através das lojas free shops que existem nas cidades uruguaias que fazem fronteira com o Rio Grande do Sul. Lembrou que tais lojas podem vender vinho para consumo dos compradores e não para internalização no país, como se faz corriqueiramente. Em Rivera, fronteira com Livramento, por exemplo, compra-se vinho mais barato do que os próprios estrangeiros à venda no Brasil!
Plano Safra
Os participantes do seminário aplaudiram o deputado Afonso Hamm, que é da região e defende a fruticultura da Metade Sul, quando ele anunciou que o Governo Federal aceitou a sugestão de incluir os produtores de frutas, inclusive da uva, no Plano Safra da Agricultura Familiar, que, este ano, terá R$ 16 bilhões em crédito para os produtores. Pela primeira vez, a vitivinicultura terá acesso a este tipo de crédito subsidiado. Isso, certamente, aumentará a produção de uvas e o número de empreendedores dispostos a entrar na vitivinicultura.
Pequena mostra
Algumas cantinas ocuparam pequenos estandes num salão suplementar do Clube Comercial para oferecer degustação de seus vinhos. Muitos que não conheciam a qualidade dos vinhos da Campanha ficaram bem impressionados. Entre os que mostraram seus vinhos estavam a Almaden (Livramento) e a Fortaleza do Seival (Candiota), com a presença de seus enólogos e diretores, inclusive Adriano Miolo; a Guatambu, de Dom Pedrito, com a presença de Valter José Pötter e sua esposa Nara, oferecendo degustações do Rastros do Pampa e do Luar do Pampa; a Rio Velho, de Rosário do Sul, com a presença do socio-gerente Paulo Roberto Ribeiro Menezes, meu conhecido Alemão, lá de Livramento, que se mudou para Rosário só para abrir a vinícola; a Vinoeste, de Uruguaiana, e seu primeiro vinho Santana Velha; a Dom Pedrito, de Dom Pedrito; e a Peruzzo, de Bagé, com a presença do proprietário, Lindonor Peruzzo, e de seu filho, o enólogo e diretor Éder Peruzzo. Os vinhos são feitos sob consultoria do enólogo argentino Adolfo Lona.
Presença do Sebrae
O Sebrae, que tem uma participação importante nos projetos de desenvolvimento da vitivinicultura e, inclusive, está ajudando a Metade Sul a conseguir a Denominção de Origem para seus vinhos, teve uma participação importante no seminário. Tauê Bozetto Hamm, Gestor de Projetos do Sebrae-RS, foi um dos organizadores do seminário e coordenador de painel, enquanto Antonio Santin, consultor do Sebrae-RS, falou sobre os principais problemas tecnológicos enfrentados pelos vitivinicultores.
Léa Maria Lagares, da Unidade de Atendimento Coletivo do Agronegócio, do Sebrae-BR, e responsável nacional pelos projetos de fruticultura, fez um importante pronunciamento na abertura do encontro, destacando a preocupação da entidade com o desenvolvimento econômico e social e sua disposição de contribuir para a criação de novos empreendimentos que gerem riqueza, emprego e renda.
Boa organização
O VII Seminário de Vitivinicultura da Metade Sul me pareceu muito bem organizado. Por isso, merecem ser citados os que extiveram em sua organização. O Comitê Técnico contou com Alexandre Hoffmann , Mauro Celso Zanus e Lucas da Ressuireição Garrido, da Embrapa Uva e Vinho; Tauê Bozetto Hamm, do Sebar-RS; Antonio Conte, da Emater-RS; e Jorge Luiz Hoffmann, do Comitê de Fruticultura. O Comitê de Divulgação contou com Viviane Maria Zanello Bello Fialho e Anelise Sulzbach, da Embrapa Uva e Vinho. A parte organizacional e logística ficou a cargo de Jorge Luiz Hoffmann e Edegar Franco, do Comitê de Fruticultura da Metade Sul, Tailor Luiz Garcia, da Emater-RS, e Tauê Bozetto Hamm, do Sebrae-RS.
As vinícolas da Campanha
Para finalizar está série de notas sobre o VII Seminário de Vitivinicultura da Metade Sul, eis a relação das atuais vinícolas inscritas na Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha: Almaden, Vinhobles Routhier & Darricarrère, Cordilheira de Santana, Vinícola Peruzzo, Seival Estate (Fortaleza do Seival), Vinhos Rio Velho, Vinícola Campos de Cima, Vinícola Aliança, Guatambu Vinhos Finos, Vinhedos Três Cerros, Cooperativa Vinoeste, Vinhos Dom Pedrito, Rigo Vinhedos, Vinhedo Irmãos Camponogara, Associação Quaraiense de Fruticultura e Bela Vista Estate. Esta última é a de Galvão Bueno.
Adolfo Lona
Encontrei o enólogo argentino Adolfo Lona, que dá consultoria para a Vinícola Peruzzo, no saguão do Hotel Obino. Ele prometeu ir ao seminário, mas não conseguiu. Me disse, no entanto, que estava concluindo um merlot da Peruzzo que, segundo ele, vai dar o que falar. Esperemos.
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