quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Alentejo 01 – Alentejo já exporta 2,3 milhões de litros de vinhos para o Brasil e quer aumentar as vendas


                                          Maria Amélia Vaz da Silva
                                          Maria Teresa Chicau
O nosso grupo jantando com Luís e Miguel Douro: Karina Papa, Danilo Ucha, Luis, Miguel, Jeriel Costa e Pedro Mello e Souza

O território do Alentejo, em Portugal, que tem este nome porque está “além do Tejo”, o rio caudaloso e histórico que banha Lisboa, produz vinhos há mais de dois mil anos, desde os tartessos, da cultura megalítica (José Gonçalves, da Herdade Monte Novo e Figueirinha nos mostrou os restos de uma cidade da Era do Ferro, descoberta sob a atual cidade de Beja), passando por fenícios, gregos, romanos e outros povos que ocuparam a península ibérica. Neste tempo todo, teve altos e baixos, mas sempre conhecido como um bom vinho. Hoje, o Alentejo vive um novo momento de grandes vinhos e partiu para a conquista de mercados pelo mundo todo, inclusive o Brasil, para onde já exporta 2.340.000 litros/ano e pretende aumentar as vendas. Outros mercados importantes são Angola (3.912.000 litros), Estados Unidos (1.386.000 l), China (782.000 l), Canadá (753.000 l), Suiça (554.000 l), Japão (249.000 l), Russia (209.000 l), Moçambique (169.000 l) e Noruega (118.000 l).
Estive alguns dias visitando vinícolas no Alentejo, em companhia dos colegas brasileiros Karina Papa, chefe de cozinha e blogueira, de Sorocaba (SP), Jeriel Costa, do Blog do Jeriel, também de São Paulo, e do Pedro Mello e Souza, do Rio, especialista em vinhos e comidas que está concluindo uma enciclopédia sobre estes temas já com 50 mil verbetes (o Larousse tem 9 mil). Nossa guia foi a Maria Amélia Vaz da Silva, diretora de marketing da Comissão Vitivinicola Regional Alentejana (CVRA), que, além de nos apresentar a produtores e enólogos, nos forneceu as informações sobre o setor que vou usar nestes textos. Estivemos na sede da CVRA, em Évora, onde fizemos degustação dos vinhos Herdade da Comenda Grande e da Casa Agrícola HMR e conhecemos a Maria Teresa Chicau, responsável pela divulgação dos eventos da CVRA.
A CVRA reúne 360 associados (263 produtores mais 97 comerciantes de vinhos) que plantam 21.970 hectares, e produzem, em 11.371 ha, vinhos considerados DOC – Denominação de Origem Controlada – e em 10.599 há vinhos RA – Regional Alentejano. A produção média por hectare é de 5.500 kg. A região produz  22,7% dos vinhos portugueses.Em 2012, a produção do Alentejo foi 78,2% de tintos, 20,4% de brancos e 1,4% de roses.
Existem 8 regiões demarcadas para vinho DOC – Borba, Évora, Granja-Amareleja, Moura, Portalegre, Redondo, Reguengos e Vidigueira -, nas quais só podem ser produzidas, entre as uvas tintas, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Cabernet Sauvignon, Castelão, Syrah, Touriga Nacional e Trincadeira. Entre as brancas, Antão Vaz, Arinto, Fernão Pires, Manteúdo,Perrum, Rabo-de-Ovelha, Roupeiro (Siria) e Trincadeira das Pratas (Tamarez. Mas podem participar do vinho, numa proporção de até 25%, as tintas Baga, Caladoc, Carignan, Cinsaut, Corropio, Grand Noir, Grenache, Tinta Grossa, Manteúdo Preto, Merlot, Moreto, Petit Verdot, Pinor Noir, Tannat, Tinta Barroca, Tinta Caiada, Tinta Carvalha, Tinta Miúda, Tinto Cão, Touriga Franca e Zinfandel e as brancas Alicante Branco, Alvarinho, Bical, Chadonnay, Chasselas, Diagalves, Encruzado, Gewurztraminer, Gouveio, Lairão, Malvasia Fina, Malvasia Rei (Assrio), Moscatel Graúdo, Mourisco Branco, Pinot Gris, Riesling, Sauvignon, Sémillon, Sercial, Tália, Verdelho, Viognier e Viosinho.
Todas as castas autorizadas para a elbaoração dos vinhos DOC podem ser usadas, em qualquer porcentagem, para a produção do Vinho Regional Alentejano.

Comissão Vitivinícola Regional Alentejana - e-mail: cvra@vinhosdoalentejo.pt

Alentejo 02 – Herdade da Ajuda Nova, tradição e modernidade



                 Alberto Capitão, enólogo-residente da Ajuda Nova
                                          Herdade da Ajuda Nova
Começamos as degustações numa manhã fria e chuvosa de 21 de janeiro, na Herdade da Ajuda Nova, em Vendas Novas, recebidos pelo enólogo-residente Alberto Capitão Trata-se de uma quinta com 121 hectares de vinha tinta e branca em plena produção, 25 das quais plantadas em 2008, propriedade de Herdade da Ajuda Nova Sociedade Agrícola Lda,  cujo dono e administrador é Pedro Barreto, que   começou a trabalhar com vinhos modernos a partir de 2007, embora algumas vinhas tenham  mais de 30 anos, plantadas pelos proprietários anteriores.. Na primavera, serão plantados mais 30 hectares. A produção já foi de um milhão de litros. Hoje, está em 800 mil litros/ano. Seus vinhos principais são vendidos, em Portugal, por cerca de E 2,50, mas chegam no Brasil muito caros por causa dos impostos e das margens de lucro dos importadores. 
A primeira prova foi de um Vale do Chafariz Reserva 2011.  É um Reserva, elaborado com Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet. Ainda não está pronto, mas promete ser um grande vinho, untuoso, estrutura de boca redonda, ideal para companhar carnes bem temperadas.. Depois, degustamos o Ajuda 2013, também da cuba, com 50% de Arinto, 30% de Antão Vaz e 20% de Verdelho, também Reserva, com muita fruta, fresco, elegante na boca, ideal para peixes e carnes brancas.
Seguiu-se o Ajuda 2012, com Arinto, Antão Vaz e Verdelho. A Arinto se destaca, chamando para os frutos tropicais, como manga e goiaba. Um vinho ideal para o verão. O quarto vinho foi um Herdade da Ajuda Rosé 2013, retirado também da cuba. Elaborado com Aragonez e Castelão, está fresco e vibrante, bom de beber, redondo. Depois, fomos para o Herdade da Ajuda Reserva Branco 2012, com Arinto e Antão Vaz, que passou quatro meses em barrica de carvalho francês, vendido, em Portugal, por E 14,00. É um vinho ideal para companhar peixes gordos assados no forno. Talvez um pargo.
Os tintos da Herdade da Ajuda começaram com Vale do Chafariz 2012, elaborado com Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, com excelente aroma de frutos vermelhos maduros, taninos novos, e venda por E 2,50.. Capitão garantiu que o 2013 vai ser melhor porque o ano foi muito bom para as vinhas.. Tem 13,5º de álcool. Seu nome e rótulo é uma homenagem ao chafariz dos Duques de Bragança que existe em Vendas Novas.
Seguiu-se o Ajuda Tinto 2012, com 30% de Alicante Bouschet, 20% de Aragonez, 20% de Touriga Nacional, 20% de Trincadeira e 10% de Syrah, com 13,5º de álcool. Tem aromas primários de frutos vermelhos muito maduros, baunilha e menta. Depois, o Vale do Chafariz Reserva 2009, com Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet. Estagiou em barricas de carvalho francês e americano, ainda em evolução, taninos maduros, boa acidez e final de boca intenso, 13,4º de álcool, muito bom para acompanhar carnes bem temperadas e queijos de pasta mole. Seguiu-se um Herdade da Ajuda Reserva 2009, com mais álcool, 14,5º, elaborado com 40% de Syrah, 40% de Touriga Nacional e 20% de Alicante Bouschet,  resultando num vinho de cor grená, com ótima fruta, taninos redondos e aveludados, ideal para acompanhar carnes bem condimentadas. Foi elaborado com uvas bem maduras.
Já o Herdade da Ajuda 2009, elaborado com Syrah e Touriga Nacional, passou por 12 meses em barrica de carvalho novo francês e americano. Tem aromas complexos de chocolate negro. Finalmente, degustamos o Herdade da Ajuda Premium 2009, 100% Alicante Bouschet, uma uva que encontrou sua casa no Alentejo., o seu terroir. Em outros locais, ela costuma produzir um vinho muito agressivo. Este não o é, embora tenha passado por 11 meses em madeira.. É um vinho vendido a E 19,80..
Herdade da Ajuda – e-mail: geral@herdadedaajuda.pt

