domingo, 20 de novembro de 2011

Portugal 14 – Monte dos Cabaços e São Rosas, uma lenda bonita e interessantes vinhos


O restaurante São Rosa, em Estremoz











Rainha Santa Isabel








Tiago Cabaço seguiu os passos da mãe do pai








Margarida Cabaço produz vinhos e comando um restaurante
Fotos DU/JN
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Seguimos para Estremoz, onde nos hospedamos na Pousada Santa Isabel e, antes de dormir, fomos jantar no restaurante São Rosas e conhecer os vinhos de Joaquim e Margarida Cabaço e Tiago Cabaço. O pequeno e aconchegante restaurante, numa casa antiga, na parte velha de Estremoz, dentro das muralhas, tem este nome em função da lenda do milagre das rosas e da Rainha Santa Isabel. Segundo a lenda portuguesa, a rainha saiu do Castelo do Sabugal numa manhã de Inverno para distribuir pães aos mais desfavorecidos. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha teria exclamado: São rosas, Senhor!. Desconfiado, D. Dinis inquiriu: Rosas, no Inverno?. D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara.
Margarida Cabaço, a proprietária, gere o restaurante desde 1990, e conquistou fama na gastronomia portuguesa. O ambiente é de grande conforto e sobriedade, destacando-se ainda um terraço com vista sobre a muralha. A Adega do Monte dos Cabaços começou em 2001, com 120 hectares. Nosso jantar começou com um Monte dos Cabaços Branco 2010 Colheita Selecionada, com roupeiro, arinto e Antão Vaz, bastante fresco e com acidez equilibrada. Depois, fomos para um Margarida 2009, branco, elaborado com encruzado, verdelho, alvarinho e viognier, com as uvas misturadas na cuba, um branco de inverno, gastronômico, com final de boca alongado.. Os tintos começaram com Monte dos Cabaços Colheita Selecionada 2006, com touriga nacional, syrah, cabernet sauvignon e alicante bouschet, sem madeira, de taninos suaves, notas de tabaco e de chocolate preto; e continuaram com o Monte dos Cabaços Reserva 2005, com touriga nacional, syrah, cabernet sauvignon e alicante bouschet, no qual a fruta está bem presente, em harmonia perfeita com a madeira, e o Margarida Tinto 2008, elaborado com syrah (96%) e a branca viognier (4%), ambas pisadas, do qual ela produziu apenas 4.200 garrafas. Criado pela enóloga Susana Esteban, tem 14,5º de álcool, cor rubi carregado, aroma floral intenso, complexo no nariz e na boca, bem estruturado, ficou um ano em barrica de carvalho francês usadas. Como falei na Margarida e na Susana, devo dizer que esta é uma adega comandada por mulheres, porque a elas se une a também enóloga Marta Matos. Margarida acha isso muito bom “porque as mulheres são mais atentas aos detalhes”.
Depois, chegou a vez de provarmos os vinhos do Tiago Cabaço, filho de Margarida, que faz parte da nova geração dos produtores alentejanos. Por influencia do pai e da mãe, resolveu investir em uva e vinho e criou seu projeto em 2004. Apresenta-se como um dos mais jovens na idade e número de colheitas no mercado. Jovem e irreverente, deu a seus vinhos nomes relacionados com a modernidade do mundo cibernético e internético - .com, .beb e blog. Recém fez cinco colheitas, mas já produz 300 mil garrafas/ano. Sua enóloga é a mesma dos pais: Susana Esteban.
Começamos a degustar pelo blog 2009, com 90% de touriga nacional, alicante bouschet e syrah, apontado pelos críticos da região com o melhor vinho tinto de 2009 no Alentejo. O especialista Rui Falcão colocou-o entre os 10 melhores vinhos nacionais. Passou 100% em barrica, novas e usadas, é muito equilibrado e tem longevidade na boca. Seguiu-se o blog bi-varietal, com alicante bouschet (60%) e syrah (40%), com características especiais dadas pelas barricas novas de carvalho francês, 15,3º de álcool, uma frescura enorme, boa acidez, boa estrutura, jovem. Maria, a jovem esposa de Tiago, informou que Rui Falcão considerou-o “um vinho impróprio para cardíacos”.
Depois, fomos para o .com 2010, um branco com roupeiro, arinto, Antão Vaz, verdelho e viognier, mineral, estruturado na boca, selecionado pela crítica inglesa Jancis Robinson para um de seus “vinhos da semana”. A seguir, o .beb 2010, com arinto, roupeiro, verdelho e viognier, que passou 100% em barrica, complexo, untuoso e estruturado.
Os tintos começaram com .com 2010, elaborado com touriga nacional, aragonez, vinhas velhas, cabernet sauvignon, sem madeira, muito jovem, mas com potencial de guarda. Depois, o .com 2010, com syrah e touriga nacional de vinhas de 22 anos, a idade de Tiago, também não passou por madeira, e mostra bem a tipicidade das duas castas, aromático, vermelho, frutado com elegância, jovem, ideal para guardar. E, finalmente, o .beb Premium 2010, com syrah, alicante bouschet, cabernet sauvignon e touriga nacional, passado 100% em barrica, está no ponto ideal para beber.
A comida, preparada especialmente pela Margarida Cabaço, que faz questão de ir à cozinha, estava à altura dos vinhos. Comemos mariscos, pezinhos de porco preto, queijo curado de ovelha amanteigado, sopa de tomate com crocante de porco preto e ovos. Ao final, um Vintage Fonseca 1997, a melhor safra da Fonseca e Guimarães.

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