A tradição vitivinícola do Rio Grande do Sul não está apenas na Serra. O Estado com a maior produção de uvas e vinhos do Brasil tem em sua Metade Sul uma especialidade: 15% dos vinhos finos brasileiros são elaborados a partir de uvas desta região. A partir do próximo ano, o segmento poderá se desenvolver ainda mais na região através do Projeto Vinhos do Pampa Gaúcho, do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS). A apresentação da iniciativa ocorreu durante o 1º Encontro de Vitivinicultura da Campanha e Fronteira Oeste, realizado no dia 10 de julho, em Santana do Livramento, a 497 quilômetros de Porto Alegre, minha terra natal.
O encontro começou às 9h30min no Hotel Jandaia - rua Uruguai, 1452, Centro. Cerca de 60 produtores de uva e vinho, técnicos e representantes de entidades do setor debateram as tendências do consumo e estratégias visando ao aumento da qualidade e comercialização dos produtos nos mercado externo e interno. O evento foi promovido pelo Programa Juntos Para Competir, ação desenvolvida pelo Sebrae/RS, Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), com apoio da Embrapa Uva e Vinho, Comitê de Fruticultura da Metade Sul do RS, Emater, Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e Prefetura Municipal de Santana do Livramento.
Além da apresentação e do painel de discussão sobre o Projeto Vinhos do Pampa Gaúcho, com o posicionamento das vinícolas e de diversas entidades sobre o tema, o encontro teve palestras sobre tendências do consumo do vinho no Brasil, posicionamento da bebida no mercado brasileiro, exportação e o Projeto Wines from Brazil.
A qualidade da fruta e também o volume crescente de colheita tem consolidado a Metade Sul gaúcha como região de referência na produção voltada à produção de vinhos finos. Em 2009, os produtores colheram 1,5 mil toneladas de uvas, cerca de 15% mais do que o produzido em 2008. Muitos deles já são atendidos pelo Sebrae/RS, por meio do Projeto Polo de Fruticultura do Pampa Gaúcho, que está em andamento desde o ano passado e beneficia cerca de 200 produtores de frutas e derivados.
Segundo o gestor do Sebrae/RS, Tauê Bozzetto Hamm, o grande diferencial em termos de competitividade é o clima seco no verão. Ele explica que esta característica climática possibilita a colheita de uvas mais maduras, gerando vinhos de alta qualidade e com custo de produção reduzido. Porém, revela que gargalos como a concorrência com os importados e alta tributação dificultam a expansão da atividade. “Cerca de 80% dos vinhos finos consumidos no Brasil vem de outros países e 52% do preço do produto nacional é composto por tributos”, afirmou.
O Gerente da Regional Sebrae Campanha e Fronteira Oeste, Ricardo Barbará Dias, comemorou que, apoiada pela entidade, a produção de uvas na região aumentou e se qualificou nos últimos anos. Ele lembrou que o trabalho era realizado com produtores rurais que colhiam e repassavam as uvas para vinícolas da Serra. “Aos poucos a região despertou para a agregação de valor e agora beneficia grande parte da produção em vinícolas locais, entrando para a fase da industrialização”, acrescenta.
Barbará Dias destacou que já são 14 vinícolas instaladas na região, sendo que as principais cidades produtoras são Bagé, Santana do Livramento, Dom Pedrito, Quaraí, Uruguaiana, Itaqui, Alegrete e Rosário do Sul. Ele adianta que o novo projeto em fomento é especificamente voltado para a característica vitivinícola que o local tem adquirido e vai enfatizar o trabalho em pontos relativos ao processamento industrial da uva.
O diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani, destacou que apesar de o consumo do vinho estar crescendo no País, este avanço se dá mais para os produtos importados. Ele explica que “através dos investimentos realizados já se produz frutas e vinhos de muita qualidade no País. O desafio é trabalhar para que os consumidores reconheçam e atribuam valor ao produto nacional”, explicou.
Conforme Paviani, o instituto lançou neste mês uma campanha para ampliação da cultura e disseminação do consumo de vinho. Estas estratégias serão mostradas em Santana do Livramento. Ele pondera que, enquanto a média de consumo de vinho no Brasil fica em 1,8 litro per capita, em países como Uruguai e França essa média é de 30 e 50 litros per capita, respectivamente.
Paviani acredita que a Metade Sul do Estado é mote importante neste desafio. “Neste polo são cultivadas exclusivamente castas de Vitis vinifera, que são as mais apropriadas para a produção de vinhos finos e de qualidade. Ele tem se sobressaído em todo o País e até no mercado externo pela excelência do produto final, questão que contribui para acrescentar valor e aumentar vendas”, justificou.
Estimativas do Ibravin apontam que o Rio Grande do Sul colhe entre 500 e 600 milhões de quilos de uvas para processamento e cerca de 100 milhões de quilos para consumo direto por ano. Além disso, mais de 90% dos sucos e vinhos brasileiros partem de parreirais gaúchos.
Já a Campanha e Fronteira Oeste, localizadas na Metade Sul do Estado, compõem uma região de campo com topografia ondulada. Segundo o Ibravin essa região, com aproximadamente 1,5 mil hectares, consolidou-se como produtora de vinhos finos na década de 1980.
A predominância é das uvas tintas Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Cabernet Franc, Pinot Noir; Touriga Nacional, Tempranillo e entre as uvas brancas destacam-se Chardonnay, Sauvignon Blanc, Pinot Griogio e Ugni Blan (Trebbiano). As uvas produzidas originam principalmente vinhos tranqüilos, embora venha crescendo em importância a produção de uvas das castas Chardonnay e Pinot Noir para a elaboração de espumantes.
No Brasil, a viticultura ocupa uma área de aproximadamente 100 mil hectares. São vinhedos estabelecidos desde o extremo sul do País até regiões próximas ao Equador. Em função da diversidade ambiental, existem polos de viticultura com as características peculiares de cada região. As regiões tradicionais da vitivinicultura brasileira são divididas principalmente em: viticultura temperada, subtropical e tropical.
A produção de uvas é da ordem de 1,2 milhões de toneladas/ano. Deste volume, cerca de 45% se destinam ao processamento, para a elaboração de vinhos, sucos e outros derivados; e 55% são comercializados como uvas de mesa.
Do total de produtos industrializados, 77% são vinhos de mesa e 9% são sucos de uva. Cerca de 13% são vinhos finos elaborados com castas de Vitis vinífera; o restante dos produtos industrializados, 1% do total, é derivado da uva e do vinho.
Grande parte da produção brasileira de uvas e derivados da uva e do vinho destina-se ao mercado interno. O principal produto de exportação, em volume, é o suco de uva e cerca de 15% do total vão para o mercado externo; apenas 5% da produção de uvas de mesa é destinada à exportação e menos de 1% dos vinhos produzidos são comercializados fora do País. Entre os principais destinos dos vinhos brasileiros hoje estão Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra e República Tcheca.
O País mostra boa capacidade para a produção de vinhos de qualidade. Atualmente, o Brasil é considerado uma das melhores regiões no mundo para o cultivo de uvas destinadas à produção de vinhos espumantes.
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