Alentejo 03 – Burras com migas de aspargos


Depois de tanto vinho, nada como um bom almoço, com vinho. Fomos almoçar no restaurante Canto dos Sabores, de Paula Monteiro e Glória Oliveira, em Vendas Novas (rua Capitão Custódio Janeiro Santana,lote 7 R/c). A Paula nos ofereceu um verdadeiro desfile de pratos do Alentejo, como torresmos do rissol, queijo de ovelha curado, feito em Évora, morcilha preta em cima de uma maçã assada, ovas de peixe, ovos com aspargos, cogumelos recheados, rabo de boi chufado, sopa de cação, açorda de bacalhau com ovo, sopa de massa com peixe, pezinhos de porco preto e burras com migas de aspargos, nada mais do que as bochechas do porco preto assadas.. Para acompanhar, bebemos Herdade da Ajuda Branco Reserva 2012 e o Herdade da Ajuda Tinto Reserva 2009. A sobremesa foi arroz doce.
Canto dos Sabores – e-mail; geral@cantodossabores.com

Alentejo 04 – Casa Agrícola Herdade Monte da Ribeira


João Carmona e Nuno Elias, da Herdade Monte da Ribeira

À noite, não chovia mais, embora a bela cidade de Évora continuasse molhada e fria. E lá, na sede da Comissão Vitivinicola Regional do Alentejo, depois de cumprimentar a Maria Teresa Chicau, que coordena as provas de vinhos das Semanas dos Produtores, fomos degustar os vinhos de João Carmona e do enólogo Nuno Elias, da Casa Agrícola HMR, Herdade Monte da Ribeira. Começamos com o branco Varal 2013, elaborado com Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, 12,5º de álcool, apresentado pelo Nuno Elias, que o elaborou, junto com o enólogo Luís Duarte. É um vinho sem aresta, que desce muito bem, fresco e frutado. Seguiu-se outro branco, o Pousio 2013, com Verdelho, Roupeiro e Antão Vaz, 12,5º de álcool, fino, elegante, frutado e fresco.
Os tintos começaram com Varal 2011, com Alfrocheiro, Aragonez e Trincadeira, 14º de álcool, um vinho franco, com boa acidez, que vai se abrindo à medida que fica no cálice. Depois, o Pousio 2012, elaborado com as uvas Syrah, Trincadeira e Aragonez, 14º de álcool, o que mais vende, segundo Carmona, com preço de E 3,99. Ganhou Medalha de Ouro 2013 no Concurso de Vinhos de Portugal. A Syrah predomina sobre as outras duas castas e garante um vinho de caráter, com boa acidez e permanência na boca.
O vinho seguinte merece um destaque. Foi o Pousio Reserva 2012, elaborado com Syrah, Alicante Bouschet e Trincadeira, 14º de álcool, que apareceu com boa intensidade de frutos vermelhos negros. Passou nove meses em carvalho francês, mas a madeira surge muito sutil. Finalmente, um vinho de preço mais alto, E 14,5, o Quatro Caminhos Reserva 2010, com Syrah, Alicante Bouschet e Touriga Nacional, 14,5º álcool, que passou um ano em barricas novas de carvalho francês. É volumoso na boca e deve se sair muito bem com carnes pesadas. Tem claras notas florais e de frutas, mas sem a nota vegetal que, muitas vezes, aparece com a Alicante Bouschet..
A Herdade Monte da Ribeira, que fica em Vidigueira, tem uma área de 1.000 hectares, mas apenas 47 ha são plantados com vinhas. A produção média é de 400 mil garrafas/ano.
Herdade Monte da Ribeira: geralcasaagricolahtmr.pt



Alentejo 05 – Herdade do Monte da Comenda Grande

Nuno Lopes, Francisco Pimenta e Antonio Lopes, da Herdade Monte da Comenda Grande

Depois de ouvir João Carmona e Nuno Elias e beber os vinhos da HMR, fomos ouvir, ainda na sede da CVRA, os irmão Antonio e Nuno Noronha Lopes e Francisco Pimenta, que falaram sobre os vinhos que produzem na Herdade Monte da Comenda Grande, em Arraiolos, que não é famosa só pelos tapetes que levam seu nome. Situada a 20km de Évora, é uma propriedade de longa tradição (desde 1880) na produção de vinhos, cortiça, azeite, ovelhas e gado alentejano. Como periodicamente aconteceu no passado, as vinhas foram abandonadas, mas os dois irmão resolveram retomá-las, em 2000, plantando 20 ha. Hoje, já são 43 ha, numa área total de 700 há, onde se faz, também agroturismo, com a oferta de oito apartamentos aos visitantes.
José Pimenta é o enólogo e começou apresentando um espumante 2013, 100% Sauvignon, sem madeira, leve, fresco, bem marcante, untuoso na boca. Depois, um Verdelho 100%, 2013, com Verdelho Gouveia, com muita banana, bem estruturado, que expressa muito bem a casta. “Fazemos e vendemos os vinhos que gostamos”, informou Antonio Lopes.
O terceiro vinho foi o Comenda Grande Branco 2013, com Antão Vaz, Arinto e Verdelho, muito bem estruturado, grande complexidade aromática, boca cheia, caráter muito vincado. Seguiu-se o Comenda Grande Rosé 2012, com 90% Alfrocheiro e 10% Touriga Nacional, frutado e fresco como são os bons rosés, vinho ideal para o verão.
O quinto foi um Espumante Brut 2010, elaborado pelo método champenoise, com 12 meses de garrafa. Fresco, fácil de beber, muito citrino, jovem, 100% Arinto. O sexto vinho foi o principal da casa, o Comenda Grande Tinto 2010, um corte Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Syrah, Tinta Caiada, Alfrocehrio e Cabernet Sauvignon. Passou por madeira já usada. Forte, pujante, persiste na boca, tem fruta madura e é bem equilibrado na boca. Outro grande vinho veio a seguir, o Comenda Grande Seis Castas 2011,. As seis variedades de uvas são vinificadas separadamente e, depois, o enólogo faz a assamblage: Syrah, Alicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira e Cabernet Sauvignon. Tem 15º de álcool. Mostra a exuberância do corte e tem muita cor.É vendido por E 15,00.
Finalmente, o último vinho da degustação da Comenda Grande, mas não o último da noite. O Comenda Grande Reserva 2008 , também com 15º graus de álcool, elaborado  com 70% de Alicante Bouschet e 30% de Trincadeira. É um vinho mais tradicional, passou 16 meses em barricas de madeira velha de 10 anos. Está firme e vai evoluir muito ainda. Aliás, o Nuno Lopes informou que, recentemente, abriram, na adega, uma garrafa do 2004 e está muito bom, “o que é ótimo para um vinho do Alentejo”. É um vinho caro: E 23,00.
O jantar foi no restaurante do Ecork Hotel Suites & Spa, ainda em Évora, mas no campo. Lembro que estava um pouco cansado – começáramos as degustações de manhã e lá em Vendas Novas, no Alto Alentejo -, só comi o primeiro prato, uns deliciosos cogumelos ao molho de azeite, e bebi água. Abri mão dos bons vinhos da Comenda Grande e da HMR que foram oferecidos pelos produtores que estiveram à nossa mesa.
Monte da Comenda Grande: geral@comendagrande.com
                                       Os bons vinhos da Comenda Grande

