sexta-feira, 26 de junho de 2015

Sopa de pedra com vinho dos mortos

                         Sopa de pedra na Quinta do Olivardo, em São Roque, São Paulo

Ainda vou ir à cidade de São Roque, em São Paulo, para conhecer os vinhos da região, mas, principalmente, tomar uma sopa de pedras, acompanhada pelo vinho do morto, duas iguarias da Quinat do Olivardo. Sei que o prato leva feijão-vermelho, costelinha de porco, chouriça, morcela, toucinho, batatas, cebola, alho, louro, azeite, entre outros condimentos, é uma sopa típica da culinária de Portugal, em especial de Almeirim, considerada a ‘capital da sopa de pedra’, cidade situada no coração da região do Ribatejo, onde certa vez, jantei com um grande senhor de terras, criador de touros para arena, de cavalos e produtor de vinhos e ele caiu na asneira de dizer que aquele cálice no qual estávamos bebendo um bom tinto estava na sua família há mais de 400 anos. Pra que, perdi o gosto pela pomba com passas de uvas que comiamos, só segurando aquele calice precioso. Imagina se o quebro!  .
Brincadeiras à parte, ao contrário do que se imagina, a sopa de pedra é um prato que leva muitos ingredientes no seu preparo, e que a ‘pedra’ é apenas um pretexto histórico, com base em uma lenda portuguesa.  Diz a lenda difundida em Portugal, que um frade andarilho e faminto, chegando à porta de um agricultor, pediu uma ajuda e não foi atendido. Não perdeu a esperanças e disse aos presentes: “Vou ver se faço um caldinho de pedra”.
 Em seguida pegou uma pedra que estava no chão, limpou a terra e disse que aquela era ideal para fazer um bom caldo. Todos na casa riram do frade. Foi quando o religioso indagou: “Vocês nunca comeram sopa de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa”.
 O grupo respondeu o desafio em coro: “Queremos ver isso”. Foi o que o frade sempre quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, o frade pediu uma panela de barro, encheu de água, colocou a pedra dentro e em seguida levou ao fogo. Assim que a água levantou fervura, ele disse: “Um pedaço de toucinho e este caldo ficará um primor.” Ferveu mais um tempo e os curiosos ainda estavam pasmos. Em seguida o frade provou o caldo e comentou: “Está insosso, se tivesse uma pitada de sal, seria o ideal”.
Salgado o caldo, o frade bradou novamente: “Esse caldo com umas batatas e folhas de couve, até os anjos comeriam”. A dona da casa trouxe os ingredientes fresquinhos da horta. Em seguida o frade clamou: “Se tivesse um pedacinho de chouriça, dava toda graça”. Trouxeram um pedaço de chouriça, ele juntou aos outros que já estavam cozinhando na panela. O cheiro do caldo invadia toda a casa. O frade sentou-se, comeu até lamber o beiço. No fundo da panela a pedra continuava intacta e serviu de questionamento pelos presentes: “Senhor frade, e a pedra?” O religioso andarilho sabiamente respondeu: “A pedra, lavo-a e levo-a comigo para outra vez”. E assim comeu onde não lhe queriam dar nada.
Já o vinho dos mortos é outra tradição em Portugal. Foi  uma medida adotada pelos portugueses para preservar a bebida dos constantes saques franceses e de outros soldados eu invadiam o país no passado. Enterravam as garrafas no meio da pastagem, das plantações de uvas e debaixo das adegas. O que os portugueses não imaginavam é que esse armazenamento inusitado deu novas características ao vinho envelhecido, atraindo mais apreciadores.
A Quinta do Olivardo é uma adega, restaurante, lanchonete e loja de produtos coloniais, vinhos, doces e compotas caseiras, atração turística pela boa comida, ambiente acolhedor e também pela paisagem exuberante. Os parreirais ladeando as instalações conferem o clima bucólico das propriedades rurais da Ilha da Madeira, em Portugal, onde o proprietário Olivardo Saqui buscou inspiração para construir um dos locais mais visitados da Estrada do Vinho.  Está  localizada no km 4 da Estrada do Vinho, em São Roque (SP), com acesso pelo km 58,5 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270). Fica a 60 km de São Paulo e a 45 km de Sorocaba. 

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