segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Discórdia no mundo do vinho - Metendo a colher


Como há mais de  40 anos visito a região vitivinicola da serra gaúcha – meus primeiros trabalhos foram para o jornal Folha da Tarde, de Porto Alegre, na década de 1960 -, vi o setor crescer, acompanhei os investimentos e a “criação” do chamado “vinho brasileiro”, o nascimento de muitas vinícolas e a consolidação de quatro ou cinco grandes grupos, especialmente nos últimos 10 anos; consegui muitos amigos (e alguns inimigos, especialmente quando escrevi, em O Estado de S. Paulo, há alguns anos, que, na serra gaúcha, até de uva se fazia vinho, em função de fraudes descobertas no vinho enviado a granel para São Paulo, ou quando publiquei o que o famoso enólogo francês Michel Rolland, disse pra mim e a Bete Duarte, que o vinho do Brasíl só conquistaria prestígio mundial quando acabasse com o vinho comum (tese com a qual não concordei), o que levou até o meu amigo Hermes Zanetti, então presidente da Aurora, a falar mal de mim) – acho que posso meter a minha colher torta neste angu.
Que há uma séria polêmica entre pequenos e grandes produtores de vinho, quanto ao tratamento dado a cada um, há; que o Ibravin dá tiro no pé, dá; como no não muito distante episódio da tentativa defendida pelo instituto de criar barreiras absurdas ao ingresso de vinho estrangeiro (salvaguardas), querendo com isso reserva de mercado. Felizmente, o governo federal não entrou na conversa. O consumo de vinho brasileiro, pelos brasileiros, aumentaria facilmente se o vinho aqui produzido fosse menos caro e de melhor qualidade, como diz o jornalista Pedro Maciel.
Temos vinhos bons? Temos vinhos excelentes. Mas os preços, em geral, além de mais caros do que os estrangeiros de mesmo nível, estão acima da capacidade de consumo da maioria da população. Como disse um jornalista amigo meu, cujo nome não revelo porque ele não me autorizou, o Ibravin deveria usar o dinheiro do Fundovitis para ajudar os produtores a conseguirem baixar custos, qualificar a gestão e melhorar a qualidade ao invés de estar jogando-o em campanhas publicitárias que até, agora, segundo muitos produtores, tem sido inócuas.

A maioria das pessoas sabe que um dos motivos do vinho ser caro são os altos impostos cobrados pelo governo. O que deve ser feito? Mostrar isso e lutar, no Parlamento e no Executivo, para reduzir a carga fiscal. Logística, transporte, falta de mão de obra também encarecem, mas tudo tem solução se houver disposição de procurá-la. Nesta história toda, uma das coisas que sempre vi em mais de 40 anos de visitas aos vinhedos, quem menos ganha é o produtor da matéria-prima, da uva, e, mesmo assim, dá para viver bem, como se vê na linda, agradável e simpática região da uva e do vinho na serra gaúcha, bordada de casas novas e grandes instalações para produção de vinhos. Não incluo aqui as novas províncias vinícolas do Rio Grande do Sul – Encruzilhada e Campanha, principalmente – porque lá os novos projetos são maiores, mais empresariais, o que também é um sinal de que o setor representa bons negócios e rende dinheiro.

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