Alentejo 06 – Roquevale, no sopé da serra d´Óssa

                                          Joana Roque do Vale, da Roquevale
                                Roquevale, na região vitivinicola de Redondo

Apesar da antiga tradição vitivinícola do Alentejo, a maioria das atuais adegas é de criação recente, graças ao crédito abundante que foi oferecido a Portugal pela Comunidade Econômica Européia antes da atual crise econômico-financeira que atinge toda a Europa. A Roquevale não é uma das mais novas, mas construiu sua adega em 1989, conforme informação de Joana Roque do Vale, que nos recebeu, dia 22 de janeiro, de manhã, em Redondo. São duas herdades – Monte Branco e Madeira Nova de Cima – com cerca de 189  hectares de vinhas que produzem 8 milhões de litros/ano, os quais são vendidos 85% no mercado nacional e o restante exportado para Brasil, Macau, Angola, Canadá, Estados Unidos e Bélgica. A propriedade tem 200 há. É um dos maiores produtores privados de vinho do Alentejo.
O primeiro vinho veio diretamente da cuba: Redondo 2013 Branco, com Roupeiro, Rabo-de-Ovelha, Fernão Pires, Arinto. É um vinho para o dia-a-dia, explicou Joana, tem frescor, é gastronômico. Seguiu-se o Rosé Terras de Xisto 2013, tirado diretamente da cuba. Um vinho completamente seco, um pouco diferente dos rosés aos quais estamos asostumados no Brasil, elaborado com as uvas Touriga Franca, Aragonez e Castelão. Muito fresco, bom para acompanhar refeições. Depois, o Terras de Xisto Tinto 2013, elaborado com Aragonez, Trincadeira, Castelão e Moreto, tem frescor, elegância e retrogosto bem acentuado.
O quarto vinho apresentado por Joana Roque do Vale foi o Tinto da Talha Grande 2011, com Trincadeira, Castelão e Aragonez, vinho bem elaborado, pouco frutado, balsâmico, mostra chocolate. Não é um vinho consensual. Há quem não goste de suas características mais marcantes. Depois, o Tinto da Talha Escolha 2009, com Alicante Bouschet e Touriga Nacional, cujo nome lembra os romanos que habitaram o Alentejo e faziam vinhos em grandes talhas de barro. Durante a fermentação malolática, passou três semanas no carvalho francês. Destacou-se pela frescura. Um vinho pronto para beber e não para guardar. Este vinho deve chegar ao Brasil por R$ 55,00.
O sexto vinho foi o Roquevale Reserva Alentejo DOC 2006, com Alicante Bouschet, Tinta Caida e Touriga Nacional, que passou 24 meses em barrica de carvalho francês. Este vinho destacou-se tanto que recebeu várias medalhas de ouro e prata em concursos pelo mundo. O sétimo, foi o Roqueval Reserva 2009, com Alfrocheiro, Aragonez e Alicante Bouschet, que passou 12 meses em barricas de carvalho francês. E, a seguir, fomos os primeiros a degustar o Roquevale  Gran Reserva 2009, que virá este ano para o mercado. Na minha opinião, poderia ficar um pouco mais na adega. Os taninos já não são agressivos, mas o vinho mostra que tem excelentes condições de evoluir. É bem equilibrado, passou 24 meses nas barricas de carvalho francês, que amalgaram a Tinta Caiada, a Alicante Bouschet e a Touriga Nacional. Quando chegar ao Brasil, custará em torno de R$ 120,00.

Roquevale – e-mail: geral@roquevale.pt

Alentejo 07 – Adega Cooperativa de Redondo

                                         Os balões com 300 mil litros de vinho
                          Pedro Hipólito, enólogo da Adega Cooperativa de Redondo

