Enfim, o crítico de vinhos do Jornal da Noite, Olyr Corrêa, resolve escrever um texto para nós. Ei-lo:
Roleta Russa
Dois vinhos bons. Garrafas com defeitos opostos.
O primeiro:
Indómita Reserva Cabernet Sauvignon 2007
13 meses em carvalho francês e americano.
14,5% Álcool
Valle del Maipo
Chile
Ganhador do Trophy (melhor vinho) do Decanter Wine Awards 2009. Comprei duas garrafas no Supermercados Mundial do Rio de Janeiro. Preço : R$ 29,90.
Vinho muito bom para o preço, com pequeno exagero no chocolate e baunilha, para o meu paladar atual ( já gostei mais desses gostos e sabores acarvalhados). Surpreendentemente equilibrado para sua alcoolização.
Voltei e comprei um "six pack".
Bomba!
Terceira garrafa imbebível pelo excesso de SO2 (anidrido sulfuroso, o famoso conservante INS 220). Deixei aerando por 48 horas mas não passou nada e lá se foi para o ralo.
Quarta garrafa perfeita, muito bom.
Quinta garrafa: voltou o enxofre, porém não tão forte. Aerado por 36 horas, deu para beber um vinho picoteado com um sabor metálico, não de todo desagradável.
Então?
O vinho é bom, mas a máquina ou a mão pesada do enólogo transforma as garrafas em uma roleta russa. Pode também ser que, como era uma exportação para importador do Rio de Janeiro (Barrinhas), o "manager" resolveu não arriscar nos 40°C do Mercado São Sebastião e colocou uma dosezinha maior de conservante.
O segundo:
Tannat Reserva Especial 2004
Cordilheira de Santana
Corte com Merlot e Cabernet Sauvignon
Leve passagem por carvalho
13,8% Álcool
Palomas
Campanha Gaúcha
Preço : R$35,00 na vinícola.
Este vinho tem uma história mais longa.
A primeira garrafa creio que bebi em 2006 e não gostei, pelos taninos rústicos e agressivos. Pus a culpa na tannat e parei por aí.
Este ano fui até a Cordilheira comprar os excelentes Gewürztraminer recentemente engarrafados e os novos Reserva dos Pampas. Me ofereceram novamente o Tannat. Escaldado, não comprei.
Mas aí, no aniversário do Ibargoyen, em Palomas, ele abriu este vinho.
E o vinho estava muito bom. Dos melhores tannats que já provei.
Voltei lá na vinícola e comprei uma caixa de dúzia.
Primeira garrafa: excelente vinho, bouquets terciários distintivos, estruturado, com taninos agradáveis e personalizados.
Degustado com kaftas de broutard e limão galego confit, deu show de compatibilidade elegante.
Segunda garrafa: Excesso de acidez volátil (ácido acético). Pelo ralo.
Terceira garrafa: Acidez volátil passando da raya, mas dentro do tolerável. Não muito prazeroso, mas bebível.
Quarta garrafa : retornamos ao excelente vinho e surpreendeu a todos. Muitos acharam que tinha sido micro-oxigenado. Muito superior aos Stagnari tradicionais antes da spoofulização.
Então?
Parece ser o defeito inverso do Indómita. Muito pouco conservante. Como o Gladistão e a Rosana são conhecidos por ter a mão leve, isto é, usam criteriosamente o conservante e fazem fermentações em temperaturas que preservam tanto os aromas dos tintos (24-28°C, me disseram ) como dos brancos (13-15°C, me disseram), a acidez volátil é o preço a pagar, se alguma outra coisa vai mal. Como contaminação com oxigênio, em alguma fase do processo. Ou a qualidade da rolha utilizada é irregular e algumas garrafas não resistem aos 5 anos de adegagem.
Ou, como os verões tem sido de excessivo calor e os invernos rigorosos, a estocagem não se manteve com a temperatura estável, as rolhas trabalharam, o oxigênio entrou e as bactérias fizeram a festa.
Qual a causa? Só uma CPI poderá descobrir.
Mas quais os ensinamento tiramos disso tudo?
Na minha opinião, duas lições são as mais significativas:
1. Não existem vinhos excelentes. Existem garrafas de vinho excelentes.
2. Não faça julgamentos definitivos sobre um vinho, para mal, baseado em uma ou duas garrafas.
A terceira é filosófica:
3. Vinho tá vivo. Cada dia é uma coisa diferente.
Um abraço, Olyr Corrêa
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