domingo, 23 de fevereiro de 2014

Destaque para a nova província vinícola brasileira: a Campanha, que busca seus vinhos ícones




















Adriano Miolo, Miolo Wine Group
                                     Anthony Darrecarrère, da Darrecarrè

                                                                                                                                   















Daniel Salton, da Salton


Hortência Ayub, da Campos de Cima
                                                                                                                                                                                                                 
                                         














                                              José Antonio Peterle, da Dunamis
                                  Alejandro Cardozo, enólogo uruguaio














 Paulo Roberto Menezes, da Rio Velho
                                        Valter José Pötter, da Guatambu
Fotos Arquivo JN

A região vitivinícola da Campanha, no Rio Grande do Sul, é relativamente nova, se exceptuarmos a Almaden, pioneira nos tempos modernos, que tem 37 anos. A grande maioria das 18 vinícolas que hoje constituem o novo universo do vinho gaúcho e brasileiro nasceram nos últimos 10 anos, ainda fazem experiências com varietais, mas já produziram vinhos de excelência, ganhadores de prêmios internacionais e do mercado, tanto no País, quanto no exterior.
Como se vive um período de infância, é difícil definir se os diferentes terroirs (uns a mais de 300km dos outros, portanto diferentes entre si) deverão ser usados para estes ou aqueles vinhos, para os tintos, os brancos ou os espumantes. Há quem diga que o ideal seria produzir só tintos. Há quem garanta que há brancos excepcionais. Algumas empresas estrangeiras estão estudando a região para produzir espumantes.
Experientes enólogos de grandes empresas, como Adriano Miolo, do Miolo Wine Group, apostam em uvas tintas como Touriga Nacional e Tannat.  A Miolo prefere a serra gaúcha para os espumantes. Mas, Daniel Salton, da centenária Salton, de Bento Gonçalves, já produz vinho base de espumante em Santana do Livramento, e fala muito bem dos resultados. Sua empresa já tem 108 hectares de vinhedos próprios e muitos produtores parceiros que lhe entregam uvas. Neste momento, está aplicando R$ 45 milhões na construção de uma cantina para fazer a primeira fase da vinificação e diminuir o custo do frete das uvas até Bento Gonçalves. O enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, da Guatambu, produz espumantes, inclusive rosé, em Dom Pedrito.
 Jovens e pequenos empreendedores, como Paulo Roberto Ribeiro Menezes, da Rio Velho, em Rosário do Sul, que passou a se dedicar a vitivicultura recém em 2002, não teme dar opinião "entre os mais velhos". Ele acha que a Tannat, apesar do Uruguai se considerar o dono dela, “é a uva”. Diz que, em breve, a Campanha vai desbancar os vinhos Tannat uruguaios, menos os da Carrau, que veio produzi-los também na região, com vinícolas em Rivera, Uruguai, e Santana do Livramento, no Brasil, uma diante da outra sobre a linha divisória. A maioria dos Tannat uruguaios vem do sul do País, bons, mas muito rascantes, que precisam de anos em barrica ou garrafa para amaciar. O Tannat Vinhas Velhas 2012, da Almaden, é perfeitamente bebível com um ano só de vinificação. O da Rio Velho também. O da Guatambu idem.
Outros tintos, como Cabernet Sauvignon e Merlot, embora exijam cortes, podem ser ícones na Campanha. O Cabernet Franc, embora alguns queiram transformá-lo em uva ícone do Brasil, ainda não se manifestou muito bom na fronteira. Creio que só a Dunnamis, de Dom Pedrito, apresenta um. Uma uva relativamente nova no País, a Arinarnoa, pode ter futuro na região, pois tem tudo que a Tannat tem, principalmente cor e grau. A Pinot Noir está sendo cultivada mais para base de espumante, mas a Santa Colina (hoje da Aliança), em Livramento, tem um 2011 muito interessante. Daniel Salton ficou impressionado com a qualidade da Pinot Noir da safra 2014, que deu 22 graus brix, até um exagero, mas que garante que ela também servirá para bons vinhos tranqüilos. A Touriga Nacional, uva portuguesa, é uma das preferidas do enólogo Adriano Miolo, em Candiota. A Pinotage produz muito bem, segundo a Rigo, de Dom Pedrito. Em Itaqui, a Campos de Cima faz um excelente Rubi Cabernet.
A Campanha, segundo Roberto Menezes, “tem uvas de grande qualidade e excelentes graus Brix, o que precisamos é de mais enólogos livres para criarem cortes e sairmos da mesmice só dos varietais.” Entre os novos cortes, defende audácias como a de Alejandro Cardozo, que fez um espumante rosé para a Guatambu com uva Gewurztraminer, e a de Galvão Bueno, da Bela Vista Estate, em Candiota, que elaborou um Bordeaux e largou o Cabernet Franc. “Vamos fazer grandes assamblages, fugir um pouco dos varietais. Quem sabe o grande vinho da campanha ainda vai surgir”, afirma Roberto.
A centenária Salton, de Tuiuty, em Bento Gonçalves, está investindo R$ 42 milhões na área de 700 hectares que possui em Livramento para produzir Chardonnay, Sauvignon Blanc e Pinot Grigio, mas também muitos tintos, como Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Tannat, , Gamay, Teroldego, Marselan, Pinot Noir. O presidente Daniel Salton exalta as qualidades da região: “O terroir da Campanha possui solos bem drenados e derivados de arenito e granito – solos pobres em matéria orgânica e classificados entre novos e intermediários, de grande qualidade para o desenvolvimento dos vinhedos. É a região mais seca entre as regiões produtoras de uva, o que favorece a maturação da fruta e propicia a elaboração de vinhos tranqüilos, com baixa acidez e menor necessidade de tratamentos. As uvas produzidas nesta zona caracterizam-se por uma graduação alcoólica maior, em função da grande amplitude térmica – dias quentes e noites frias, originadas pelo fator continentalidade. Na Campanha, a alta luminosidade e o clima seco favorecem o desenvolvimento da videira e o amadurecimento das uvas.”