A Adega Cooperativa de Redondo, na Estrada de Évora, vende 15 milhões de garrafas de vinhos por ano, sendo responsável pela popularização do vinho alentejano. O enólogo Pedro Hipólito, que trabalha na casa desde 2001 e já foi responsável por 14 vindimas, informou que a cooperativa, fundada em 1956, tem, hoje, cerca de 200 associados, responsáveis pela produção de 13 a 14 milhões de quilos de uvas em cerca de 2.100 hectares, com produção média de 6t/há.. Em 2001, eram 1.600 hectares. Em 2008, houve uma retração no setor, mas, agora, a produção está sendo retomada. “Há uma luz no fim do túnel – garantiu Hipólito -, as vendas estão crescendo, nos tornamos mais eficientes, abrimos novos mercados, as exportações cresceram. Antes, o pessoal vinha aqui comprar vinho. Agora, nós é que procuramos vender. Dá mais trabalho, mas compensa.” O objetivo da cooperativa é colocar no mercado a melhor relação qualidade-preço, vendendo vinhos acessíveis.
Os sócios, segundo Hipólito, ganharam visão empresarial e buscam eficiência, depois que o crédito fácil acabou, em 2012. Produzem cerca de 80% de uvas tintas e 20% de brancas. A maior percentagem, 30%, é de Trincadeira, seguida da Aragonez, Castelão, Fernão Pires, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, a bandeira da cooperativa, Syrah, Alfrocheiro, Roupeiro, Fernão Pires e Arinto. Hoje, a cooperativa tem cerca de 26 milhões de litros de vinho armazenados, principalmente nos grandes “balões”, construções de cimento, redondas, usadas só em Portugal. Cada balão tem capacidade para 300 mil litros.
Estava junto o Joaquim do Carmo, diretor comercial da cooperativa, que ajudou a montar a mesa para a degustação. Começamos com Porta da Ravessa Branco  DOC 2012, elaborado com Fernão Pires, Roupeiro e Arinto, um vinho que vende 9 milhões de garrafas, aromático, boa boca, floral e cítrico, aroma intenso e frutado, sabor leve e fresco.Seguiu-se o Porta da Ravessa Tinto DOC 2012 com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet e Castelão, cor rubi acentuada, aroma a frutos vermelhos, que Hipólito garantiu que da primeira até a última das 5 milhões de garrafas produzidas é igual. Tem sabor redondo e aveludado e pode ser guardado até três anos. Não tem madeira, é um alentejano típico, harmônico, com bom volume de boca.
O terceiro vinho foi o Latitude DOC 2013, um tinto elaborado com Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, com madeira, mas macio, cor rubi acentuada, ideal para uma boa carne condimentada. O quarto foi o Reserva AcR Tinto DOC 2010, uma novidade dos enólogos da cooperativa, com 12 meses em barricas novas de carvalho francês e americano e um ano de garrafa na cave. Também de Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, com cor intensa, aroma de frutos vermelhos, notas de chocolate preto e folha de tabaco, complexo e persistente. Foram elaboradas 100 mil garrafas com os melhores lotes do vinhedo, cada casta ficando, inicialmente, em barricas diferentes. Aos 8 meses, são misturadas e voltam às barricas. Mais do que os taninos, sente-se o vinho na boca, muito agradável.
A degustação continuou no restaurante Celeiro do Pinto (av. de Gien, Lote 8, 7170), em Redondo, também com pratos típico alentejanos: pastéis de mogango, queijo curado de ovelha, chouriço de porco preto, azeitonas deliciosas, pão alentejano, secretos  e presinhas de porco preto, bifinhos de cação e tomates ao natural saborosíssimos. Bebemos Real Lavrador Branco VRA, de cor amarela citrina, com aroma intenso e frutado, sabor fresco e quilibrado, elaborado com as uvas Roupeiro e Rabo-de-Ovelha, que acompanhou muito bem os bifinhos de cação. O nome do vinho é uma homenagem ao Rei D.Diniz, também chamado O Lavrador, amante da natureza, das caçadas na Serra d´Óssa e de grandes banquetes com música, trovadores e vinhos. Foi patrono da Vila de Redondo, que fortificou em 1319. Com 12,3º de álcool, é um vinho de perfil ácido, mas muito bom.
O tinto do almoço foi o Adega de Redondo Triplo 2009, com Touriga Nacional, Syrah e Cabernet Sauvignon, unindo duas castas francesas à uma alentejana. Passou 15 meses por barricas novas de carvalho francês e sente-se a madeira, mas em exagero. As uvas vieram de vinhas que produzem 4/5 toneladas por hectare.
Adega Cooperativa de Redondo -  geral@acr.com.pt

Alentejo 08 – Quinta do Zambujeiro

                                   Quinta do Zambujeiro, em Borba

Ao norte da Serra d´Óssa, em Rio de Moinhos,  Borba, está a Quinta do Zambujeiro, com 30 hectares de vinhas, cujas idades variam dos três aos 30 anos, desde 1998 propriedade do suíço Emil Strickler. Em 2004, ele criou a marca Monte do Castanheiro. A conversa com Andrea Anselmo começou bem: “Sem boas uvas, não há bom vinho”, disse ela, que cuida das castas Trincadeira, Alicante Bouschet, Tinta Caiada, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Aragonêz, Periquita e Touriga Nacional que compõem os vinhedos, alguns com até 45 anos, e de onde se fazem cerca de 100 mil garrafas/ano. Os seus melhores tintos passam até 18 meses em barricas de carvalho francês e de seis a 24 meses em garrafa.
Os principais vinhos são Zambujeiro, Terra do Zambujeiro, Monte do Castanheiro Tinto e Monte do Castanheiro Branco. O primeiro vinho foi o Monte do Castanehiro 2011, com 30% de Alicante Bouschet, 25% de Trincadeira, 30% de Aragonez e 15% de Tinta Caiada, elaborado por Luiz Lourinho, enólogo-residente da Zambujeiro, Passou um ano em barrica de carvalho francês.
O segundo foi Terra do Zambujeiro 2009, com Aragonez, Tinta Caiada, Alicante Bouschet, Trincadeira, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, passou dois anos em barrica e dois anos na garrafa antes de ir ao mercado. É um dos melhores elaborados até o momento, a madeira não se sobrepõe à fruta. Tem 14,5º de álcool. Vende muito bem na Suiça, Alemanha, Luxemburgo, Singapura e Brasil, com preço de E 9,50, em Portugal. O terceiro vinho foi o Zambujeiro 2009, com Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Petit Verdot e Tinta Caiada, vinho que obteve excelente nota do especialista norte-americano Robert Parker, 94 pontos. Elaborado com vinhas de solo xistoso, é um vinho redondo e aveludado e de preço alto, mesmo em Portufal, E 45,00. Deve chegar ao Brasil em torno dos R$ 500,00.

Quinta do Zambujeito – e-mail:comercial@quintadozambujeiro.com

                            Andrea Anselmo, da Quinta do Zambujeiro

Alentejo 09 – Adega do Monte Branco

Depois de ter trabalhado vários anos com o pai, na Quinta do Mouro, o jovem Luís Louro resolveu criar a sua própria vinícola e fundou a Adega do Monte Branco, em 2004, em Estremoz. Ainda está em obras, mas tem capacidade de 200 mil litros/ano, resultante da vindima dos 25 hectares de Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Merlot e Syrah, nas tintas, e Roupeiro, Fernão Pires, Arinto e Antão Vaz, nas brancas.
Seus primeiros vinhos foram os Alento. Começamos a degustação, realizada na vinícola do pai, a Quinta do Mouro, em Estremoz, com Alento Branco 2012, com Roueiro, Arinto e Antão Vaz, 12,5º de álcool, redondo, com muita fruta, jovem, sem madeira, oriundo de uvas plantadas em solo calcáreo a 460 metros de altitude. Depois, fomos para o Vinho do Mouro 2012, com 12,5º de álcool, elaborado com Arinto, Antão Vaz e Verdelho, também com bastante fruta, aroma de maçã cozida, bom de beber.
O terceiro foi o Alento Reserva Branco 2012, com 70% de Arinto e 30% de Antão Vaz, fermentado em barrica velha de carvalho francês por 4/5 meses, o que não marcou tanto a fruta, é um vinho fresco e mineral. Depois, degustamos o Rosé Alento 2013, tirado diretamente da cuba, com Aragonez e Touriga Nacional, com marcantes aromas de goiaba, maçã e maracujá, uma cor salmão maravilhosa..
Os tintos começaram com Alento Tinto 2011, com Aragonez, Alicante Bouschet, Touriga Nacional e Trincadeira, com marcada influência dos solos de xisto e calcáreo. Muita fruta, fresco, bom corpo, boa estrutura, suave no final de boca, sem madeira. Um vinho vendido a E 5,00 em Portugal e que chega ao Brasil por R$ 50,00. Já o Alento Reserva 2011, com uvas plantadas em solo de xisto, chegará ao Brasil por R$ 90,00. Foi elaborado com Alicante Bouschet, Aragonez, Syrah e Touriga Nacional. O Monte Branco 2010, com Aragonez, eAlicante Bouschet, colhidas nas duas melhores parcelas da vinha, é mais austero e mais firme, passou 12 meses em barricas de carvalho francês, sendo 80% em barrica nova, e isto lhe garante uns 5 anos de guarda, no mínimo.

