sábado, 10 de setembro de 2011

Procura pela carne reaquece ovinocultura



Carneiro Grande Campeão Texel na Expointer, da Cabanha Santa Orfila, de Claudino Loro, em Santana do Livramento, vendido por R$ 29 mil.
Foto Eduardo Seidl-Palácio Piratini/D/JN
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Venho escrevendo há muito tempo sobre o crescimento da ovinocultura brasileira nos últimos anos, especialmente as raças de carne, em função do aumento do consumo de carne e conseqüente valorização do produto, tanto para o consumidor, quanto no pagamento dos frigoríficos aos produtores. Quando criamos a nossa Confraria do Cordeiro, em Porto Alegre, há 12 anos, o quilo vivo do cordeiro era mal pago em apenas R$ 1,80. Agora, anda em torno de R$ 3,50 (RS) e R$ 6,00 (SP) e já chegou a R$ 8,00. A demanda de carne se tornou maior do que a oferta. A demanda por animais de corte e de pedigree também, segundo me comentou o Cláudio Arteche, um importante criador de genética de Livramento, com vários animais premiados na recente Expointer, em Esteio. Ele vendeu um carneiro por R$ 9 mil. Já o carneiro Grande Campeão também foi de Livramento, da Cabanha Santa Orfila, de Claudino Loro, criado nos campos do Sarandi, próximo da histórica região onde Bento Gonçalves e Onofre Pires duelaram, durante a Revolução Farroupilha (1835-1845). O carneiro foi vendido por R$ 29mil.
Aliás, a raça texel, como vem acontecendo nos últimos anos, foi a que mais vendeu animais e mais faturou na Expointer 2011. De acordo com a Brastexel, foram vendidos 113 animais pelo total de R$ 542.720,00, Média das fêmeas = R$ 4.362,50, Média dos machos = R$ 6.200,65.
Fiz este “nariz de cera”, como se dizia nos bons tempos em que comecei no jornalismo, há 40 anos, para reproduzir uma excelente matéria que o Olyr Correa me mandou, do Rio, escrita por José Maria Tomazela para O Estado de S. Paulo, grande jornal paulista, no qual tive a honra de trabalhar durante cinco anos. Trata da situação da ovinocultura e de suas perspectivas de crescimento, especialmente porque o Uruguai, “principal fornecedor do Brasil, volta-se ao mercado dos EUA e abre oportunidade para criadores nacionais”. A nota foi publicada dia 24 de agosto de 2011, às 8h24min. Ei-la:
“Um aumento que promete ser duradouro no preço da carne de cordeiro está levando a um reaquecimento no mercado de ovinos de corte no Estado e em outras regiões do Brasil. O preço do animal em ponto de abate, com até 40 quilos de peso vivo, chegou a R$ 6,00 por quilo na semana passada, mais do que o dobro da cotação do início de 2010. No interior paulista, o preço da carcaça oscilava entre R$ 11,00 e R$ 13,50 o quilo, conforme a região.
O valor da carne está em ascensão desde junho do ano passado e, em grande parte, isso decorre da preferência dos uruguaios - tradicionais fornecedores do Brasil - pelo mercado norte-americano. Após a abertura das exportações para os Estados Unidos, o Uruguai reduziu o envio de carne ovina para o Brasil. Assim, os frigoríficos passaram a pagar melhor aos criadores brasileiros.
Também teve influência o ganho em eficiência do setor, que passou a produzir carne com mais qualidade, atraindo consumidores. Como o País não produz o suficiente para suprir o próprio consumo, cortes finos tornaram-se um bem escasso, o que deve garantir um período longo de boas cotações.
Confiante no potencial do mercado brasileiro, há dois anos a empresária Priscilla Quirós fez um teste com um pequeno rebanho em uma fazenda, na região de Campinas (SP). Após um ano de estudos, deu início a seu projeto, com galpão para confinamento de 10 mil cordeiros, fabricação de ração e investimento de R$ 6 milhões. Hoje, a Cabanha Oviedo tem 1.500 matrizes e, até 2012, a meta é chegar a 3.500.
A empresa já confinou seus primeiros lotes de cordeiros e lançará marca premium no primeiro trimestre de 2012, com a expectativa de faturar R$ 2,5 milhões. Assim que a carne premium estiver à venda, a empresa poderá fornecer até 8 toneladas por mês. "O fato de o Uruguai ter conseguido exportar para os EUA foi bom para o Brasil, pois a carne disparou de preço, impulsionando os investimentos", comenta Priscilla.
Ela ainda aponta a importância de uma parceria com outros criadores, pois "neste mercado só sobrevive quem tem estrutura e escala". A carne premium da Cabanha é resultado de um tricross - o cruzamento triplo das raças poll dorset (linhagens dos EUA e Austrália), santa inês (nordeste brasileiro) e white dorper (África do Sul).
Novos plantéis
Produtores que já estavam no mercado, como a Dorper Campo Verde, aproveitam o bom momento para incentivar a formação de novos plantéis, com a venda de reprodutores. Desde 2006, a agropecuária mantém machos e matrizes selecionados das raças dorper e white dorper em Jarinu, região de Jundiaí (SP). São raças consideradas resistentes e usadas para cruzamento com outras de plantel mais expressivo no país, como a santa inês. "A heterose (mistura das raças) dá um ganho expressivo no tempo de abate", diz o agrônomo Carlos Vilhena, gerente da Campo Verde.
O abate precoce, embora não dispense vacinações e cuidados sanitários, encurta também o período em que o animal fica sujeito à doenças e verminoses. Mas a tecnologia é indispensável, diz Vilhena. "Não é animal para criar no quintal. Tem de ser uma atividade bem administrada, seja pequena, média ou grande. O melhor sistema de produção é ter a mãe no campo e o macho na ração. Pode-se terminar o cordeiro em confinamento para ser abatido com 4 ou 5 meses."
Conforme Vilhena, o País conta com 40 mil exemplares de animais selecionados para produzir matrizes e reprodutores. "É pouco para o tamanho do nosso desafio de produzir carne para o mercado interno e externo. Não fazemos mais propaganda para aumentar o consumo de cordeiro porque não temos o produto para entregar. Acabamos de receber consulta da Arábia Saudita para vender carne em larga escala, mas ainda não temos estrutura."
Conforme o gerente de Vendas da Campo Verde, Lucas Heymeier, a carne de cordeiro deve entrar forte nos hábitos de consumo do brasileiro. "A maioria das churrascarias já a inclui no rodízio tradicional. Temos clientes com vários restaurantes e que consomem 10 toneladas de carne por mês sem qualquer investimento em marketing." Ele diz que o animal precoce, abatido com 4 ou 4 meses, antes de atingir a maturidade, produz carne tenra e de sabor delicado. Ele conta que o consumo per capita no Brasil é 0,7 quilo/ano, enquanto a média mundial é de 1,8 quilo. "Temos muito para crescer."

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