José Gonçalves, da Monte Novo e Figueirinha
Era noite escura quando deixamos Ferreira do Alentejo e
pegamos a estrada para Beja, onde teríamos o encontro com o enólogo José
Gonçalves, da Sociedade Agrícola Monte
Novo e Figueirinha, marcado para o restaurante Vovó Joaquina (rua do Sembrano,
57), onde, mais uma vez, além dos bons vinhos, experimentamos outras
especiarias da cozinha alentejana. O restaurante é num casarão antigo, no
centro de Beja, nas proximidades do local onde foi descoberta uma cidade da Era
do Ferro, sob a atual área urbana. É decorado com antiguidades e com fotos de
pessoas do passado, criando um clima art-decô, mas a freqüência é de jovens e
apreciadores da boa comida. Um pouco antes de entrar no restaurante vi uma cena
que me recordou, com intensidade, um período que morei em Portugal, nos anos de
1970, e ia para o bairro da Mouraria, em Lisboa, em companhia do Clóvis Ott e
da Vera Renner, comer sardinhas assadas nos fogareiros de brasa, nas esquinas
ou à porta das casas. Na rua Sembrano, em Beja, um homem abanava seu fogareiro no qual
três sardinhas assavam e inundavam o ar com o cheiro característico.
José Gonçalves, amigo dos donos do restaurante e entusiasta do
projeto, começou informando que a Monte Novo e Figueirinha nasceu em 1998, numa
área de 300 hectares, em S. Brissos, Beja, 160 há dedicados a oliveiras e 40 há
a vinhas. A adega foi construída em 2003 e produz 1 milhão de garrafas/ano. O
azeite, que nós provamos, primeiro em colheres e, depois, em pequenos copinhos,
como deve ser, é maravilhoso e se chama Azeite Herdade da Figueirinha. A
produção é de sete milhões de quilos de azeitonas/ano. São 50 mil árvores no
olival das espécies galega, sobrançosa e ordevil. O azeite não é filtrado, o
que o torna mais fresco ao paladar, mais intenso, mais picante. Com pão
alentejano, é fantástico. Como sempre, começamos com os petiscos: cogumelos com
bacon e muzzarela, queijo de cabra com nozes caramelizadas, mimos de porco,
plumas de porco e picapau de porco.
A colheita das uvas é feita à máquina. Comentei com
Gonçalves que foi em Portugal que vi, pela primeira vez, a colheita mecânica de
uvas para vinhos, nos idos de 1970, no Ribatejo, e fiquei impressionado com a
violência do equipamento em relação à parreira, que ficava quase destruída. Hoje,
a tecnologia evoluiu, as vinha foram plantadas em alturas mais adequadas à
máquina, que não só colhe as uvas, como também as limpa de folhas, talos e outros
detritos, entregando-as prontas na cantina. Uma máquina colhe um hectare de
vinhedo por hora. Quando é feita a colheita manual, são necessários 30 pessoas
para fazer o mesmo serviço durante um dia.
O primeiro vinho foi o Intuição Branco 2012, com Antão
Vaz, Arinto e Chardonnay, 12,8º de álcool, de cor citrina, aroma a frutos
tropicais, leve e fresco. Depois, o Figueirinha Branco Reserva 2012, com
Chardonnay, Antão Vaz e Arinto, que mostrou clara fruta limpa, ideal para
acompanhar pratos com peixes e mariscos, acidez ótima, 13º de álcool. O
terceiro foi o Rosé Amnésia 2013, ano considerado muito bom por Gonçalves, com
100% de Touriga Nacional, 13,5º de álcool, um vinho que foge do padrão, não é
tão leve como costumam ser os rosés.
O quarto vinho foi o Figueirinha Brut 2011,espumante com 5% de Pinot Noir e 95% Chardonnay. Tem
aroma floral, toque de mel, perlage fina, é fresco, com boa acidez,
persistente, bom para aperitivo, com 12,5º de álcool. É vendido por E 7,49, em
Portugal. O quinto foi o Amnésia Tinto 2009, com Touriga Nacional, Syrah e
Aragonez, cor rubi intenso, aromas de frutos vermelhos, chá preto, taninos
sauves, acidez equilibrada., 13,5º de álcool. O sexto vinho foi o Herdade da
Figueirinha Tinto Reserva 2009, com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet,
Syrah e Cabernet Sauvignon, também de cor rubi intenso, aromas a frutas
vermelhas bem maduras, baunilha, boa acidez, taninos suaves, 13,5º de álcoll,
com corpo e estrutura, que harmonizou muito bem com os bifes de porco preto com
batatas doces fritas que pedi.
Os dois últimos vinhos da noite no Vovó Joaquina foram o
Fonte Mouro Reserva Tinto 2011 e o Fonte Mouro
Garrafeira Tinto 2003. . O primeiro, 100% Touriga Nacional, tem 14,5º de
álcool, cor rubi intensa, aromas a frutos pretos e alguma notas florais e de
especiarias, taninos suaves, boa acidez e final longo. O segundo, com
Trincadeira, Alicante Bouschet e Aragonez, mostra ser um vinho com grande
longevidade, 14,2º de álcool, passou 14 meses em barricas de carvalho francês e
americano. É vendido a E 15,00.
Herdade do Monte Novo e Figueirinha – e-mail: adega@montenovoefigueirinha.pt
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