domingo, 7 de abril de 2013

Idec reprova todas as marcas de queijos pesquisadas


• Das 25 amostras, algumas não continham as quantidades dos nutrientes informadas e cinco apresentaram coliformes fecais.
• Queijos considerados light chegam a ter mil por cento a mais da quantidade de gordura informada no rótulo. Das nove marcas que se dizem light, oito não são.
Pesquisa do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), entre dezembro de 2012 e janeiro de 2013, com 15 marcas de queijo minas frescal, apontou que eles são mais gordurosos e têm menos proteínas do que declaram, e ainda pode provocar uma intoxicação alimentar. O teste foi feito em laboratório especializado, com 25 amostras de queijo minas frescal (light e integral) e identificou coliformes fecais acima do limite permitido em cinco delas. As marcas reprovadas no quesito qualidade sanitária foram: Almeida, Almeida Light, Cascata, Santiago Light e Verinizzi.
Esta é uma pesquisa interessante e a qual, há muito tempo, venho sugerindo que se faça, também, com os azeites que existem no mercado brasileiro, não só quanto ao conteúdo de cada garrafa e lata – são puros ou têm batismo com outros óleos? São corretos os graus de acidez anunciados nos rótulos?. Além de uma desconfiança pessoal, própria, do meu paladar, sei que no Uruguai foi feita pesquisa semelhante e nenhum dos azeiteis vendidos no País era puro de oliva. Além do mais, o Brasil (o Rio Grande do Sul, principalmente), que é um dos maiores importadores de azeite, está começando a produzi-lo aqui e o produto está chegando ao mercado por R$ 28,00 a garrafa de 500ml, quando há muitos importados, do mesmo tamanho, por R$ 6,80 e R$ 16,20. Os produtores locais dizem, sem querer se identificar, que “não pode ser azeite puro”. Já até escrevi que vai se criar, com o azeite, o mesmo problema que existe com o vinho brasileiro em relação ao importado, que não consegue competir em preços!
Voltemos aos queijos. Para a pesquisadora e nutricionista do Idec Ana Paula Bortoletto, apesar de nenhum outro micro-organismo (patogênico ou não) ter sido detectado, o nível de contaminação por coliformes de origem fecal foi alto nos queijos.
A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 12/2001 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que trata do controle sanitário de alimentos, estabelece limite de até 500 Unidades Formadoras de Colônia (UFC) por grama desse micro-organismo para que o produto seja considerado seguro para consumo. As cinco amostras reprovadas têm quantidade dez vezes superior: foram identificadas mais de 5.600 UFC de coliformes fecais em cada grama.
A intoxicação alimentar causada pelos coliformes fecais pode causar diarreia (às vezes com sangue), vômito, dor de estômago, gases, dor abdominal e até infecção urinária ou nos rins. Quanto mais pedaços do lácteo forem ingeridos, maiores as chances de quem comeu passar mal. Além disso, crianças, idosos e pessoas com baixa resistência imunológica (pacientes com câncer ou portadores de HIV, por exemplo) são mais vulneráveis a esses efeitos.
Em outra etapa, o teste verificou a quantidade dos principais nutrientes presentes nesse tipo de queijo: proteínas, gorduras (totais, saturadas, insaturadas e trans), cálcio e sódio. Os valores detectados foram comparados com os declarados na tabela nutricional presente na embalagem dos produtos. Além disso, foi observado se as informações do rótulo seguem as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A conclusão foi que as empresas informam incorretamente a quantidade de nutrientes no rótulo. Alguns têm muito mais gorduras do que declaram, e das nove marcas que se dizem light, oito não são.
As maiores variações entre o valor do rótulo e o real foram identificadas nos queijos light. O pior caso foi o do Dia Light, que tem 932% a mais de gorduras totais em relação ao que é declarado na embalagem. Quase 10 vezes mais. O rótulo informa que uma porção de 30 g do alimento tem apenas 0,5 g desse nutriente, mas, na verdade, contém 5,16 g.
No geral, os produtos apresentam discrepância em mais de um nutriente. O queijo Santiago Light, por exemplo, informa valores muito diferentes do que realmente tem em sua composição para gorduras totais, saturadas e insaturadas, e também para sódio.
Quando se trata de proteínas, o descompasso é generalizado e afeta tanto os light quanto os integrais: em 19 das 25 amostras a quantidade real do nutriente é menor que a informada no rótulo.
"A imprecisão generalizada das informações nutricionais revela um descontrole no processo de fabricação desses produtos e de sua rotulagem”, destaca Carlos Thadeu de Oliveira, gerente técnico do Idec.
Os queijos Puríssimo Light e Santiago Light vão além: o teste identificou que o teor de gorduras totais deles é maior que o dos produtos convencionais da mesma marca. A versão light da marca Puríssimo tem 9,1% mais gorduras totais que o integral; no caso dos queijos Santiago, a diferença é de 0,6% a favor do integral. O Dia light contém praticamente a mesma quantidade de gorduras totais que seu similar integral: o primeiro tem 5,16 g de gorduras totais por porção, e o segundo, 5,30 g. “O consumidor é enganado porque pensa que está comprando um alimento mais saudável, mas que, na verdade, não é”, destaca Ana Paula.
Foram avaliadas 25 amostras de queijos de 15 marcas: Almeida, Almeida Light, Cana do Reino, Cascata, Cascata Light, Cristina, Cristina Light, Cruzília, Dia, Dia Light, Fazenda Bela Vista, Ipanema, Ipanema Light, Montesanina, Puríssimo, Puríssimo Light, Quatá, Quatá Light, Santa Clara 85%, Santa Clara SanBios, Santiago, Santiago Light, Tirolez, Tirolez Light e Vernizzi.
Para a Anvisa, apesar da quantidade limitada de queijos testados, chama a atenção a alta incidência de amostras com problemas. “Os resultados apresentados pelo Idec serão avaliados e as medidas fiscais cabíveis serão adotadas”, promete a agência, por meio de sua assessoria de imprensa. De acordo com o órgão regulador, a legislação sanitária não exige que os fabricantes apresentem laudos que atestem a composição físico-química dos alimentos, mas eles são responsáveis pela qualidade dos produtos que ofertam, bem como pelas informações veiculadas nos mesmos.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) vai analisar o resultado do teste realizado pelo Idec e solicitar que os órgãos estaduais fiscalizem as empresas envolvidas.
Segundo a divisão de leite e derivados do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Mapa, os fabricantes devem fazer análises microbiológicas frequentes para atestar a qualidade de seus produtos. O órgão de inspeção estadual coleta periodicamente amostras dos alimentos para verificar se o controle feito pela empresa está adequado. Se for constatado problema, o governo exige o recolhimento dos produtos, multa a empresa e, dependendo da gravidade da falha, suspende a produção.

