quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Alentejo 13 – Herdade do Arrepiado Velho


  António Antunes, da Herdade Arrepiado Velho



Cubas na adega da Herdade do Arrepiado Velho
Marília, enóloga-residente da Arrepiado Velho

Em Sousel, a cerca de 40 quilômetros de Portalegre, no Alto Alentejo, está a Herdade do Arrepiado Velho, com 100 hectares de área, dos quais 40 ocupados com vinhas, que produzem cerca de 50 mil garrafas/ano. É um projeto novo, de 2001, da família Antunes, que também planta oliveiras e cria bovinos da raça Charolês. Nuno Ramalho, comercial, e o enólogo António Maçanita assessoram a família e selecionaram as castas tinta Touriga Nacional (42%), Syrah (18%), Cabernet Sauvignon (24%), e Petit Verdot (16%) e brancas  Viognier (30%), Antão Vaz (22%),  Chardonnay (8%), Verdelho (15%) e Riesling (15%).
A degustação começou com vinhos do ano, 2013, tirados diretamente das cubas pelo Antonio Antunes e pela enóloga-residente Marilia, um Riesling e um Verdelho, claramente muito jovens, ainda não prontos, mas com boas indicações de qualidade e frescos.Depois, fomos para o Antão Vaz, Chardonnay e Riesling base para o Reserva 2012, que já mostrou estrutura e muita mineralidade, vinda do solo xistoso. Depois, o Reserva Tinto 2011, 80% Touriga Nacional e 20% Syrah, bem estruturado, com taninos acentuados, ainda precisando de algum tempo.
E, logo, uma surpresa, bem típica da audácia da família, disposta a apresentar vinhos fora do comum, um 100% Syrah 2009, intitulado Brett Edition Reserva Tinto, que passou 16 meses em barrica de carvalho francês, 14,5º de álcool, cor rubi-violeta, concentrado, nariz exuberante, caixa de cigarro, couro, especiarias e groselhas pretas, com um ataque redondo, suave, rico, boa frescura e persistência. O brett divide os entendidos em vinhos. Alguns dizem que é o grande inimigo dos vinhos de qualidade, pois o microorganismo que se desenvolve tem aromas “de rato”, "de remédio”, "de urina de cavalo”. Brett é o nome que se dá à levedura Brettanomyces/Dekkera, que produz aromas descritos como suor de cavalo e cabedal, considerados defeitos, por uns, virtudes por outros. “Na primeira edição – escreveu o enólogo Maçanita – a natureza decidiu tomar liderança na enologia, já no final do estágio em barrica. Na última edição, estagiou parte do Syrah nas barricas da edição anterior. O resultado do vinho é multidimensional, produzindo o Brett níveis de complexidade aromática, que só seriam possíveis com vários anos de garrafa, mas mantendo ainda toda a força.” Todos os grandes vinhos de Bordeaux, na França, tem toque de brett, segundo alguns. No caso da Herdade do Arrepiado Velho, pareceu-me um defeito que se tornou positivo, deu profundidade ao vinho. O rótulo traz um cavalo escoiceando, mas o vinho não é um coice. Está à venda, em Portugal, por E 18,96. No Brasil, cerca de R$ 200,00.
O quinto vinho foi o Herdade do Arrepiado Velho Branco 2012, com 60% de Antão Vaz e 10% de Viognier, mais Verdelho e Riesling. Resultou num vinho simples, direto, fresco, para acompanhar pescado ou, simplesmente, ser bebido num final de tarde. Depois, o Riesling de Netas 2011, 100%. Foram feitas apenas mil garrafas e vendidas em dois dias. Delicado, elegante, prazeroso, com 13,5º de álcool, um vinho fantástico, mas que não vai mais ser produzido porque o míldio, uma doença da vinha, tirou cerca de 80% da produção de uvas prevista. O sétimo, foi o Herdade do Arrepiado Velho Collection 2010, com 60% de Antão Vaz, 25% de Viognier e 15% de Riesling, com um toque discreto de madeira no retrogosto. É um vinho do Alentejo mais moderno. O Herdade do Arrepiado Velho Rosé 2012, com Touriga Nacional (80%) eSyrah (20%) mostrou-se gastronômico, ideal para acompanhar massas, tem aromas florais e de frutas tropicais. E o Herdade do Arrepiado Velho Tinto 2012, 100% Touriga Nacional, passou de seis a oito meses em barricas de carvalho francês, mas se mostrou bastante jovem, cor profunda, demorou um pouco para abrir na taça, com 14,5º de álcool.
Finalmente, degustamos o Herdade do Arrepiado Velho Collection 2008, com 65% de Touriga Nacional, 15% de Petit Verdot, 10% de Syrah e 10% de Cabernet Sauvignon, e o Arrepiado Velho 2007, com as mesmas castas e proporções. Ambos mostraram boa estrutura e boa acidez. O 2007, mais evoluído do que o 2008, o que parece óbvio, mas, em vinho, nem sempre é assim. Ambos são vendidos a E 30,00.

Herdade do Arrepiado Velho – e-mail: amantunes@arrepiadovelho.com

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