A jornalista Martha Caus, chefe da assessoria de
Comunicção do Instituto Brasileiro do Vinho, envia alguma considerações sobre o
debate que se estabeleceu no setor vitivinicola em torno do instituto, do seu
trabalho, que alguns elogiam e outros criticam, das campanhas para aumentar as
vendas de vinho. Vale a pena ler, porque muita gente não conhece todo o
trabalho do Ibravin.
“Entro em
contato – começa Martha - para
acrescentar informações no espírito de contribuir com o esclarecimento de
algumas considerações feitas recentemente sobre o trabalho realizado pelo
Ibravin. De antemão, te agradeço pelo espaço que sempre dedicas ao setor,
contribuindo para a evolução da cadeia produtiva, através da discussão dos
temas pertinentes a vitivinicultura. Acredito que o debate é sempre
construtivo, principalmente, quando se tem como princípio a busca pela solução
ou o aprimoramento de uma situação. Coloco abaixo algumas informações sobre os
temas que abordaste tanto em sua coluna como em seu blog, que acompanho não só
por interesse pessoal, mas pela relevância que tens para o setor.
- O Ibravin é hoje o principal espaço para se
discutir gargalos, buscar soluções, traçar planos e executar ações que visem o
desenvolvimento do setor produtivo da uva e do vinho. E conseguiu legitimar
este reconhecimento graças ao espaço que mantém permanentemente aberto para a
exposição de ideias e o debate. Obviamente não há unanimidade dentro da cadeia
produtiva, como dificilmente se vê em qualquer esfera de representação
coletiva, mas acho que este mérito do Ibravin deve ser reconhecido. Todas as
decisões tomadas e executadas pela entidade são trazidas e aprovadas pelos
representantes do setor que são os que verdadeiramente constituem o instituto.
A presidência do Conselho Deliberativo é alternada a cada dois anos entre
entidades do setor produtivo da uva, das cooperativas e da indústria. Há também
a participação representativa do setor de pesquisa e tecnologia, do segmento
profissional e do setor público. E ainda há o Comitê de Mercado, que ajuda a
balizar as decisões estratégicas, para que estejam alinhadas a um contexto
econômico-comercial.
- Há vozes discordantes que fazem uma militância à distância,
mas felizmente os avanços que o setor tem conquistado se dão graças à coragem,
responsabilidade e comprometimento dos que se propõem a construir, a discutirem
propostas juntos, para defenderem o que acreditam.
- O setor ainda é muito jovem no Brasil (tanto que
como comentaste, chegaste a testemunhar muitas das empresas nascer),
principalmente tendo como comparativo uma indústria centenária e altamente
competitiva mundialmente. A organização e exercício do diálogo ainda estão
amadurecendo, mas já trouxeram muitas conquistas. Em 2013 o Ibravin completou
15 anos de sua fundação e eis um rápido panorama do que conseguiu neste
período:
- Mudanças significativas na legislação como o
alinhamento da legislação brasileira ao regulamento do Mercosul, o estabelecimento
de Padrões de Identidade e Qualidade (PIQs), definição de suco, néctar e
refresco, entre diversas outras mudanças para regulamentação legal.
- O
aparelhamento do Laboratório de Referência Enológica, que tem sido crucial no
aspecto de fiscalização e na realização de análises que contribuem para a
evolução do setor
- A
solicitação permanente por rigor na fiscalização do próprio setor, e de
comercialização de produtos danosos ao consumidor e à concorrência leal
- A
implantação do cadastro vitícola e vinícola, único estado no país a ter este
tipo de ferramenta e monitoramento da produção e comercialização com dados
atualizados anualmente e disponibilizados ao público
- Estruturação
de órgãos de representação e de interface com o governo federal e estadual – as
Câmaras Setoriais vitivinícolas em Brasília e no RS
- Desenvolvimento
de planos anuais de trabalho com o estabelecimento de objetivos e metas, além
da construção de um plano estratégico de longo prazo para balizar a
tomada de decisões de curto e médio prazos
- A construção do diálogo entre os produtores de
uva, a indústria e o governo e, mais recentemente, o estreitamento de relações
com os canais de distribuição, importação e varejo.
- A
participação internacional tanto na esfera de representação (em fóruns
mundiais, eventos e na OIV) como comercialmente, por meio de projetos com
recursos provenientes da Agência Brasileira de Promoção à Exportação e
Investimentos (Apex-Brasil).
- Neste último ponto, aproveito para tentar
esclarecer uma pontuação que surgiu recentemente de que os recursos para
promoção internacional deveriam ser aplicados no mercado interno. O Wines of
Brasil é um projeto realizado em parceria entre o Ibravin e a Apex-Brasil. Os
recursos têm origem no órgão federal e são para uso exclusivo em ações no
mercado externo. Se o Ibravin não estivesse operando o projeto esta verba seria
perdida não acrescentando à promoção no mercado interno, ou ainda, estes
recursos seriam utilizados pelos demais projetos setoriais apoiados pela Apex como
o do café, da carne, da cachaça, do setor têxtil, moveleiro entre outros que
têm ações no exterior financiadas pelo órgão. Vale ressaltar que o mercado do
vinho tem projeção global, por isso as ações do Wines muito têm contribuído
para o aprimoramento das ações em nosso próprio mercado, com impactos positivos
na evolução das empresas brasileiras que têm acesso à feiras e missões
internacionais. Tive a oportunidade de acompanhar um grupo ao exterior, e vi o
caráter transformador que uma experiência dessas traz aos empresários
brasileiros, em especial os de menor porte. E isso, independe dos resultados
comerciais que vêm sendo obtidos.
