segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Comentário ao comentário de Didu Russo

O Olyr Corrêa, do Rio, enviou um comentário que deveria ter sido publicado antes do jantar dos vitivinicultores com o presidente Lula, dia 21, mas se extraviou. Aqui vai. Envolve as reivindicações do setor apresentadas ao presidente, já divulgadas em edições anteriores do Blog.
Eis as 6 reivindicações:
1. Redução da carga tributária – esta medida se faz necessária para dar maior competitividade interna. Em países como Argentina, Chile e membros da Comunidade Européia, que são grandes produtores, os vinhos, por serem um produto de base agrícola e ter grande capacidade de geração de emprego e renda, não têm tributos nas fases de produção da uva e elaboração do vinho. Isto estabelece uma diferença competitiva importante, muito mais favorável a importação do que a exportação.2. Desoneração das exportações – mesmo que os principais impostos sejam deduzidos nas exportações, pelo mesmo motivo exposto no item anterior, nossos produtos ainda apresentam problemas de competitividade, inclusive nas exportações, sendo necessário ampliar os mecanismos de desoneração das importações.3. Taxa cambial – a valorização do Real traz problemas duplos para o setor vitivinícola, pois favorece as importações e dificulta as exportações. Ambas as situações penalizam a indústria brasileira de vinhos.4. Ampliação das ações de promoção das exportações – investimentos na construção e fortalecimento da imagem do país no que tange aos aspectos vitivinícolas, articulação das ações e de uso promocional dos produtos vitivinícolas nas Embaixadas e ampliação de recursos de promoção pela APEX Brasil.5. Programa de modernização e inovação da vitivinicultura – ação articulada e interministerial envolvendo os ministérios da Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Desenvolvimento, Indústria e Comercio Exterior, juntamente como o setor produtivo, para implementação de um programa de modernização e inovação da vitivinicultura.6. Participação do Brasil na OIV – Ampliar e consolidar a participação do Brasil na Organização Internacional da Uva e do Vinho (OIV), da qual o Brasil é membro desde 2005, possibilitando que o setor privado tenha participação de apoio e sustentação às ações desenvolvidas pelo Ministério da Agricultura e MRE. A OIV é um organismo intergovernamental que discute e estabelece regramentos para a produção, comércio e consumo de vinhos.

Comentário ao comentário do Didú Russo

Verdade.
Em Rivera, por R$ 19,00 compra-se 3 litros do Irurtia Tannat. Ou 10 litros do Caserito por R$ 32,00. No comércio.
Afora os vinhos da Santa Rosa, em Bella Unión, que uma cooperativa entrega a R$ 2,50 o litro.
Mas na verdade, o que eu queria era comentar, propondo: vamos esquecer as exportações.
Nós temos um mercado ao nosso alcance de 210 milhões de litros, sem problema de competição com quem quer que seja e com custos imbatíveis (fora os impostos).
Que mercado é este?
É o mercado brasileiro dos substitutos do vinho, que a língua oficial chama "de mesa" (vinho de mesa para mim é o que acompanha bem a comida) e outros chamam de "vinho de garrafão", outros de "morangueiro", outros ainda de "maracujá com morango" e os gringos do exterior, "foxado".
210 milhões de litros são 23 milhões de caixas de vinho ou 280 milhões de garrafas.
É o que se vende no Brasil de "vinho de mesa" em um ano razoável (2005).
A estratégia é muito simples e nada original: com a lei, o marketing, a propaganda, os subsídios e a mitigação (como diria a ministra Dilma) de impostos, vamos inverter o consumo brasileiro e levá-lo ao vinho de viníferas, o dito "vinho fino" (vinho fino para mim é vinho elegante, equilibrado, sem excesso, o inverso do vinho argentino, chileno, australiano y lo demás).
Deixemos para o futuro o mercado internacional, onde agora não somos competitivos com esse tipo de vinho que inunda os supermercados mundiais. Porque sofrer se a lei do menor esforço nos indica um caminho muito mais suave e inteligente?
Em 2008 exportamos 10 milhões de litros de vinho ao preço médio, pasmem, de US$ 0,69 o litro. Para a Rússia, então, vendemos a US$ 0,39 o litro.
Importamos 54 milhões de litros de vinho de viníferas e vendemos 23 milhões de "vinho fino" de manufatura local. Total : 77 milhões de litros.
77+210 = 287 milhões de litros = 383 milhões de garrafas. 32 milhões de caixas.
Não é um bom mercado para começar, juntar experiência e acumular capital?
Façamos um produto diferenciado, um vinho brasileiro. Um vinho que se possa comer com queijos e salames. Um vinho com a acidez dos nossos vinhos, com a leveza dos nossos antigos vinhos de vitis vinífera, com a nossa antiga cor maravilhosa, que a borgonha exalta nos seus pinot noir.
Este vinho tem mercado cativo aqui no Brasil. É como nosso café de coador, a nossa verdadeira bebida nacional. É a nossa cultura.
É só tomarmos uma decisão política de reconversão dos nossos vinhedos, como fizeram os nossos vizinhos e como a França fez em 1927, quando baniu as híbridas.
Se existe algo de positivo na imigração italiana com relação ao vinho, não é seguramente o consumo de vinho de garrafão.
A isto foram compelidos pelas inclemências do clima e das pestes.
A tradição italiana de imenso valor cultural trazida pelos imigrantes é de beber vinho com a comida, como alimento. E é por isso que o Brasil e a Argentina são dos poucos países onde se bebe vinho tinto com queijos e embutidos (os "salumi").
Não é a cultura dos anglo-saxões. Do vinho como álcool. Que produz essas abjetas concocções abusadas de álcool e de cor preta. Para embriagar e não para o prazer e a alimentação.
Essa cultura alimentícia nós temos e é ela que faz consumir a maior parte dos 210 milhões de litros vendidos.
Mas tem que ser algo produzido com custo eficiente e preço justo para a população que bebe esses vinhos.
Será possível? Claro que é!
Por que Argentina e Uruguai puderam e nós não? Por que o povo argentino bebe bonarda e o uruguaio, tannat?
Nós somos muito mais competitivos que eles em qualquer área. É só querer ser.
Vontade política, determinação, dedicação e persistência.
Na minha opinião, de 45 anos bebendo vinho (qualquer"vinho"), o nosso mercado não quer vinho de garrafão. Quer vinho acessível e que acompanhe comida.
Porque não de vitis vinífera?
P.S. A Loiva Maria Ribeiro de Mello, pesquisadora chave da Embrapa nesta área, poderia esclarecer melhor qual o perfil desses bebedores dos 210 milhões de litros de "vinho de mesa".

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi, meu nome é Daniel Berman e eu sou um criador de séries de TV, produtor / diretor, DP, fotógrafo, editor e fundador dos Prémios móvel de fotos.
Gostar de ler o seu post! Continue fazendo o bem!
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