Cubas na adega da Herdade do Arrepiado Velho
Marília, enóloga-residente da Arrepiado Velho
Em Sousel, a cerca de 40 quilômetros de Portalegre, no
Alto Alentejo, está a Herdade do Arrepiado Velho, com 100 hectares de área, dos
quais 40 ocupados com vinhas, que produzem cerca de 50 mil garrafas/ano. É um
projeto novo, de 2001, da família Antunes, que também planta oliveiras e cria
bovinos da raça Charolês. Nuno Ramalho, comercial, e o enólogo António Maçanita
assessoram a família e selecionaram as castas tinta Touriga Nacional (42%),
Syrah (18%), Cabernet Sauvignon (24%), e Petit Verdot (16%) e brancas Viognier (30%), Antão Vaz (22%), Chardonnay (8%), Verdelho (15%) e Riesling
(15%).
A degustação começou com vinhos do ano, 2013, tirados
diretamente das cubas pelo Antonio Antunes e pela enóloga-residente Marilia, um Riesling e um
Verdelho, claramente muito jovens, ainda não prontos, mas com boas indicações
de qualidade e frescos.Depois, fomos para o Antão Vaz, Chardonnay e Riesling
base para o Reserva 2012, que já mostrou estrutura e muita mineralidade, vinda
do solo xistoso. Depois, o Reserva Tinto 2011, 80% Touriga Nacional e 20%
Syrah, bem estruturado, com taninos acentuados, ainda precisando de algum
tempo.
E, logo, uma surpresa, bem típica da audácia da família,
disposta a apresentar vinhos fora do comum, um 100% Syrah 2009, intitulado
Brett Edition Reserva Tinto, que passou 16 meses em barrica de carvalho
francês, 14,5º de álcool, cor rubi-violeta, concentrado, nariz exuberante,
caixa de cigarro, couro, especiarias e groselhas pretas, com um ataque redondo,
suave, rico, boa frescura e persistência. O brett divide os entendidos em
vinhos. Alguns dizem que é o grande inimigo dos vinhos de qualidade, pois o
microorganismo que se desenvolve tem aromas “de rato”, "de remédio”, "de urina
de cavalo”. Brett é o nome que se dá à levedura Brettanomyces/Dekkera, que
produz aromas descritos como suor de cavalo e cabedal, considerados defeitos,
por uns, virtudes por outros. “Na primeira edição – escreveu o enólogo Maçanita – a
natureza decidiu tomar liderança na enologia, já no final do estágio em
barrica. Na última edição, estagiou parte do Syrah nas barricas da edição
anterior. O resultado do vinho é multidimensional, produzindo o Brett níveis de
complexidade aromática, que só seriam possíveis com vários anos de garrafa, mas
mantendo ainda toda a força.” Todos os grandes vinhos de Bordeaux, na França,
tem toque de brett, segundo alguns. No caso da Herdade do Arrepiado Velho,
pareceu-me um defeito que se tornou positivo, deu profundidade ao vinho. O
rótulo traz um cavalo escoiceando, mas o vinho não é um coice. Está à venda, em
Portugal, por E 18,96. No Brasil, cerca de R$ 200,00.
O quinto vinho foi o Herdade do Arrepiado Velho Branco
2012, com 60% de Antão Vaz e 10% de Viognier, mais Verdelho e Riesling.
Resultou num vinho simples, direto, fresco, para acompanhar pescado ou,
simplesmente, ser bebido num final de tarde. Depois, o Riesling de Netas 2011,
100%. Foram feitas apenas mil garrafas e vendidas em dois dias. Delicado,
elegante, prazeroso, com 13,5º de álcool, um vinho fantástico, mas que não vai
mais ser produzido porque o míldio, uma doença da vinha, tirou cerca de 80% da
produção de uvas prevista. O sétimo, foi o Herdade do Arrepiado Velho Collection
2010, com 60% de Antão Vaz, 25% de Viognier e 15% de Riesling, com um toque
discreto de madeira no retrogosto. É um vinho do Alentejo mais moderno. O
Herdade do Arrepiado Velho Rosé 2012, com Touriga Nacional (80%) eSyrah (20%)
mostrou-se gastronômico, ideal para acompanhar massas, tem aromas florais e de
frutas tropicais. E o Herdade do Arrepiado Velho Tinto 2012, 100% Touriga
Nacional, passou de seis a oito meses em barricas de carvalho francês, mas se
mostrou bastante jovem, cor profunda, demorou um pouco para abrir na taça, com
14,5º de álcool.
Finalmente, degustamos o Herdade do Arrepiado Velho
Collection 2008, com 65% de Touriga Nacional, 15% de Petit Verdot, 10% de Syrah
e 10% de Cabernet Sauvignon, e o Arrepiado Velho 2007, com as mesmas castas e
proporções. Ambos mostraram boa estrutura e boa acidez. O 2007, mais evoluído
do que o 2008, o que parece óbvio, mas, em vinho, nem sempre é assim. Ambos são
vendidos a E 30,00.
Herdade do Arrepiado Velho – e-mail: amantunes@arrepiadovelho.com
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