quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Investimento da Carrau


Javier Carrau nos vinhedos de Rivera e o marco da divisa Brasil-Uruguai na porteira da cantina



Estou voltando de Livramento, onde, além de votar bem e comer um belo churrasco de cordeiro com o Nelson Cardoso, o Derli Menezes e o Nadir Lencina Castilho, autor da letra de “Paisano” , acompanhado por um tannat glorioso, visitei a cantina da Vinícola Carrau, em Rivera, e, em companhia de don Javier Carrau, as obras da outra que está construindo do lado brasileiro. Tive a oportunidade de beber um soberbo sauvignon blanc das terras orientais e garimpar, na adega da bela casa em estilo espanhol construida junto ao Cerro Chapéu, um Gran Tradición J.Carrau Pujol 1995 Cerro Chapéu, assamblage tannat, cabernet franc e cabernet sauvignon. O vinho já está com 15 anos, mas vou aguardar mais um pouco para abri-lo e bebê-lo com um bom camembert.
Com sua conhecida simpatia, don Javier Carrau nos recebeu na bonita casa estilo espanhol que ergueu junto ao Cerro Chapéu, nas proximidades do aeroporto de Rivera, mostrou a cantina, construida de forma subterrânea, abaixo do solo, onde dormem alguns dos bons vinhos da fronteira. Numa área de 350 hectares, ele tem mais de 45 há de vinhedos cabernet sauvignon, tannat, de cujas uvas faz o seu famoso Amat, chardonnay, arinarnoa, merlot, sauvignon blanc, moscato giallo e outras varietais; além de 200 novilhas e 300 ovelhas romney marsh e caramora (cabeça preta). Aliás, fiquei de voltar lá, em dezembro ou janeiro, para degustarmos um “asado” de cordeiro caramora.
Depois, a grande surpresa. Atravessamos a linha divisória Brasil-Uruguai, marcada por marcos de pedra sobre o divisor de águas, e ele nos levou ao ponto onde está construindo uma nova cantina, no lado brasileiro, em Livramento, junto ao Cerro da Trindade. Já há vinhedos brotando no lado santanense e a obra está bem adiantada, com a parte sob o solo, que receberá o processamento e o depósito do vinho, já pronta e o primeiro andar começando a subir. Vai ter até um elevador panorâmico, em vidro, para que se veja o vale e os parreirais.
O projeto arquitetônico foi criado à semelhança da Pata da Oca, símbolo dos Templários, a cavalaria cristã da Idade Média, desenho muito encontrado ao longo do Caminho de Santiago, na Espanha, um dos símbolos usados pelos Mestres Construtores de igrejas e catedrais. O objetivo do dedo maior da Pata da Oca (uma ave) é mostrar o caminho, indicar o rumo, e o dedo da nova cantina indica o rumo, exatamente, do Brasil, que é onde está o futuro do vinho, segundo don Javier Carrau. Além de produzir vinho das uvas que já estão brotando, a cantina, de três andares, vai ter, também, uma pousada de luxo para hospedar até 10 casais de enófilos e visitantes. Haverá um torre, com sala de degustação, e um mirador, que permitirá uma visão ampla dos dois vinhedos e das duas cantinas, a brasileira e a uruguaia. Embora em lados diferentes da fronteira, os prédios estão numa mesma linha, outro simbolismo do catalão.
Ambas as cantinas estão a 10km das cidades de Rivera e de Livramento, metade deles por asfalto; depois, estrada de terra. A reivindicação de Carrau para as duas prefeituras é que mantenham os cinco quilômetros de estrada de terra em bom estado. “Não precisa asfalto, mas ela tem que estar sem buracos, porque a empresa pretende instalar engarrafamento aqui. Assim como está, com buracos, quebra as garrafas que chegam vazias e maltrata o vinho quando elas estiveram cheias”, diz ele. Isso é mais urgente porque, na cantina uruguaia, começará a ser produzido espumante, pelo método champenoise, cujo produto é delicado e precisa ser muito bem tratado para não perder suas qualidades. E don Javier quer fazer um espumante tão bom quanto o Sust Vintage Brut Nature Chardonnay e Pinot Noir que já produz em sua outra cantina, a de Las Violetas. A cantina uruguaia está bem defronte ao marco de fronteira número 610; a brasileira, diante do 611. Para quem gosta tanto de simbologia, sugiro produzir um vinho 610 e outro 611!

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