As vinícolas e os tintos da Campanha

A Associação Vinhos da Campanha já tem 18 associados: Almaden, Nova Aliança, Cordilheira de Santana, Salton, Campos de Cima, Serra do Caverá, Rio Velho, Routhier & Darricarrere, Camponogara, Rigo, Guatambu, Dunnamis, Peruzzo, Bela Vista Estate, Seival Estate, Batalha, Aquafrut e Agro Vitória.
Entre os tintos varietais, estes são os mais produzidos na Campanha, de acordo com cada vinícola: em Candiota, na Batalha, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat; na Seival Estate, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat. Em Bagé, na Peruzzo, Cabernet Sauvignon. Em Dom Pedrito, na Guatambu, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat; na Dunnamis, Merlot (ela faz, também, um Merlot vinificado em branco, coisa rara); na Rigo, Merlot e Tannat (este em corte Pinotage); na Camponogara, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat. Em Santana do Livramento, na Almaden, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tanna; na Cordilheira de Santana, Cabernet Sauvignon Merlot e Tannat; na Aliança, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat; na Salton, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat. Em Rosário do Sul, na Rio Velho, Tannat, Merlot e Cabernet Sauvignon; na Routhier & Darricarrere, Cabernet Sauvignon e Merlot. Em Alegrete, na Serra do Caverá, Cabernet Sauvignon. Em Uruguaiana, na Casa Valduga, Cabernet Sauvigon, Tannat e Merlot; na Bodega Sossego, Cabernet Sauvignon. Javier Carrau ainda informou quais serão seus vinhos brasileiros.
Uma vinícola sobre a qual não consegui informações foi a Batalha, de Bagé. O Blog está aberto para que seus dirigentes mandem informações. Também tive alguma dificuldade com a Peruzzo, também, de Bagé, mas, agora, o Tauê Hamm assumiu o comando do marketing e, certamente, vai me manter informados. Eu gostaria de receber a lista dos tintos, elaborados sob a supervisão do enólogo Adolfo Lona.

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