Olyr Corrêa nos manda, do Rio, o registro da morte de Sérgio de Paula Santos, grande crítico brasileiro de vinhos. Todos nós estamos tristes.
José Guilherme R. Ferreira
5/5/2010 - 21h09
Há pouco mais de um mês, Sérgio de Paula Santos, crítico de vinhos e titular da coluna Adega, no DCultura, ligou para a redação do Diário do Comércio animado, mesmo internado havia meses no Hospital Albert Einstein, combatendo uma série de infecções. Sugeria uma reportagem sobre o recém-lançado “O Livro do Cozinheiro”, editado pelo Instituto Raimundo Lúlio, manual de receitas medievais da Catalunha que sempre desejou ver traduzido para o português.A ardorosa campanha editorial por esse título histórico foi sua última contribuição para a cena enogastronômica. O médico otorrinolaringologista Sérgio de Paula Santos morreu no final da noite de terça-feira e seu corpo foi enterrado ontem no Cemitério da Consolação.O connaisseur que escrevia em linguagem direta, até o ano passado, quando completou 80 anos, ainda mantinha nos olhos um brilho especial quando falava de seus temas de paixão: vinhos, a boa mesa e o tango (”uma invenção uruguaia”, fazia questão de frisar). Publicou mais de uma dezena de livros sobre vinhos e comida, sendo Memórias de Adega e Cozinha (Editora Senac/2007), o mais recente. Prometia para breve o Beber e Comer como Deus Manda, esse um título provisório.Entre os pares do jornalismo especializado era saudado pelo pioneirismo e independência. Começou a escrever sobre vinhos no jornal O Estado de S.Paulo há mais de 30 anos, passou pela Folha de S. Paulo, e ultimamente vinha colaborando com este Diário do Comércio e outras revistas especializadas.Foi introduzido no mundo do vinho pelo pai, médico como ele, em encontros memoráveis na casa do historiador quatrocentão Yan de Almeida Prado, onde conheceu grandes Bordeaux e Borgonhas. Pela chamada “Pensão Humaitá” de Yan passaram artistas, políticos e intelectuais de todos os matizes em meados do século passado.Vinhedos – A formação de Paula Santos se deu também em viagens de estudo (Alemanha, Escandinávia, Estados Unidos e Argentina) e muitas jornadas de passeio por vinhedos e bodegas de toda Europa. Tinha um fraco pelos vinhos brancos da Francônia, item indispensável na sua adega farta. Era colecionador de livros sobre vinhos e gastronomia, além de voz marcante em uma série de entidades, entre elas a celebrada Confraria do Vinho do Porto.Nos últimos tempos, desabafava sobre o advento de escolinhas marqueteiras de vinho (”como um curso de poucas horas pode formar um sommelier de restaurante?”), dos ecochatos e os vegans (”desconhecem a história da alimentação e portanto denigrem de orelhada o foie gras”).No final do ano passado havia coroado sua carreira recriando a tão sonhada Academia Brasileira de Gastronomia (ABG) – era seu presidente, além de vice-presidente da Academia Iberoamericana –, sempre em defesa da boa mesa, da tolerância, do convívio inteligente, contra a “macdonaldização da vida”.
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