quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Enfim, números sobre a ovinocultura gaúcha

Uma das maiores preocupações de quem se envolve com ovinocultura, sejam criadores, consumidores, frigoríficos e, até mesmo, os bancos que financiam o setor produtivo animal, é a falta de dados confiáveis e próximos da realidade sobre os rebanhos. Eu sou um dos que mais critica a falta destes dados e as promessas não cumpridas de um Censo Ovino.
Por isso, é de saudar que a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul está divulgando um trabalho sobre o assunto. Técnicos da Secretaria de Agricultura fizeram um levantamento do rebanho gaúcho para radiografar a realidade do abate de cordeiros. Um belo trabalho, sem dúvida. Eis o texto, que me foi alcançado pelo jornalista Nelson Moreira, que está se preparando para aumentar o rebanho ovino gaúcho. Ei-lo:
A população ovina no Rio Grande do Sul, segundo levantamento pecuário de 2009 realizado pelo Departamento de Produção Animal (DPA) da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio (SEAPPA) atingiu cerca de 3,5 milhões de animais ( antes da crise da lã era 13 milhões de animais). Tal levantamento é realizado com base na declaração anual de rebanho, que está prevista em lei, a qual determina que todo produtor rural deve declarar, por escrito, na Inspetoria Veterinária de cada município, todos os animais que possui. Segundo o Veterinário do Serviço de Doenças Infecciosas (SDI) da Divisão de Fiscalização e Defesa Sanitária Animal, da Secretaria, Roberto Azambuja, os números apresentados na tabela abaixo permitem observar a população ovina por categorias, o número de produtores rurais e o número de propriedades com ovinos no RS em 2009.

Ano 2009
machos até 6 m de idade 441.822
fêmeas até 6 m de idade 514.149
machos acima de 6 m de idade 17.512
fêmeas acima de 6 m de idade 2.065.620
Total Ovinos 3.439.105
Propriedades 39.512
Produtores 37.855

Segundo Azambuja, se for feita uma análise desses dados não é possível estimar a taxa de natalidade do rebanho ovino gaúcho com precisão, uma vez que a declaração anual de rebanho é realizada apenas uma vez ao ano (de janeiro a abril). “Muitos cordeiros são abatidos antes mesmo de serem declarados pelo produtor rural e no ano de 2008 foram abatidos nos meses de outubro,novembro e dezembro 40.064 cordeiros (da safra)”, diz o técnico. Ele complementa dizendo que o mesmo ocorre com os ovinos que morrem até o desmame, sendo que o produtor apenas declara os animais que possui (vivos).
Num exercício estatístico Azambuja diz que levando em consideração uma mortalidade, média, de 5% dos animais, pode-se estimar que cerca de 172 mil ovinos morrem anualmente no RS devido a doenças, predadores e abigeato. “Das fêmeas acima de seis meses de idade, normalmente cinco produções são encarneiradas”, ressalta. Existe, ainda, mais uma produção que é considerada de descarte ou “ovelha de invernada”, perfazendo 16,66% das fêmeas acima de 6 meses de idade, o que resulta em 326.926 ovelhas. Com base nos dados do levantamento, estima-se que há 1.635.413 fêmeas na reprodução (fêmeas acima seis meses de idade – 5% de mortalidade – 16,66% descarte).
Conforme o técnico, no RS é usual a utilização de 3% de carneiros nas fêmeas em reprodução. Assim sendo, são usados 49.062 carneiros. O número de machos adultos (capões) é igual ao número de machos acima de seis meses (417.512), reduzindo-se os 5% de mortalidade e o número de carneiros. Com isso têm-se 347.574 capões. De acordo com ele, calcula-se, ainda, que a reposição de carneiros seja de 20% ao ano. Assim, ter-se-ia uma reserva nos animais jovens (menores de seis meses de idade) de 13.083 ovinos. Num cálculo de 75% de seleção, ter-se-ia 9.812 carneiros selecionados para a reposição anualmente.
“Como 20% dos capões são abatidos anualmente, precisa-se de 20% dos animais jovens para essa reposição (69.515 cordeiros)”, diz ele, acrescentando que com esses cálculos, é possível dizer que 337.133 cordeiros estão disponíveis para abate, anualmente.
Já para o caso das fêmeas, calcula-se que a reposição de ovelhas seja de 20% ao ano. Assim, se teria uma reserva nos animais jovens (menores de seis meses de idade) de 436.110 ovinos. Num cálculo de 75% de seleção, ter-se-ia 327.082 ovelhas selecionadas para a reposição anualmente.
Na tabela abaixo, demonstra-se os ovinos potencialmente disponíveis para abate no RS anualmente.
Categoria Animais
Ovelha de descarte 326.926
Carneiros de descarte 9.812
Capões para abate 69.515
Cordeiros para abate 337.133
Cordeiras para abate 52.331
Cordeiros não selecionados (25%) 3.271
Borregas não selecionadas (25%) 109.028
Total 908.016

A fim de avaliar a quantidade de ovinos que são abatidos no RS em frigoríficos e abatedouros com inspeção oficial, demonstra-se na próxima tabela o número de animais abatidos em 2008, conforme dados oficiais.
Inspeção Ovinos abatidos
Federal 178.817*
Estadual 60.694
Municipal 38.234
Total 277.745
*Desse total, 23.953 são ovinos oriundos do Uruguai.

Para o veterinário do Serviço de Epidemiologia e Estatística (SEE), Diego Viali dos Santos, que também trabalhou neste projeto, a análise das duas tabelas acima, demonstra que em 2008 foram abatidos 253.792 ovinos com origem no Rio Grande do Sul em estabelecimentos com inspeção oficial no Estado, descontando-se os 23.953 ovinos provenientes do Uruguai e abatidos no RS. Sabe-se que destes animais abatidos com origem no RS, 40.064 são de cordeiros da safra, assim temos 213.728 ovinos declarados e abatidos sob inspeção oficial.
Com base nas informações das GTAs, sabe-se que 36.117 ovinos foram destinados a outros estados da federação, egressos do Rio Grande do Sul. “portanto, já que a população ovina no RS mantém-se estável nessa década, pode-se estimar que 658.171 ovinos [908.016 – (213.728 + 36.117 )] podem estar sendo abatidos informalmente no Rio Grande do Sul, muitos destes na própria propriedade rural para consumo ou, ainda mais grave, para abates clandestinos”, afirma Viali. Para ele tal informalidade, além de trazer prejuízos econômicos ao Estado é um grave problema de saúde pública.

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