terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Porque é complicado criar e vender cordeiros

O zootecnista e corretor de compra e venda de ovinos, bovinos e campos Gil Tozzati Fernandes, lá da minha terra, Sant´Ana do Livramento, manda uma interessante mensagem colocando alguma luz nos problemas de comercialização de cordeiros. É um pouco longa, mas vale a pena lê-la na íntegra, pois esclarece algumas coisas que, principalmente, o pessoal da cidade não entende, quando pergunta: “Pô, se a carne de cordeiro está tão cara, por que os produtores se queixam que a ovinocultura não dá dinheiro? Leia:

“Caro Danilo,
Tenho lido as ótimas matérias que tens escrito, especialmente sobre cordeiros, na coluna do JC. Sou zootecnista com especialização em gestão empresarial e proprietário do escritório Mercado Agropecuário Corretora, intermediações de gado, ovinos, lã, campos e etc, sendo que no caso dos cordeiros trabalhamos para a empresa Marfrig e sou credenciado para comprar para o programa Herval Premium aqui em Sant'Ana tua terra natal e minha por adoção e de coração.
Veja bem, hoje o preço do cordeiro pago pelo Marfrig é na tabela R$ 2,15/kg vivo, o preço caiu, tem muita oferta. O preço do cordeiro Herval Premium é de R$ 5,90/ kg de carne(carcaça) porém para atingir este preço o produtor precisa se submeter a alguns critérios no aparte dos animais, como, por exemplo, acabamento entre 3 e 3,5mm de gordura, também o peso vivo deve ficar entre 28 e 40 kg de peso vivo sendo que raças de carne o peso de 40kg já é demasiado. A média de rendimento de carcaça das raças de dupla aptidão vai de 38% à 40% corriedale ou ideal, dados do amigo Ariel, que trabalhou por longo período no frigorífico e abatedouro dos cordeiros Divisa. Então, se você fizer o cálculo de 38% ao preço de R$ 5,90 pago pela carne, o preço do kg vivo fica em R$ 2,24; ao rendimento de 40%, R$ 2,36, e assim por diante.
Só para ilustrar: carreguei cordeiros de um produtor para o Herval Premium - cruza Corriedale com Texel, peso médio de 39,4 Kg e rendimento de carcaça de 43%, sendo que boa parte destes animais estavam com gordura acima da exigida pelo programa e ficaram ao preço de R$ 5,63 (o que gerou protestos do produtor) na carne fria. Então, R$ 5,63 com 43% de rendimento ficou com preço final de R$ 2,42, o quilo vivo, que pode ser considerado bastante melhor que os R$ 2,15 ou R$ 2,20 pagos pela indústria comum.
Então, vamos tentar entender por que a indústria paga menos por este produto? Talvez porque não tenha desenvolvido uma marca como o Herval? O custo do abate do cordeiro é muito maior, a indústria tem praticamente o mesmo custo fixo para matar o cordeiro e o boi, só que o cordeiro rende 30 kg de carcaça enquanto o boi, em média, 230 kg. Em função dos rebanhos reduzidos e dispersos, os trajetos percorridos por estradas de péssimas qualidade para serem completadas as cargas de cordeiro, são muito grandes, aumentando consideravelmente o custo do kg deste produto e mais, muito mais....
Estivemos, estamos até então e não sei até quando com a concorrência do terceiro maior produtor de cordeiros do mercado mundial, o nosso vizinho Uruguai, que tem colocado no nosso mercado nada menos que 95% da sua produção sob forma de cordeiro em pé ou carne resfriada e congelada. É pouco? Quer mais?
O sr. Edson, de Campo Grande (MT), proprietário da Strut Alimentos, me falou que os hermanos colocam lá em Campo Grande carcaças de cordeiros resfriadas ao preço de R$ 7,00 o kg, isto na data de 06/11/09 quando ele me ligou para tentar algum negócio de cordeiro com o RS.
Danilo, sempre gostei da ovelha e não só na brasa ou na panela. No meu escritório, o cordeiro deixa muito pouco quase nada mesmo sob forma de comissão, muito menos que o boi por exemplo, mas eu gosto deste bichinho e vou lutar e defender todos os elos que envolvem esta cadeia e sempre da maneira mais justa possível e dentro das minhas convicções até que achemos juntos, produtor, técnicos, indústria e varejo o equilíbrio destas contas.
Sem mais no momento, vou me despedindo desejando a ti e todos os teus familiares um belo e feliz Ano Novo.”
Gil Tozatti Fernandes

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