Adega do Monte Branco – e-mail:info@adegamontebranco.com
 Luis Mouro na Adega do Monte Branco


Alentejo 10 - Arte e vinho na Quinta do Mouro

Miguel Antonio de Orduña Viegas Louro é dentista. Mas, antes disso, é um artista, amante das artes, colecionador, antiquário, viveu no Brasil, onde trabalhou com antiguidades. É  considerado excêntrico, mas abriu sua casa, com muita simpatia, para que jantássemos com ele e com o filho Luís, bebendo seus grandes vinhos. Começou a produzi-los, em 1989, quando comprou a propriedade da família Zagalos, com apenas seis hectares de vinhedos. Em 1994, lançou o primeiro vinho, Quinta do Mouro. Em 1998, plantou mais oito hectares e construiu a adega aproveitando uma bela e antiga residência.
O Vinha do Mouro 2010, com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvigon, é um vinho elegante e com potencial de guarda. Parte do lote passou um ano por barrica francesa. Vai custar R$ 60,00 no Brasil. O Casa dos Zagalos Reserva 2009, com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon tem caráter, complexidade e potencial de guarda. O Quinta do Mouro 2007, com Aragonez, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional foi destacado pelo especialista norte-americano Robert Parker com nota 97. Tem 14º de álcool. E, finalmente, degustamos o Quinta do Mouro 2008, com Alicante Bouschet, Aragonez, Touriga Nacional e Cabernet Sauvignon, rótulo dourado, com 14,5º de álcool. Como 2008 foi um ano muito fresco, o vinho tem complexidade e frescor, é bem estruturado e com aromas definidos. É um vinho caro em Portugal, E 14,5, e deverá chegar ao Brasil por R$ 600,00.
Cada um dos convivas – Karina, Maria Amélia, Jeriel, Pedro, eu, Luís e Miguel – escolheu o vinho que mais gostou na degustação e levou para a mesa de jantar, onde nos esperavam uma sopa verde e um borrego com batatas e salada de folhas, antecipados pelos tradicionais petiscos alentejanos. Foram Quinta dos Mouros 2005, um Cabernet Sauvignon 2011, varietal um pouco raro no Alentejo, mas que começa a ser mais plantado, e um Touriga Nacional 2010.
Quinta do Mouro – geral@quintadomouro.com
  Miguel e Luís Louro da Quinta do Mouro
Porta de entrada da Quinta do Mouro



Alentejo 11 – Na Serra de São Mamede, a Herdade do Perdigão





                 A Herdade do Perdigão em Monforte
Sandra Chaves apresentou os vinhos da Herdade do Perdigão sob observação de Maria Amélia Vaz da Silva
Fundada em 1992, a Herdade do Perdigão, em Monforte, foi adquirida, em 2003, por Carlos Gonçalves, que plantou novos vinhedos nos seus 60 hectares e reformulou a adega. Sandra Chaves, diretora de marketing, começou apresentando o HP Brut 2012, um espumante elaborado pelo método champenoise, com 80% de Arinto e 20% de Antão Vaz. Resultou num vinho leve, jovem, brilhante, de acidez acentuada, com caráter cítrico, frutas tropicais, gastronômico. Custa E 11,00. Depois, o Espumante Tinto 2010, com Touriga Nacional e Alfrocheiro, 50% x 50%, Bem seco, sente-se ameixa e caramelo e vai abrindo para chocolate. Sem dúvida, um espumante bem original.
O terceiro vinho foi o Villa Romano 2011, com Trincadeira, Aragonez e Cabernet Sauvignon, em homenagem às vinificações romanas dos primeiros séculos, características da região que também deu os vinhos dos Papas. Passou dois meses em barrica de carvalho francês, mostrou-se jovem e fresco, com chamada para azeitonas pretas. O quarto vinho foi Almo 2011, com Trincadeira, Touriga Nacional e Aragonez, que passou de seis a oito meses em barrica de carvalho francês. A madeira está no ponto certo, sem exagero, deixando-o fresco e aromático. O quinto, foi Herdade do Perdigão Reserva 2011, 100% Antão Vaz, com 14,5º de álcool, seis meses no carvalho francês e americano, com muitas frutas tropicais, como abacaxi, manga e mamão. É um vinho de E 17,00. Veio a seguir o Vinha do Almo Escolha 2008, com Touriga Nacional, Trincadeira e Aragonez, que passou 16 meses em barrica de carvalho francês e, depois, mais seis meses na garrafa. É um vinho de bonita cor e muito brilhante, mesmo seis anos após ter sido engarrafado, e ainda irá longe.
O Herdade do Perdigão Reserva Tinto 2011, com 80% de Trincadeira, 15% de Aragonez e 5% de Cabernet Sauvignon, passou 18 meses em barrica de carvalho francês, surgiu muito equilibrado, madeira bem integrada, que não incomoda nem um pouco. É vinho vendido a E 20,00.. E, finalmente, o oitavo vinho da degustação com Sandra Chaves, o Herdade do Perdigão 20 Anos 2008, elaborado com 50% de Trincadeira , 45% de Alicante Bouschet e 5% de Touriga Nacional. Passou 36 meses em barrica de carvalho francês e mostrou que ainda vai evoluir muito. É um vinho para comprar logo, mas beber só daqui a 10 anos. Foram elaboradas apenas mil garrafas.

Herdade do Perdigão – geral@herdadedoperdigao.pt

Alentejo 12- Glória Reynolds, Monte da Figueira de Cima


 Julian Reynolds, um dos donos e, também, nome de vinho
       Valentina servindo a sopa na grande lareira