- Sobre a decisão de se realizar campanhas
promocionais, como todas as demais ações executadas através do Ibravin, foi uma
demanda que partiu do próprio setor, com o apoio do governo do Estado. Em
função do investimento a ser feito para este tipo de ação, priorizou-se o RS,
por ser um dos principais mercados consumidores de vinho no país, “quintal de
casa” do setor produtivo brasileiro e, ainda assim, haver uma participação de
mercado maior dos importados. De qualquer forma, não foi descartada a
possibilidade de ampliação da campanha para fora do estado em 2014, mas esta
decisão será tomada a partir da avaliação de resultados obtidos nesta primeira
etapa, somada a outras questões.
- Quanto aos apontamentos de que no Ibravin
predominam ações que favorecem os “grandes", te apresento um dado de
monitoramento interno do Ibravin a respeito das ações desenvolvidas em 2013 x
participação por porte das empresas: Nas 245 ações realizadas no ano (um
aumento de 99,19% sobre o ano anterior), foi registrada a participação total de
121 empresas, com a seguinte distribuição por porte (segundo critérios Sebrae):
76% micro/pequeno porte, 17% grande porte e 7% médio porte.
- Por fim, sabes bem da rotina dos dirigentes que
estão na defesa constante da competitividade do setor, em especial, na questão
de legislação e carga tributária. Além de manter uma conversa estado por estado
na busca por um tratamento mais isonômico dos impostos, os dirigentes e
executivos mantém um trabalho constante de sensibilização das instâncias
federais para que se reduza o peso dos tributos sobre a cadeia produtiva. Para
ficar em um exemplo recente, foi feito um trabalho corpo a corpo junto aos
deputados federais e ministérios pertinentes para a inserção do setor no
Simples Nacional, algo que beneficiará as pequenas e micro empresas que
representam mais de 90% das empresas vitivinícolas.
Como de hábito, os dirigentes e executivos do
Ibravin estão à disposição para quaisquer esclarecimentos ou apresentação de
dados. E acredita que a discussão contribui para a evolução, desde que o
interesse dos interlocutores seja genuinamente construtivo, como acreditamos
ser o seu caso.”
Forte abraço,
Martha Caus
Esclarecedor, em vários aspectos, o pronunciamento de Martha Caus. Como
acompanho o Ibravin desde sua criação, sei do seu trabalho, e também das críticas que recebe. Uma das poucas
coisas que não me agradam – e é uma opinião extremamente pessoal – são as
campanhas publicitárias que o Instituto tem patrocinado, as quais, no meu
entender, não vendem vinho. A atual, que está nas televisões, então, é uma das
mais inócuas. A culpa não é totalmente do Ibravin, é da falta de criatividade e
empenho dos nossos publicitários, mas como é o instituto – isto é, nós – que as
pagamos, ele deveria ser mais exigente com as agências. Sei, também, de muitas
discordâncias de empresários do setor do vinho com o Ibravin e as tenho
divulgado, quando chegam até mim, mas, aí, é coisa deles. Se quiserem, o Blog Cordeiro
e Vinho continua aberto para receber suas manifestações. Aliás, gostaria de
recebê-las para animar o debate.
Um comentário:
Caro Amigo Ucha, saúde.
Impossível para mim, como pé-franco e biodinâmico não me pronunciar.
Prometo ser bem curto e direto.
Campanha publicitária para vinho é e sempre será MUITO BOA. Afinal o vinho não vende mais principalmente por falta de investimento de TODO o SETOR.
O Ibravin tem excelentes trabalhos realizados, cito apenas o Projeto comprador, o Projeto Imagem e as feiras no exterior, que já seriam suficientes.
Porém ele ainda carrega nas costas os erros recentes do Selo Fiscal (só serviu para aumentar o preço dos vinhos e prejudicar os pequenos produtores) Nunca mais se viu os nªs de contrabando. Acabaram? Ou aumentaram?
E da famigerada miopia do pedido das Salvaguardas.
Enquanto o Ibravin não se livarar disso será assim, fazendo ou não fazendo leva pedrada.
Já passou da hora de convidar a UVIFAN para sentar na mesma mesa. O Ibravin nunca mexeu uma palha pelo simples, no Comitê do Vinho cansamos de falar isso na presença do Paviani que ficou sempre mudo. Mas agora que aparece o projeto do Afif Domingos e toda a força de um macro projeto de Simples Universal eles aparecem todos os dias mostrando empenho na questão.
Ora, todos estamos escolados com as garupas políticas neste país. Pega mal "secondo me", mas se ajudar dane-se, o importante é o Simples sair.
Enquanto o Ibravin não olhar com sinceridade e modéstia, sem arrogância política, a questão dos pequenos produtores a coisa não vai mudar.
bem é minha opinião e gosto muito delas e não tenho vergonha de defende-las. Bacio meu amigo.
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