domingo, 20 de novembro de 2011
Portugal 13 – Herdade do Esporão, enfim um bacalhau, com grandes vinhos
Luis Patrão, um dos enólogos da Herdade do Esporão
O vinho do “Bin Laden” teve que trocar de rótulo
Uma oliveira com mais de dois mil anos e produzindo azeitonas
A torre símbolo do Esporão
Fotos DU/JN
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De 9 para 10 de novembro, dormimos em Évora, na bela Pousada dos Lóios, ao pé do Templo de Diana, que os romanos construiram há 2 mil anos, e jantamos no famoso Fialho (mais adiante vou escrever sobre isso). Na manhã de 10, visitamos a cidade e comi minhas primeiras castanhas assadas do Dia de São Valentim. Depois, seguimos para a Herdade do Esporão, uma área vitivinicola com mais de 300 anos de história moderna, porque há registros de produção de uvas e vinhos na Idade do Bronze. Durante o Império Romanos, seus vinhos eram exportados para todo o mundo de então. Os limites atuais da herdade, com 1800 hectares, foram estabelecidos em 1267!. Hoje, é propriedade de José Rocchette, que planta 420 hectares com viníferas, sendo 85 tintas.
Não sei se vocês lembram, mas, em 1999, um vinho da Herdade do Esporão andou nas manchetes. A empresa costuma convidar artistas para pintar o rótulo de seu Esporão Reserva. O daquele ano foi pintado por Pedro Proença que fez uma homenagem aos mouros que ocuparam a região. Ele colocou no rótulo a figura de um árabe de barbicha muito parecido com o então desconhecido líder terrorista Bin Laden. Só que, em setembro daquele ano, os árabes explodiram as famosas Torres Gêmeas, em Nova Iorque, sob orientação de Bin Laden e ele se tornou o homem mais odiado nos Estados Unidos. Naquele exato momento, o Espigão Reserva 1999 estava chegando em Nova Iorque. A empresa teve que recolher o vinho e trocar o rótulo. Na loja da vinícola, em Reguengos de Monsaraz, há uma garrafa com o rótulo “Bin Laden” e eu a fotografei, como vocês podem ver na ilustração deste texto.
Fomos muito bem recebidos pela Maria João e pelo enólogo Luis Patrão. A Esporão, que também possui uma área no Douro, produz 8 milhõesde quilos de uvas, que acabam gerando 9 milhões de garrafas, ali em Monsaraz, e mais 6 milhões de garrafas no Douro, onde existe a Quinta das Murças.
As boas vindas foram com espumante Herdade do Esporão Brut 2009, elaborado com verdelho e Antão Vaz, muito fresco, na Torre do Esporão, uma construção mandada erguer entre 1457 e 1490, um símbolo emblemático da arquitetura militar alentejana nos últimos anos do gótico. A empresa também produz azeites e, naquele momento, estava começando a safra da azeitona. Diante da torre, há uma oliveira, que segundo Bruno Coelho, do Marketing, tem mais de dois mil anos! Maria João informou que a Esporão também recebe visitantes – cerca de 20 mil pessoas/ano -, sendo a 1ª a apostar no enoturismo em Portugal. O Brasil é o segundo importador de seus vinhos, competindo com Angola, que está em primeiro.
O almoço começou às 13h30min, no Restaurante Esporão, atualmente improvisado, porque o tradicional está em reforma dentro de um projeto de ampliação das atividades de enoturismo. Além das atuais instalações, ampliadas, 5 campos de golfe e 3 hotéis surgirão a 5 km dali. Tivemos amuse bouche, quatro tipos de azeite – galega, cobransosas, cordovil e verdeal - com pães do Alentejo, cogumelos recheados com queijo de ovelha, bacalhau á Esporão, assado à Esporão e sericaia. O primeiro vinho foi um Defesa Rosé 2010, com aragonez e syrah, com boa frescura para acompanhar as entradas.
Um dos grandes vinhos da casa é o Torre do Esporão, que, em Portugal, custa E 90 (R$ 215,00) e chega ao Brasil em torno de R$ 1 mil. Um D.O.C. Alentejo, é elaborado com as castas touriga nacional, syrah e alicante bouschet, com 13,5º de álcool. É um vinho aveludado, com madeira muito equilibrada.
Depois, bebemos um Esporão Reserva 2010, branco, feito com Antão Vaz (40%), arinto (30%) e roupeiro (30%), que passou por inox e carvalho americano e ganhou complexidade, frescura e fruta. O arinto e o roupeiro passaram pela barrica. Luis Patrão chamou-o “branco de inverno”, ideal para acompanhar cogumelos, queijos e bacalhau. O pessoal gostou tanto dele que até brindamos à sua qualidade, enquanto comiamos cogumelos e tomates assados no forno. Enquanto isso, Patrão informou que a empresa tem um faturamento de E 35 milhões/ano (R$ 83,6 milhões) e está em processo de crescimento, com novos investimentos em vinhedos e equipamentos, embora o mercado português de vinhos esteja contraído há dois anos. Era de 65% e caiu para 50%. “Brasil e Angola, com suas compras, cobriram a quota do mercado nacional que diminuiu”, afirmou.
O terceiro vinho foi totalmente diferente dos anteriores, um branco mais sério, fermentado em barrica de carvalho francês, um Seléction Private 2010, elaborado com semillon (90%), marsanne e roussane, criado pelos enólogos David Baverstock e Sandra Alves. Aqui no Brasil, em 2007, foi considerado o melhor vinho branco do ano pela revista Gula, em cujo júri estava o especialista José Maria Santana, que também estava à mesa, conosco, no Esporão. Seguiu-se o Private Selection 2008, Tinto, elaborado com alicante bouschet, aragonez e syrah, um vinho que se pode guardar, tranquilamente, 10 ou 15 anos. Passou 24 meses nas barricas de carvalho francês, novas, e 12 meses em garrafa. 14º de álcool. Já foi chamado “uma pequena maravilha da natureza”. É ideal para acompanhar uma paletinha de cordeiro assada.
Enquanto comíamos o assado de buchecha de vitela com risoto de cogumelos, bebemos uma primícia, o ícone Torre do Esporão 2007, elaborado com touriga nacional, alicante bouschet, que só chegará ao mercado no final de 2012. É vinho único, ícone de Portugal, que passa 2 anos em garrafa, tem complexidade no nariz, está pronto, mas Patrão informa que não é lançado “porque ficará melhor”. É um vinho de guarda para, no mínimo,15 anos.
O final do almoço foi tão glorioso quanto o início, embora tenhamos pulado do Alentejo para o Douro. Luis Patrão abriu um Esporão Quinta dos Murças Porto Old Tawny 2008 10 anos, da região do Douro e Porto, elaborado com uvas aragonez, tinta barroca e tinto cão, com 20º de álcool, denso e de acidez equilibrada, excepcional, e, também, um “conhaque” Magistra, um aguardente vínico, elaborado com tália (ugni blanc), malvasia reis, alicante branco e boal, que passou 15 anos em madeira nova e usada e é um D.O.C Lourinhã, região que, ao lado de Cognac e Armagnac, na França, são as três únicas, no mundo, com denominações próprias para a produção deste tipo de bebida, um destilado sofisticado de elevada qualidade e cuja garrafa já é uma atração. No mercado português, custa E 130 (R$ 310,00).
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