             Nelson Martins,  enólogo da Quinta Glória Reynolds


Em Arrouches, está a Herdade Monte da Figueira da Cima, que produz os vinhos Glória Reynolds. A herdade tem mais de 200 hectares – 40ha de vinhas – e produz, além das uvas, ovinos, suínos e azeite de altíssima qualidade, conforme a prova que o enólogo Nelson Martins ofereceu durante o almoço, outra bela refeição com petiscos alentejanos e bom borrego. Os campos também estão cobertos de sobreiros e azinheiras, de cujas bolotas se alimentam os porcos pretos. As principais castas cultivadas são Aliicante Bouschet, Aragonez, Trincadeira e Antão Vaz, plantadas em 2000/2002, na base de 4 mil plantas por hectare, que produzem em torno de 4 mil quilos/há de uvas. Os plantios recentes são obra de José Reynolds, desde 1998, mas o fundador, Thomas J. Reynolds (1876-1867), trabalhou com vinhos desde o século XIX. Hoje, quem está no comando é a sétima geração. Glória Reynolds, que comandou a herdade até sua morte, faleceu, aos 98 anos, em 2001. De acordo com Martins, a família foi a introdutora da Alicante Bouschet no Alentejo, casta base de seus melhores vinhos.
A vindima é feita à noite, mecanizada, e as uvas chegam limpas e vão inteiras para as  grandes barricas de carvalho francês, fabricadas especialmente para esta adega pela tanoaria francesa Seguin Moreau, onde recebem um choque térmico, e a vinificação se faz como os grandes Chateaux. As uvas não são pisadas nem esmagadas. Cada vinho fica, no mínimo, três anos na adega, segundo enólogo..
A degustação foi feita sobre uma bonita mesa de pedra ardósia preta e começou com Carlos Reynolds 2012 Branco, elaborado com Antão Vaz e Arinto de vinhas velhas, que resultaram num vinho alegre, fresco, fácil de beber. Vendido por E 4,00. O segundo foi o Julian Reynolds 2012, 100% Arinto, um vinho citrino e tropical, muito aromático, bastante estruturado, feito com uvas procedentes da famosa Serra de São Mamede, ao pé de Marvão, na fronteira com a Espanha. É o Arinto de Alcobaça, o Arinto Galego, ideal para acompanhar pratos com mariscos e outros frutos do mar. 
Seguiu-se o Glória Reynolds 2012, 100% Antão Vaz, fermentadas em carvalho francês com tampo de acácia, durante um ano, o que lhe deu forte estrutura, com boa mineralidade do solo, gastronômico, agüenta perfeitamente uma carne vermelha. Já é mais caro: E 12,00. Depois, o Carlos Reynolds Tinto 2010, com Trincadeira, Alicante Bouschet e Syrah, Com corpo, acidez e taninos médios, é bastante aromático, passou oito meses em madeira e 12 na garrafa antes de ir ao mercado. Um vinho alegre, fácil, bastante jovem, com a cara do Reynolds que lhe dá o nome, um homem de 28 anos, atual comandante da herdade... Tem 12,5º de álcool. Julia Reynolds dizia a seus enólogos que deveriam “tirar o álcool no vinhedo”.
O quinto vinho foi o Julian Reynolds Grande Reserva 2008, com Alicante Bouschet, Trincadeira, Touriga Nacional, que passou um ano em barrica e um ano em garrafa. Seus taninos ainda estão bem acesos e ele precisa de mais tempo. O sexto, foi o Glória Reynolds 2005, um ano muito bom para as vinhas do Alentejo, especialmente para as castas que o compõe, Alicante Bouschet e Trincadeira. É um vinho, com o nome da matriarca, só produzido em anos de safras muito boas. Apesar do tempo, está jovem, jovem, com boa intensidade, elegante na boca, onde deixa um sinal bastante alongado, muito concentrado, muito intenso. É um vinho para E 35,00 e que vai chegar ao Brasil na casa dos R$ 300,00.
Degustados os vinhos, fomos almoçar e tivemos a honra de ter à mesa o Julian Reynolds, um dos proprietários, nome de um dos vinhos que mais me agradaram. Estava frio, mas a sala era aquecida por uma grande lareira, onde a chefe de cozinha Valentina aquecia os alimentos. Como bons alentejanos que já éramos, começamos com os petiscos locais, paio, queijo de ovelha, morcilha preta, cacholeira e um extraordinário azeite feito na propriedade, o Figueira de Cima, bebendo o Grande Reserva  Julian Reynolds 2006. Depois, tomamos uma bela sopa e partimos para o prato de cordeiro merino preto com batatas. A herdade também produz porco preto e bois da raça Alentejana. O final foi com um licoroso100% Alicante Bouschet Robert Reynolds 2005, que passou dois anos em barricas velhas de carvalho francês. Tudo isso em cima de uma mesa maravilhosa, de pedra de ardósia, inteiriça, com 6,5 metros de comprimento e 1,30m de largura,  e mais de 10cm de espessura,uma peça única, trazida de Vilar Del Rio.

Quinta Glória Reynolds – e_mail: wine@gloriareynolds.com

Alentejo 13 – Herdade do Arrepiado Velho


  António Antunes, da Herdade Arrepiado Velho



Cubas na adega da Herdade do Arrepiado Velho
Marília, enóloga-residente da Arrepiado Velho

Em Sousel, a cerca de 40 quilômetros de Portalegre, no Alto Alentejo, está a Herdade do Arrepiado Velho, com 100 hectares de área, dos quais 40 ocupados com vinhas, que produzem cerca de 50 mil garrafas/ano. É um projeto novo, de 2001, da família Antunes, que também planta oliveiras e cria bovinos da raça Charolês. Nuno Ramalho, comercial, e o enólogo António Maçanita assessoram a família e selecionaram as castas tinta Touriga Nacional (42%), Syrah (18%), Cabernet Sauvignon (24%), e Petit Verdot (16%) e brancas  Viognier (30%), Antão Vaz (22%),  Chardonnay (8%), Verdelho (15%) e Riesling (15%).
A degustação começou com vinhos do ano, 2013, tirados diretamente das cubas pelo Antonio Antunes e pela enóloga-residente Marilia, um Riesling e um Verdelho, claramente muito jovens, ainda não prontos, mas com boas indicações de qualidade e frescos.Depois, fomos para o Antão Vaz, Chardonnay e Riesling base para o Reserva 2012, que já mostrou estrutura e muita mineralidade, vinda do solo xistoso. Depois, o Reserva Tinto 2011, 80% Touriga Nacional e 20% Syrah, bem estruturado, com taninos acentuados, ainda precisando de algum tempo.
E, logo, uma surpresa, bem típica da audácia da família, disposta a apresentar vinhos fora do comum, um 100% Syrah 2009, intitulado Brett Edition Reserva Tinto, que passou 16 meses em barrica de carvalho francês, 14,5º de álcool, cor rubi-violeta, concentrado, nariz exuberante, caixa de cigarro, couro, especiarias e groselhas pretas, com um ataque redondo, suave, rico, boa frescura e persistência. O brett divide os entendidos em vinhos. Alguns dizem que é o grande inimigo dos vinhos de qualidade, pois o microorganismo que se desenvolve tem aromas “de rato”, "de remédio”, "de urina de cavalo”. Brett é o nome que se dá à levedura Brettanomyces/Dekkera, que produz aromas descritos como suor de cavalo e cabedal, considerados defeitos, por uns, virtudes por outros. “Na primeira edição – escreveu o enólogo Maçanita – a natureza decidiu tomar liderança na enologia, já no final do estágio em barrica. Na última edição, estagiou parte do Syrah nas barricas da edição anterior. O resultado do vinho é multidimensional, produzindo o Brett níveis de complexidade aromática, que só seriam possíveis com vários anos de garrafa, mas mantendo ainda toda a força.” Todos os grandes vinhos de Bordeaux, na França, tem toque de brett, segundo alguns. No caso da Herdade do Arrepiado Velho, pareceu-me um defeito que se tornou positivo, deu profundidade ao vinho. O rótulo traz um cavalo escoiceando, mas o vinho não é um coice. Está à venda, em Portugal, por E 18,96. No Brasil, cerca de R$ 200,00.
O quinto vinho foi o Herdade do Arrepiado Velho Branco 2012, com 60% de Antão Vaz e 10% de Viognier, mais Verdelho e Riesling. Resultou num vinho simples, direto, fresco, para acompanhar pescado ou, simplesmente, ser bebido num final de tarde. Depois, o Riesling de Netas 2011, 100%. Foram feitas apenas mil garrafas e vendidas em dois dias. Delicado, elegante, prazeroso, com 13,5º de álcool, um vinho fantástico, mas que não vai mais ser produzido porque o míldio, uma doença da vinha, tirou cerca de 80% da produção de uvas prevista. O sétimo, foi o Herdade do Arrepiado Velho Collection 2010, com 60% de Antão Vaz, 25% de Viognier e 15% de Riesling, com um toque discreto de madeira no retrogosto. É um vinho do Alentejo mais moderno. O Herdade do Arrepiado Velho Rosé 2012, com Touriga Nacional (80%) eSyrah (20%) mostrou-se gastronômico, ideal para acompanhar massas, tem aromas florais e de frutas tropicais. E o Herdade do Arrepiado Velho Tinto 2012, 100% Touriga Nacional, passou de seis a oito meses em barricas de carvalho francês, mas se mostrou bastante jovem, cor profunda, demorou um pouco para abrir na taça, com 14,5º de álcool.
Finalmente, degustamos o Herdade do Arrepiado Velho Collection 2008, com 65% de Touriga Nacional, 15% de Petit Verdot, 10% de Syrah e 10% de Cabernet Sauvignon, e o Arrepiado Velho 2007, com as mesmas castas e proporções. Ambos mostraram boa estrutura e boa acidez. O 2007, mais evoluído do que o 2008, o que parece óbvio, mas, em vinho, nem sempre é assim. Ambos são vendidos a E 30,00.

