domingo, 20 de novembro de 2011

Portugal 9 – Herdade da Malhadinha, no coração do Baixo Alentejo


Vinhas de Herdade da Malhadinha Nova amareladas pelo outono

João Soares só quer saber de vinhos de qualidade


A Herdade da Malhadinha Nova
Fotos DU/JN
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Depois da Herdade dos Grous, fomos para a Herdade da Malhadinha Nova, também em Albernôa, Alentejo, vinícola que também faz parte da nova vaga de vinhos alentejanos. Numa casa de 1926, que estava abandona, caindo aos pedaços, João Soares e sua família instalaram uma moderna vinícola, que começou a funcionar em 1998, numa área de 453 hectares, foram plantados 27 há de vinhedos, em 2000, com 7 tintas – alicante bouschet, aragonez, touriga nacional, tinta miúda, cabernet sauvignon, syrah e trincadeira – e 6 brancas – arinto, roupeiro, Antão Vaz, verdelho, viognier, chardonnay e petit manseng.
A cantina foi construída em 2003. A propriedade se dedica, também, ao enoturismo, com 3 suites, 7 quartos duplos, restaurante Gourmet, SPA, pesca e caça. Há criações de porco preto, que se alimentam das bolotas de azinheira, vaca alentejana em linha pura, ovelhas merino alentejano, cavalos lusitanos e produção de azeitonas e azeite. A adega é moderna, com a cave de barricas escavada à vários metros de profundidade. João nos mostrou os grandes tanques de inox à noite, brilhantes e até meio fantasmagóricos – foi a primeira vez na vida que visitei uma cantina à noite – e mostrou seu orgulho em produzir 250 mil garrafas/ano, 60% de tintos, 40% de brancos, numa produção de 6 t/há, como manda o figurino para se obter vinhos de qualidade. A adega é bem iluminada, clara, com equipamentos super atualizados, arquitetura moderna, os lagares são refrigerados e neles a pisa a pé permite obter da uva todo o potencial que a natureza oferece. João, 42 anos, quatro filhos, um dos mais característicos representantes dos “novos produtores”, garante: “Daqui para a frente, Portugal não tem por que fazer maus vinhos.” Na verdade, todos os novo vitivinicultores (e os antigos também) se beneficiaram do ingresso de Portugal no Mercado Comum Europeu, porque os fundos de desenvolvimento do MCE aos países menos ricos, garantiram financiamentos com 30% a 40% à fundo perdido e taxa zero de juros para pagar o restante. Talvez aí esteja um pouco da atual crise financeira européia. Anibal Antonio Cavaco Silva, décimo nono presidente de Portugal, visitou a Malhadinha Nova e levou consigo 80 enólogos para mostrar-lhes aquela vinícola como exemplo de inovação, segundo João Soares.
Antes, sob uma azinheira, no meio dos vinhedos, João informou que aqui não chove de abril a outubro e que há uma grande inversão termica entre o dia e a noite.que beneficia a qualidade das uvas. Aliás, estava escurecendo, o sol se pôs, no horizonte, e a temperatura começou a cair, no meio do campo, e tivemos que ir para os prédios da Malhadinha Nova. Ele exporta cerca de 30% da produção para mais de 20 países: Suiça, Angola, Macao, Brasil, Estados Unidos, Itália, França, Alemanha e China, principalmente.
Um dos destaques da casa é o Monte da Peceguina Tinto 2010, um Vinho Regional Alentejano, elaborado com aragonez, alicante bouschet, touriga nacional, syrah e cabernet sauvignon, que passou 9 meses em carvalho francês, de final longo e persistente. É macio e fresco, com notas de frutos silvestres. Depois das andanças e das conversas, chegou a hora da degustação, feita durante o jantar. O chefe de cozinha é Bouazza Bouhlani, mas, naquela noite, estava ausente, e foi substituído pelo chef Bruno Antunes e por sua colaboradora Vitalina Santos, com apoio da Joana e da Rosina, que não fizeram feio.
