Na abertura da etapa gaúcha do Quality Wine − Programa Nacional de qualidade vitivinícola e acesso ao mercado europeu, dia 29 de outubro, em Bento Gonçalves, o único Master of Wine brasileiro, Dirceu Vianna Junior, revelou, pela primeira vez, algumas das vinícolas verde-amarelas que tiveram seus vinhos incluídos na lista de 10 melhores Merlot do mundo. O ranking foi retirado de um trabalho de sua autoria, que comparou 17 vinhos brasileiros, todos do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha, contra rótulos de 10 regiões produtoras do mundo. Os juízes desta partida enológica internacional foram 40 profissionais, experts em degustação de vinhos, entre eles 15 dos 280 Master Of Wine do mundo, jornalistas, sommeliers, enólogos e importadores.
“O resultado foi impressionante”, afirmou Dirceu Vianna Junior. Na degustação realizada, entre os 10 melhores vinhos Merlot do mundo, 8 são brasileiros. Por questões contratuais, Vianna não pode divulgar os nomes dos vinhos, nem das vinícolas. “Só posso dizer que entre os Top Five, estão vinícolas grandes e pequenas do Brasil”, comentou, citando a Miolo e a Pizzato como exemplos. “Quem diz que o Brasil não produz vinhos tintos de qualidade está totalmente desinformado”, disse Vianna. Os dois “intrusos” foram a África do Sul e o Chile.
Os vinhos brasileiros superaram rótulos famosos do mundo, como Norton Barrel Select Merlot 2004 (Argentina), Gallo Merlot 2006 (Estados Unidos), Reserve de Mouton Cadet St Emillion 2005 (França), Capucho Merlot Ribatejo 2004 (Portugal), Planeta Merlot 2004 (Itália), Montana Merlot Reserva 2005 (Nova Zelândia), Torres Atrium Merlot 2006 (Espanha) e Berri Estates Merlot 2006 (Austrália).
Conforme Vianna, os resultados da pesquisa, em geral, são positivos e animadores para os produtores brasileiros. A degustação revelou uma oportunidade em relação ao mercado externo. O índice para o potencial de compra de vinhos brasileiros superou os 50%, sendo que apenas 8% responderam que não estariam interessados. A percepção acerca do Brasil alcançou 85%. “Os vinhos brasileiros podem competir com vinhos estrangeiros em matéria de preço e custo benefício”, avaliou.
A pesquisa ainda demonstrou que a imagem do Brasil perante o consumidor é positiva e inicialmente a energia deve ser focada em vinhos “mid-premium”. “Atividades de marketing focadas, dedicação e paciência são ingredientes necessários que irão ajudar produtores brasileiros evoluir no mercado externo”, recomendou.
Em relação às melhorias que precisam ser feitas, Vianna cita que a qualidade e o custo/benefício ainda não são consistentes. “Na maioria dos casos, o aperfeiçoamento técnico é necessário, pois foram identificados alguns problemas relacionados à viticultura e práticas enológicas”, observou.
Todos os vinhos de boa reputação possuíam um mínimo de 85% da variedade Merlot, eram de safras recentes (2004, 2005 e 2006) e de faixa de preço similar. Os 17 vinhos escolhidos para participar da degustação foram elaborados por 15 vinícolas do Vale dos Vinhedos, na Serra Gaúcha. A média dos vinhos avaliados ficou em 13,47%. A do Brasil ficou acima da média geral, com 13,58%. A média da degustação dos vinhos de outros países foi de 13,32%. A tese, que serviu para a aprovação de Vianna como Master Of Wine, foi apresentada em 2008.
O encerramento da série de três Workshops do Quality Wine acontece nesta quinta (29) e sexta-feira (30), no auditório da CIC (Alameda Fenavinho, 481), em Bento Gonçalves. Cerca de 80 inscritos participaram da programação de hoje (29), que teve ainda palestras sobre “Adequação das vinícolas para o mercado Interno e Externo”, feita pela assessoria jurídica do Ibravin, Kelly Lissandra Bruch. Ela falou sobre as boas práticas enológicas recomendadas pela OIV (Organização Internacional do Vinho) e certificações mais utilizadas com seus prós e contras.
Dirceu Vianna Junior, diretor de Desenvolvimento de Vinho na Coe Vintners (uma das maiores empresas importadoras independentes do Reino Unido, além de ser o primeiro homem Master Of Wine da América do Sul) falou também sobre o tema “Tendências de produtos e práticas empregadas na vitivinicultura Mundial”, retratando as tendências de produtos mostradas pelo mercado mundial, as certificações de qualidade, o papel crescente da responsabilidade social das empresas, as exigências de sustentabilidade dos produto e o mercado para vinhos Orgânicos e Biodinâmicos. Por fim, Vianna falou sobre como uma boa apresentação do produto (package) influencia na escolha do produto por parte do consumidor.
Na sequência, ocorreu um debate sobre a tipicidade dos vinhos brasileiros nas principais regiões produtoras, reunindo Celito Guerra, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho. Ele falou a respeito das principais características dos vinhos de cada região produtora do Brasil, destacando as principais variedades. Também tratou da importância das indicações geográficas, terminando com um estudo de caso do espumante, comparando o Brasil com outros países e regiões produtoras (Champagne, Asti, Cava). Para encerrar, foi realizado um painel de degustação, com os vinhos representativos do Rio Grande do Sul, estado responsável por cerca de 90% da produção nacional de vinhos.
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