Herdade do Arrepiado Velho – e-mail: amantunes@arrepiadovelho.com

Alentejo 14 - Jantar no Fialho, com Granadeiro Vinhos




                        Cláudio Martins, da Granadeiro Vinho de Autor

De volta è Évora, fomos jantar no Fialho, um dos mais famosos restaurantes da cidade, meu velho conhecido, ali na Travessa das Mascarenhas, 16, onde reencontrei Gabriel, Manuel e Amor, filhos do fundador, Manuel Fialho. Amor é o chefe de sala, Gabriel chefe de cozinha e Manuel relações públicas. A casa continua impecável, com as comidas maravilhosas e uma clientela selecionada. Inclusive, encontrei lá Afonso de Barros Aveiro, morador do Porto, que, ao saber que eu era gaúcho, apresentou-se como amigo do empresário e político Nestor Jost (1917-2010), ex-presidente do Banco do Brasil e ex-ministro da Agricultura, no governo de João Figueiredo, a quem muito entrevistei nas décadas de 1960/80.
Fomos ao Fialho para jantar com Cláudio Martins, da Granadeiro Vinho de Autor, localizada no Monte dos Perdigões, em Reguengos de Monsaraz., com 100 hectares de vinhas e outros mil há destinados a criação de gado, cavalos e plantação de cereais. Antes de entrar nos vinhos, vamos aos petiscos que comemos, como queijo e presunto do Azeitão, pasteis de vitela, bolinho de bacalhau e, finalmente, uma bela posta de bacalhau assado com batatas ao murro, tão bem servido que reparti a metade com o Pedro Mello e Souza. Cláudio informou, de saída, que seus vinhos são sem preconceito, mas com estrutura..

Começamos com o  Tapada do Fidalgo Branco 2012, com Antão Vaz e Arinto, plantadas no Monte dos Perdigões, leve, fresco, redondo, fácil de beber, gastronômico. Depois, o Poliphonia Branco 2012, com Antão Vaz e Viognier, com muita frescura e complexidade, aromático, alegre, leve, enche a boca, tem volume, e que acompanhou muito bem os pastéis de vitela.O terceiro foi o Tapada do Fidalgo Rosé 2011, com Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão e Trincadeira, 14,5º de álcool, complexo, elegante, persistente, com 12 meses em barricas de carvalho francês, que chegará ao Brasil por R$ 70,00. Seguiu-se o Poliphonia Reserva Tinto 2011, com frescor e acidez suficiente para combater gorduras, o que o torna ideal para acompanhar um cordeiro assado no forno. Elaborado com Trincadeira, Syrah e Alicante Bouschet, tem 14,5º de álcool e passou 12 meses em barricas de carvalho francês, ganhando estrutura e complexidade.  O vinho seguinte foi o Poliphonia Signature 2010, com Alicante Bouschet e Syrah, 18 meses em barricas novas de carvalho francês, o que o tornou marcante, estruturado e complexo. Mas ainda vai evoluir na garrafa.
Ao final, Cláudio presenteou-nos com um belo livro, tamanho grande, capa dura, sobre o Monte dos Perdigões e o culto da terra, escrito por Alberto Franco e Ana Telles, prefácio de José Cutileiro e belas fotos de José Manuel Rodrigues. O Monte dos Perdigões está pousado numa daquelas colinas que parecem feitas para desmentir que tudo no Alentejo é plano. O livro conta duas histórias, a história do monte e da herdade, com raízes no século XV, e a do último homem da linhagem inicial da casa, D. Luís da Costa de Freitas Branco, fidalgo, compositor, musicólogo, que ali viveu a infância, compôs suas obras e viver um grande amor.
Granadeiro Vinho de Autor - e-mail:comercial@granadeirovinhos.com

Alentejo 15 – Um jantar no Fialho



 Bacalhau com batatas ao murro, no Fialho
 Os bons vinhos já estão à entrada do Fialho
Amor Fialho recebe os clientes que chegam ao restaurante com simpatia


Só o jantar no Fialho merece um item especial para ele. Foi ua comilança maravilhosa. Além dos petiscos citados na abertura da nota anterior, vieram os pratos principais. Como adorado de bacalhau, pedi a posta assada com batata ao murro que já descrevi. O Pedro Meloo e Souza pediu sopa de cação e a chef Karina Papa solicitou sopa de garoupa. Era de noite e eles não queriam “comidas fortes”. O Cláudio Martins, diretor comercial da Granadeiro Vinho, pediu uma perna de cabrito, e o Jeriel Costa, arroz de garoupa com gambás. Não lembro o que a Maria Amélia Vaz da Silva, soliticou, mas havia, também ensopado de borrego, borrego assado ao forno com batatas, bife à Mário Cunha e bife de lombo, cação de coentrada, lombinho de javali com purê de maçã, perdiz à Convento de Cartuxa, lombo de porco om ameijoas e arroz de pombo.  Para dar uma melhor idéia ao leitor, estes pratos, em média, custam entre E 14,00 e E 18,00, respectivamente, R$ 47,18 e R$ 60,66. Na carta de vinhos, chamaram-me a atenção o  Alento Luis Louro Branco (E 18,00), Paço dos Infantes Tinto 1988 (E 31,00) e Vinha Grande Ferreirinha 1982 (E 38,00). A adega da casa é muito boa e bem sortida. Inclusive, na própria entrada do restaurante já existe uma boa mostra dos vinhos servidos. Na sobremesa, comemos queijadinhas de requeijão.