Respostas das empresas

O Idec enviou o resultado da pesquisa às empresas responsáveis pelos queijos avaliados, assim como à Anvisa e ao Procon-SP. O Procon avisou que encaminhou o material para a diretoria de fiscalização para que adotem as providências necessárias.
Abaixo um resumo das respostas das empresas:
Análise nutricional e rótulo
As empresas responsáveis pelas marcas Cruzília, Fazenda Bela Vista e Vernizzi alegaram que seus produtos estão de acordo com as normas de rotulagem, pois a RDC nº 360/2003 da Anvisa estabelece tolerância de 20% para mais ou para menos dos teores declarados no rótulo. Elas disseram também que a quantidade de gorduras insaturadas não deveria ser questionada pelo Idec porque sua declaração não é obrigatória.
O Instituto respondeu às empresas reiterando que a legislação em vigor estabelece limite apenas para valores acima do declarado, não para menos. Quanto ao teor de gorduras insaturadas, embora a declaração não seja obrigatória, se o fabricante optar por indicá-lo, a informação deve ser correta.
A responsável pela marca Cristina Light informou que encaminhou amostras do produto para análise e que, se for comprovado que a rotulagem nutricional está incorreta, tomará providências imediatas para sua adequação.
O Idec reforçou que as análises foram feitas em laboratórios credenciados pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para que não haja dúvidas quanto ao resultado da pesquisa.
A Tirolez, além de também defender que a tolerância para o teor de nutrientes declarado no rótulo é para mais ou para menos, justificou que a variação de gorduras saturadas no queijo convencional da marca deve-se à perda de soro decorrente de mudanças na temperatura de refrigeração do produto. Quanto à discrepância no teor de gorduras totais, saturadas e insaturadas na versão light, disse que os resultados do teste do Idec não condizem com o histórico da empresa, que faz análises periódicas, e enviou laudos de maio de 2011 e outubro de 2012.
Para o Idec, embora fatores ambientais possam influenciar na composição do produto, as variações identificadas superam o aceitável. Quanto aos laudos, além de serem antigos, os queijos analisados não são do mesmo lote que os testados pelo Idec.
A responsável pela marca Dia Light avisou que notificou todos os funcionários envolvidos, que solicitou ao Serviço de Inspeção Federal a análise do produto e que adotará todas as medidas necessárias para que o fato não volte a ocorrer.
As donas das marcas Cana do Reino, Puríssimo e Purríssimo Light disseram que vão alterar o rótulo.
A responsável pelas marcas Almeida e Almeida Light afirmou que desde janeiro deste ano substituiu a empresa terceirizada que produz os queijos, pois já havia identificado problemas no processo de fabricação.
Análise microbiológica

Uma empresa, responsável por duas marcas reprovadas (Santiago Light e Cascata), não respondeu até o fechamento desta edição.
Vernizzi: disse que o número de amostras analisadas deveria ser de pelo menos cinco e questionou sobre a temperatura de armazenamento no ponto de venda e no transporte das amostras até o laboratório, argumentando que o produto, por ter alta umidade e sofrer muita manipulação, está sujeito a uma série de contaminações.
O Instituto não se atém à questão de número de amostragens, pois o foco dessa regra é puramente estatístico e não reproduz a realidade vivenciada pelo consumidor na hora da compra. O Idec ainda esclareceu que tomou todos os cuidados necessários com as amostras, conforme exige a metodologia laboratorial (embalagens íntegras, dentro do prazo de validade, amostras de mesma data de fabricação e lote, bem como utilização de caixas isotérmicas para o transporte dos produtos).
Almeida e Almeida Light: a responsável pelas marcas afirmou que desde janeiro deste ano substituiu a empresa terceirizada que produz os queijos, pois já havia identificado problemas no processo de fabricação.







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