terça-feira, 15 de junho de 2010

As Travas da Ovinocultura

O gaúcho Paulo Schwab , presidente da Associação Riograndense de Criadores de Ovinos visitou a Feinco, em São Paulo, e escreveu um interessante artigo. Leia com atenção:

Passar uma semana visitandoa Feinco - FeiraInternacional de Caprinose Ovinos - é vivera ovinocultura naqueleestágio em que queremoschegar. Importantes e diversos criatórios mostrando o que têm de melhor em seus plantéis, palestras, debates e painéis sobre o setor, a área de pesquisa com demonstração de resultados dos seus trabalhos, a degustação de pratos com carne ovina e o encontro com as mais diversas pessoas, criadores, lideranças políticas e de associações, entre outras. A Feinco foi um momento
em que pudemos também ver a presença da nova raça produtora de leite e também dos trabalhos artesanais, a partir da lã naturalmente colorida. Ou seja, uma parte significativa da ovinocultura estava lá presente.
É claro que também é um ambiente que não esconde os problemas
do dia a dia da atividade. Até porque entre os debates e
as rodas de conversas com os criadores, estes assuntos aparecem.
Como presidente da ARCO, muitos assuntos vêm ao meu
conhecimento e por vezes, sou procurado para resolver certas
questões. Pois foi justamente um destes problemas, que novamente
apareceu nos debates e que ainda não temos resposta.
Mas me deixou indignado, novamente. Durante a Feira fiquei
impressionado com o volume de projetos de produção de carne
ovina e de colocação nos mais diversos mercados, que estão
em andamento. São projetos com dimensões pequenas, médias
e grandes. E todos muito bem estruturados, buscando formar
suas redes de fornecedores de cordeiro, trabalhando o mercado
consumidor, enfim, fazendo muito bem a lição de casa. Só que
a maioria acaba enfrentando um concorrente muito desleal, ve
noso,
ardil; o abate sem fiscalização, o frigomato.
Volto a este assunto porque vejo que hoje isto é uma das
principais travas do negócio ovino. Sei, temos que melhorar a
produção dentro da porteira, utilizando melhor a nossa genética
que já é igual à dos países do primeiro mundo. Utilizando
as tecnologias que estão disponíveis e melhorando a nossa pro
dutividade,
a nossa prolificidade. Sei também que temos outros
gargalos como a falta de extensão rural, ou a sazonalidade na
produção de cordeiros. Mas isto se resolve muito rapidamente,
creio.
O mais interessante é que para comprovar o que estou falando,
recebi o balanço oficial de abates de cordeiros em 2009,
realizado pelo Ministério da Agricultura com a colaboração
das Secretarias Estaduais de Agricultura. Confesso que fiquei
pasmo com uns dados que ali se encontram. Em todo o ano de
2009 no Distrito Federal, não houve abate oficial de ovinos.
Poderíamos pensar que estes animais foram levados para outros
estados, pois não há abatedouro na região. Mas em todo o
estado de Goiás, foram abatidos apenas 3.859 mil ovinos. Em
Minas, outro estado próximo, 1.414 mil. Poderíamos pensar
então que foram levados para São Paulo. Os números deste
estado são 21.319 mil ovinos. Diante deste quadro só nos resta
perguntar, onde está o resto?
Não estamos exportando, porque até nos falta. O rebanho
é bem maior que isto e tem produzido um volume de cordeiros
bem superior a estes, e então?
Ou os sistemas de fiscalização estão altamente fragilizados
ou quase inoperantes, ou os setores de estatísticas não estão
passando os dados para quem precisa deles. Sei que já falei
deste assunto em edição passada, mas penso que se queremos
realmente construir uma cadeia produtiva, que realmente funcione,
onde nossos esforços neste sentido surtam efeitos, precisamos
de uma vez por todas começar a quebrar com as coisas
que travam o crescimento sustentado da ovinocultura. De nada
adianta termos projetos de produção e abate de ovinos carne
pelo Brasil afora, se existe um sumidouro que consome boa
parte da produção, dos recursos, dos impostos e arriscam a
saúde do consumidor. De nada adianta fazer investimentos em
genética, em programas de pesquisas se não temos estruturas
competentes, para acabar de vez com problemas como este, do
abate sem fiscalização. Creio que já fizemos encontros, seminários,
palestras suficientes. Já conhecemos os nós. Precisamos
agora é começar realmente a desatá-los. Com a verdadeira
vontade de resolver este e muitos outros problemas estruturais
do setor. Do contrário, nunca sairemos desta situação em que
nos encontramos, pequenos na produção, pequenos no mercado,
quase como subsistência. E a Ovinocultura não é e não
pode ser apenas uma atividade de subsistência, de produção de
churrascos para o fim de semana. Ela é uma atividade muito
importante, que sustenta e dá empregos para uma infinidade de
pessoas. É assim que devemos ver este setor, é assim que precisamos
trabalhar neste setor e é com este orgulho que devemos
quebrar com todas as travas da ovinocultura.
Paulo Schwab - Presidente da ARCO

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