quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Fronteira quer vender uva na serra

Santana do Livramento – Os investimentos em conhecimento e capacitações técnicas já aumentaram a qualidade e a produtividade das uvas da Campanha Gaúcha, que é especializada e uma referência em produção de uvas viníferas - aquelas destinadas à elaboração de vinhos finos. Agora, é a vez dos negócios entrarem em ascendência. Para isso, no final de novembro, produtores de Quaraí e Santana do Livramento subiram a Serra em missão comercial, prospectando contatos e aproximando-se das indústrias vinícolas para efetivar a comercialização da safra 2010. A ação beneficiou 25 viticultores, cuja colheita realizam entre janeiro e março. Com produção estimada em 12 milhões de quilos anuais, as uvas da Metade Sul do Estado já são matéria-prima para a elaboração de 15% dos vinhos finos brasileiros. Recentemente, pela safra 2009, conquistaram reconhecimento de qualidade nacional em avaliação promovida pela Associação Brasileira de Enologia (ABE) e Embrapa Uva e Vinho. Os produtores que participaram da missão fazem parte das Associações Quariense dos Fruticultores (Aquafruti) e dos Produtores de Uva de Santana do Livramento (Asprouva). O impulso para as conquistas destes e de outros empreendedores do segmento vem do apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio Grande do Sul (Sebrae/RS), pelo desenvolvimento do projeto Polo de Fruticultura do Pampa Gaúcho. Conforme seu gestor, Tauê Bozzetto Hamm, houve reuniões entre os produtores da Campanha de pequeno e médio porte com cinco vinícolas da Serra Gaúcha que sinalizaram interesse em iniciar ou ampliar a compra de uvas da região. “Além da questão comercial, a utilidade de iniciativas como esta é estreitar a relação entre os dois elos da cadeia, produção e indústria. Assim, os pequenos produtores atendidos podem colher informações sobre tendências de mercado e variedades de uva com potencial de expansão. Isso contribui muito para a evolução da fruticultura”, avalia Hamm. Uvas boas, negócios saudáveis Antes dos trabalhos focados em comercialização, a questão técnica de produção foi contemplada. “Havia falta de um padrão de qualidade entre os produtores. Isso foi resolvido com os Dias de Campo, que difundiram melhores tecnologias de manejo”, explica o gestor. Os resultados dessas mudanças são refletidos hoje pelas frutas de excelente qualidade que a região produz. A produtora Marta Balest, de Quaraí, está animada com o bom momento. A irmã Miria, que é sua sócia, participou da missão e voltou com a expectativa de iniciar o envio de uvas para a Serra. “Destinamos tudo para uma vinícola de Santa Maria, mas poderemos expandir os negócios com estes novos clientes”, afirma.Elas têm uma malharia, mas há cinco anos, percebendo o potencial vitícola da região – que possui solo e climas favoráveis a esta fruta, decidiram investir em vinhedos. Por algum tempo, a atividade não engrenou pela falta de conhecimento técnico, “mas, com o acompanhamento de consultores do Sebrae/RS conseguimos avançar neste sentido e nos firmamos no mercado”, relata Marta. Hoje, são três hectares que geram aproximadamente 40 mil quilos anuais da qualidade Cabernet Sauvignon. “Mas nossa ideia, além de aumentar a colheita, é de diversificar os tipos. A partir das tendências observadas na Serra, a Chardonnay pode ser inserida”, adianta. A produtora prevê que a próxima safra seja entre 30% e 40% maior do que a anterior. Incentivo ampliado em 2010Na região, são 1,5 mil hectares destinados ao cultivo de vinhedos, mas os esforços do Sebrae/RS, que beneficia 60 produtores de uva pelo projeto atual, estão voltados para o aumento da produtividade, já que, aos poucos, a realidade produtiva tem passado por transformações. “A região empenha-se em progredir do status de produtora e revendedora para a agregação de valor. Com os novos empreendimentos aqui instalados, a tendência futura é que a maior parte das frutas seja processada e industrializa em vinícolas locais”, destaca o gestor. E a partir de 2010, o segmento poderá se desenvolver ainda mais através do Vinhos do Pampa Gaúcho. Já são 16 empresas voltadas ao beneficiamento de uvas em funcionamento ou iniciando atividades e a intenção do novo projeto é fomentar a característica vitivinícola, trabalhando ferramentas de gestão, organização e busca de mercados para consolidar os negócios destes empreendimentos. Desafios do clima Para suprir a demanda de vendas, em 2009 os produtores colheram cerca de 15% mais do que o produzido em 2008. Neste momento, porém, Hamm lamenta que problemas relacionados ao clima já sinalizam perdas de produtividade na safra 2010 em função de doenças fúngicas. “Houve ocorrência de fortes temporais e as condições de chuvas e calor favoreceram a disseminação de pragas como o míldio”, informa. Apoio aos fruticultores Além dos vitivinicultores, o Polo de Fruticultura do Pampa Gaúcho atende outros 100 fruticultores em diversos municípios da Regional Campanha e Fronteira Oeste. São produtores de melão, pêssego, figo, oliveiras e citros de mesa. A ação é desenvolvida desde 2008. “Investir na expansão da fruticultura é positivo para a comunidade tanto em aspectos econômicos quanto sociais. Além de diversificar a matriz produtiva dos municípios, gera mais empregos, renda e agrega conhecimento técnico entre os pequenos produtores”, ressalta o gestor. Estatísticas (confira dados de produção e comercialização no Estado e no Brasil – fonte: Instituto Brasileiro do Vinho - Ibravin).
No Brasil- A viticultura ocupa uma área de aproximadamente 100 mil hectares.- A produção de uvas é da ordem de 1,2 milhões de toneladas/ano.- Desta colheita, cerca de 45% se destinam ao processamento, para a elaboração de vinhos, sucos e outros derivados; e 55% são comercializados como uvas de mesa.No RS- Primeiro produtor nacional, o Rio Grande do Sul colhe entre 500 e 600 milhões de quilos de uvas para processamento.- 100 milhões de quilos para consumo direto por ano. - 90% dos sucos e vinhos brasileiros partem de parreirais gaúchos.

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