Começamos com um Monte da Peceguina 2010, branco, elaborado com quatro castas: arinto, Antão Vaz, verdelho e roupeiro, um vinho que se mostrou fresco, com bom álcool (12,5º), ideal para acompanhar o pão tradicional alentejano embebido no azeite não filtrado e o pão de azeitonas galegas, seguidos de um creme de agrião com tartar de atum da costa do Algarve. Depois, passamos para um Antão Va z da Peceguina 2010, 100% da uva que lhe dá o nome, branco, bastante frutado, que o João informou não elaborar todos os anos, só quando a Antão Vaz, a casta mais importante do Alentejo, apresenta grande qualidade. Tem untuosidade na boca, envolvendo-a completamente. Acompanhou bem uma corvina com legumes e xerèm poejo, como é feito na cidade de Olhão.
O terceiro vinho foi o Malhadinha 2010, branco, elaborado com arinto (60%), viognier (20%) e chardonnay (10%), que passou 8 meses em barricas de carvalho francês, sendo 50% em novas e os outros 50% em de segunda. É um vinho de personalidade forte e equilíbrio na boca, mas precisa de 1 ano ou 2 mais, na garrafa, para ganhar complexidade. A seguir, foi a vez do Monte da Peceguina 2010 tinto, para acompanhar um prato de novilho com alecrim e lasanha de legumes. Elaborado com touriga nacional, cabernet sauvignon, alicante bouschet, aragonez e syrah, mostrou-se jovem, com muita fruta e claros sinais da madeira de carvalho francês no qual passou 10 meses, taninos sedosos e equilibrados.
O quinto vinho foi o Aragonez da Peceguina 2008, 100% aragonez, um vinho que me pareceu muito bom, boa estrutura, bons taninos, amaciados pelas barricas novas de carvalho francês onde passou 100%. O enólogo apresenta-o como “ um vinho denso com laivos de violeta, uma aroma que destaca os frutos vermelhos e uma mineralidade envolvida em tosta e notas de chocolate”. Depois, veio um Malhadinha 2009, tinto de cinco castas: alicante bouschet, aragonez, tinta miúda, touriga nacional e syrah, que passou 16 meses em barrica nova francesa. A tinta miúda lhe trouxe acidez e alegria, como disse João Soares, mas mostrou-se muito jovem, um vinho que estará mais redondo daqui a um ano, embora já tenha sido pontuado pelo crítico norte-americano Robert Parker com 92 pontos. Segundo Parker, foi o melhor que a Malhadinha Nova já fez. Tem aromas muito florais, violetas e rosas e álcool de 15,5º. “Fazer grandes vinhos, ícones, sem ter álcool, não funciona”, disse João Soares. Admitiu que é preciso fazer vinhos com menos álcool, mas garantiu: “Nunca vou utilizar osmose reversa para tirar álcool dos meus vinhos! Não quero vender muito vinho, quero vender bons vinhos!”
Antes da sobremesa, degustamos o vinho mais tradicional da casa, austero, elegante, de aromas balsâmicos, complexo, o Maria da Malhadinha 2007, um tinto elaborado com aragonez (60%), cabernet sauvignon (20%) e alicante bouschet (20%), que passou 26 meses em barricas e 1 ano em garrafa antes de chegar ao mercado e à nossa mesa. É um vinho que, em Portugal, é vendido a E 60 (R$ 143,40). As uvas foram pisadas pelo método tradicional. Em sua nota de prova, diz-se que tem uma cor intensa e carregada sendo o seu aroma profundo e complexo a frutos pretos maduros, com amêndoas torradas, especiarias e até notas de tabaco.
Encerramos o jantar com um vinho de sobremesa Late Harvest 2008, da uva petit manseng, que passou 1 ano e meio em barricas de carvalho. É um colheita tardia, teor alcoólico de 15º, cujas uvas foram vindimadas em outubro. A Malhadinha Nova tem apenas 0,8 há desta uva, que lhe rende 480 litros.
Dormimos na pousada da vinícola, com instalações muito bonitas, desenho moderno, decoração sofisticada, onde a modernidade e a tradição se cruzam, com conforto e elegância. O pessoal da pousada, na manhã seguinte, depois do café, nos reuniu para fazer pão alentejano, algo muito bom e interessante.

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