Com a palavra. Marco Danielle, criador do Projeto Tormentas:
“Há algum tempo recebi um e-mail curto e circunspecto de um cliente casual de São Paulo, enófilo atento e investigativo, manifestando interesse em visitar-me para saber um pouco mais sobre o Projeto Tormentas. Até então eu não conhecia Oswaldo Corrêa da Costa. Recentemente, por fim, jantamos juntos. Defini o encontro como não muito mais que a oportunidade agradável de conhecer um simpático casal de apreciadores de grandes vinhos (Oswaldo traz alguns Romanné-Conti na bagagem).
Ao longo da confraternização e apresentação de alguns vinhos, além da economia de palavras - cuidadosamente planejadas - e de uma intelectualidade aguçada, percebi que Oswaldo anotava detalhes precisos do meu discurso, e demonstrava um conhecimento surpreendente sobre aspectos técnicos de enologia.
Discreto sobre seus objetivos antes, durante, e após o encontro, foi apenas alguns dias depois, quando recebi em avant-première a reportagem "Nove Dias na Serra Gaúcha", que constatei que suas anotações eram parte de um dos mais precisos e detalhados olhares sobre o vinho brasileiro publicados nos últimos tempos. É admirável que alguém se disponha a um trabalho tão árduo e disciplinado sem qualquer remuneração, investindo recursos próprios. As entidades de fomento e divulgação do vinho brasileiro deveriam louvar iniciativas independentes como esta, que colaboram para a informação do público e ao mesmo tempo incitam o setor a se aprimorar. Muitos vão considerar o artigo por demais cáustico, contudo, lembro que o caminho da virtuosidade é sempre o mais árduo, e não é nivelando por igual que é bom, o que é ruim, e o que é médio que estaremos incentivando os que se debatem obstinadamente pela excelência.
Referência muito útil para quem planeja uma incursão enogastronômica pela Serra Gaúcha, buscando saber se a nossa cozinha acompanha a ambição de nosso polo vinícola, ou simplesmente obter um retrato preciso do vinho brasileiro atual, a reportagem de Oswaldo Corrêa da Costa representa um dos mais implacáveis, justos e imparciais artigos que já li sobre o tema, verdadeiro xeque à oferta enogastronômica local que, partindo de um crítico cosmopolita, deveria ajudar-nos a "afinar melhor os pianos" antes de enfrentar os palcos desta aldeia global. A julgar pela precisão com que o cronista compilou para o texto as informações decorrentes da minha entrevista (algo raro no meio jornalístico, onde distorções são frequentes), pude inferir que as demais visitas tenham sido reportadas com idêntica fidelidade, resultando numa reportagem cuja liberdade dificilmente seria a mesma se o repórter não gozasse de total independência, ou se trabalhasse para um veículo comercial tendo vinícolas entre os anunciantes. Convido a todos, portanto, a compartilhar deste olhar cordial mas ao mesmo tempo duro, seletivo e pungente, típico de um crítico de arte com larga vivência internacional - um intelectual com background acadêmico invejável, que une a arte às ciências exatas.”
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
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