Patricia Ritschel,Jean-Michel Boursiquot, João Dimas Garcia Maia e João
Carlos Taffarel
Foto Marciele Scarton-Afavin
Evidências científicas
apontam que a variedade Moscato Branco,, que no Brasil tem aproximadamente 50%
de sua produção concentrada no município de Farroupilha, na serra gaúcha, seja
única no mundo, o que deve impulsionar o projeto da Indicação de Procedência de
vinhos finos e espumantes moscatéis de Farroupilha. A informação é de Giovani
Capra (Embrapa Uva e Vinho) e Marciele Scarton (Afavin), que acompanharam um
trabalho de campo na região.
De segunda, dia 27
de janeiro, a sexta-feira da semana passada, 31 de janeiro, a Serra Gaúcha
recebeu o ampelógrafo (cientista que identifica e classifica as cultivares de
videira) francês Jean-Michel Boursiquot, da Universidade SupAgro, de
Montpellier (França). Mundialmente conhecido por ter redescoberto no Chile a
variedade Carmenère, ele esteve na região para contribuir na confirmação de uma
suspeita antiga: a de que a cultivar de uva ‘Moscato Branco’ presente na Serra
Gaúcha desde os anos 1930 somente é cultivada comercialmente no Brasil,
principalmente na região de Farroupilha (RS), município que responde por cerca
de 50% do volume de produção da casta no país.
Com o avanço do projeto de desenvolvimento da Indicação
de Procedência (IP) Farroupilha, para vinhos finos moscatéis, iniciado em 2009,
cresceu o interesse sobre a Moscato Branco cultivada no município. Ela é
utilizada na elaboração de vinhos secos finos moscatéis e do moscatel espumante
– um sucesso da vitivinicultura brasileira –, entre outros. Em 2012, a Embrapa
Uva e Vinho aprovou uma ação de pesquisa específica para aprofundar a
caracterização genética e molecular da uva. Tal atividade conta com a
participação da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e apoio financeiro
do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através da Coordenação
de Incentivo à Indicação Geográfica de Produtos Agropecuários (CIG). Essa ação
multi-institucional envolve os produtores da Associação Farroupilhense de
Produtores de Vinhos, Espumantes, Sucos e Derivados (Afavin), titular da IP –
cujo pedido de registro deve ser encaminhado ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial (INPI) ainda neste primeiro semestre.
A hipótese da originalidade surgiu a partir da
observação antiga de que a Moscato Branco cultivada em terras brasileiras se
distinguia das uvas moscatéis cultivadas na Europa. Os primeiros resultados
indicam que a suspeita é verdadeira, e que a variedade seja realmente
exclusiva. A experiência de Boursiquot, conjugada ao trabalho dos pesquisadores
da Embrapa, tornou possível a comparação, sem encontrar um par idêntico entre
amostras da Moscato Branco cultivada no Brasil e de uvas Moscato existentes em
amplas coleções dos bancos genéticos de uva brasileiro e francês. Os estudos
seguem, buscando-se mapear a origem e estabelecer a paternidade dessa cultivar,
com a expectativa de que, em breve, possa-se conhecer que tipo de uva,
afinal, ela é.
“A confirmação da
hipótese certamente ampliará o interesse pelos vinhos moscatéis elaborados em
Farroupilha, fortalecendo os conceitos de tipicidade e qualidade associados a
essa origem, que são os elementos de base no processo de desenvolvimento da
IP”, analisa o coordenador do conselho técnico da Afavin, João Carlos Taffarel.
O apelo positivo é reforçado pelo pesquisador da Embrapa Uva e Vinho Jorge
Tonietto, que coordena o projeto da Indicação de Procedência Farroupilha. “As
Indicações referem-se a produtos de origem, em que se valorizam os diferenciais
característicos de determinado local na elaboração de um produto. No caso de
Farroupilha, em que o trabalho é focado nos produtos moscatéis, o fato de se
ter uma variedade que resulta em vinhos com características de gosto e aroma
Moscato de qualidade, sendo cultivada somente aqui, aumenta o caráter de
originalidade da IP, distinguindo-a na produção de vinhos mundial”, comenta.
A também
pesquisadora da Embrapa Patricia Ritschel observa, igualmente, que o indício de
originalidade aumenta o interesse acerca da cultivar, o que conduz a
desdobramentos significativos para os produtores. “Ainda serão desenvolvidos
trabalhos envolvendo aspectos agronômicos, fenológicos e enológicos, incluindo
microvinificações, possibilitando a seleção de clones que melhor se adaptem à
região, bem como orientações para a utilização de determinadas técnicas de
manejo, questão importante para o agricultor, no sentido de favorecer a
qualidade e a evolução no cultivo dessa casta tão expressiva para Farroupilha”,
comenta. Uma das coordenadoras do Programa de Melhoramento Genético de Uva da
Embrapa, ela acrescenta que a uva ‘Moscato Branco’ foi selecionada no Programa
para ter o seu genoma sequenciado no Brasil. “Isso permitirá um detalhamento
ainda maior na caracterização genética e molecular, abrindo possibilidades de
análises potenciais para aprofundar o estudo da biologia da cultivar, com base
no conhecimento da sequência do seu DNA. Com isso, questões importantes como o
aroma e a adaptação da cultivar às condições brasileiras poderão ser mais
exploradas”, completa. Participa do trabalho de identificação, ainda, o
pesquisador da Embrapa Uva e Vinho João Dimas Garcia Maia, que, com Patrícia,
coordena o Programa de Melhoramento Genético de Uva da Embrapa.
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