Alentejo 16 – Quinta do Quetzal, modernismo e tradição da Vila de S. Cucufate

                       O moderno prédio da adega da Quinta do Quetzal
                              Reto Frank Jörg, na Quinta do Quetzal

Visitar a Quinta do Quetzal, dia 24 de janeiro de 2014, foi um retorno, pois conheci a bela vinícola de linhas arquitetônicas modernas, em 2011, na minha segunda viagem ao Alentejo. Também reencontrei o administrador Reto Frank Jörg, suíço que vive há 30 anos em Portugal, que se lembrou da visita anterior. A novidade deste ano, além dos vinhos de novas safras, foi a linda cadelinha que o segue por onde vai, subindo escadas, andando de elevador, simpática e brincalhona, e o anúncio de que, defronte à dega, está sendo construído um museu de arte moderna, para abrigar a coleção de obras da família.. De propriedade de uma família suíça, Bruin, fica na Vila de Frades, perto da Vidigueira, terra de Vasco da Gama, e foi criada com inspiração na Vila de S. Cucufate, a mais antiga adega vinícola da Península Ibérica, construída no Século I d.C. A adega atual, moderníssima em sua arquitetura, foi inaugurada em 2006 e o nome Quetzal se deve à beleza do pássaro do mesmo nome encontrado na s zonas tropicais da América Central. Também há a influência da capelinha de Nossa Senhora de Guadalupe, no alto do morro, à esquerda de quem chega, e que deu nome a uma linha de vinhos expressivos, descontraído e alegres.
São 49 hectares de vinhas, a maioria plantadas já no século XXI, mas com algumas de mais de 25 anos, preservadas dos primeiros anos da herdade. A colheita das uvas é mecanizada e feita à noite. Mais de 60% do vinho destina-se à exportação para Holanda, Suiça, Lituania, Canadá, Filipinas, Brasil e Estados Unidos. Preocupados com a eficiência, seis produtores, liderados por Reto Jörg, se uniram e adquiriram uma unidade móvel de engarrafamento que trabalha para todos.
 Na sala de degustação, começamos com o Guadalupe Branco 2012, com Antão Vaz, Roupeiro e Arinto, fresco e com boa acidez. A partir de 2014, passará a ter um toque de Verdelho. O Guadalupe Branco Selection,2012, 100% Arinto, com 13º de álcool, mostrou-se mineral, fresco e de grande complexidade aromática e bem gastronômico, 50% passa por barrica de carvalho francês. O terceiro foi o Quetzal Reserva Branco 2011, 100% Antão Vaz, com 13,5º de álcool, que passou por barricas novas de carvalho francês e americano, mas continuou um vinho fresco, sem madeira acentuada. O Quarto vinho foi o Guadalupe Rosé 2012, elaborado com Aragonez e Syrah, com 13º de álcool, cor muito bonita, bem fresco.
O quinto vinho foi  o Guadalupe Tinto 2011, elaborado com Trincadeira, Aragonez e Alicante Bouschet, 13º de álcool, com aroma de framboesa e cereja, paladar harmonioso, suave, redondo e macio. O sexto, o Guadalupe Selection Tinto, com Syrah, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon, com 14,5º de álcool. Mostrou frutado intenso, boa estrutura e complexidade. Sente-se que passou por madeira em barrica usada. O sétimo foi o Quetzal Reserva Tinto 2010, com Petit Syrah (50%), Trincadeira (15%) e Alicante Bousch (35%), que passou 12 meses em barricas francesas e oito meses na garrafa antes de ir ao mercado. Demostra boa frescura, aromas de frutos negros, compotas. Pode envelhecer muito bem..
Os dois últimos foram vinhos de sobremesa, excelentes porque com menos doçura dos que os mais conhecidos. O Rich White 2010 DOC, 100% Antão Vaz, com 16º de álcool, um vinho de sobremesa maravilhoso, e o Rich Red DOC 2010, elaborado com Alicante Bousche, também com 16º de álcool e que passou 16 meses em barricas de carvalho francês. Um vinho complexo, doce, rico em aromas de frutos pretos, maduro e intenso no paladar.
Outra das novidades prometidas pela Quetzal é o lançamento do vinho Quetzal 400, uma homenagem à coroa de 400 plumas do pássaro Quetzal que o Imperador Montezuma usava e cuja usurpação, pelo conquistador espanhol Hernán Cortez, permitiu a este subjugar a então poderosa civilização asteca no México. Os indígenas só respetivam quem usava aquela coroa. Cortez soube disso, arrancou-a da cbeça de Montezuma e colocou-a na sua, rendendo a multidão.
Quinta do Quetzal – E-mail: geral@quintadoquetzal.com



Alentejo 17 - Herdade da Malhadinha Nova

                                          Alexandra Bobone na Malhadinha Nova
                                          Enólogo Nuno Gonzales 

A visita à herdade da Malhadinha Nova, em Albernôa,no dia 24 de janeiro de 2014, também foi um retorno. Desta vez, não encontrei o João Soares, proprietário da adega, que estava viajando, mas fomos muito bem recebidos pela Alexandra Bobone, que nos mostrou toda a propriedade de 450 hectare, nos quais, além de vinhas e oliveiras, produz-se porco preto, ovelhas Merino Alentejano, gado Alentejano e cavalos Lusitanos. Depois, o Nuno Gonzales, enólogo residente, nos mostrou os lagares modernos, onde se faz pisa a pé e com um robô, conforme o vinho que se deseja obter. A malolática é feita em barricas novas de carvalho francês e todos os tintos ficam de nove a 20 meses em barricas usadas, parcela a parcela. “O objetivo, é fazer o melhor vinho possível”, disse Gonzales.
A degustação começou com o Antão Vaz 2013, retirado da cuba, que mostrou boa acidez, bons aromas e muito leve. Depois, um 95% Roupeiro e 5% Verdelho, também 2013, muito fresco e potente; o Verdelho 2013, cujas notas florais prometem; e o Rosé da Peceguina 2013, com Aragonez e Touriga Nacional, ácido, equilibrado, macio, fresco, sem doçura. E fomos para os prontos: o Malhadinha 2012, 100% Alicante Bouschet, que passou 14 meses em barrica de carvalho francês, já com muito chocolate e aroma marcante de amêndoa torrada; o Malhadinha Tinta Miúda 2012, elegante, com muita fruta fresca; o  Monte da Peceguina 2012 Branco, com Antão Vaz, Verdelho, Roupeiro e Arinto, um vinho fresco, de boa acidez, frutado, floral e mineral, do qual foram elaboradas cerca de 400 mil garrafas. Fácil de degustar, com 13º de álcool. O oitavo vinho foi o Monte da Peceguina Tinto 2012, com Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Syrah, Touriga Nacional, Aragonez e Tinta Miúda que passou 12 meses em barricas de carvalho francês usadas, um vinho muito rico, com muita fruta, mais fresca do que madura, com complexidade no nariz. Tem 14º de álcool e é vendido, em Portugal, por E 9,90.
Degustados os vinhos, fomos almoçar no restaurante Espelho d´Água (Parque da Cidade),em Beja, porque o da Malhadinha Nova está em obras, aproveitando o período da baixa temporada. Começamos, é claro, pelos petiscos alentejanos, como orelha de porco, azeitonas pretas, torresmo de rissol, polvo, queijo de Serpa, e os pratos principais foram sopa de garoupa em belo caldo atomatado no qual se mergulha o gostoso pão alentejano e migas de aspargo com carne de porco preto frita. O desfile de vinhos continuou: Monte da Peceguina 100% Antão Vaz 2012, com 13º de álcool, sem madeira, que harmonizou bem com a sopa de peixe.; Malhadinha Nova Branco 2012, com Arinto, Viognier e Chardonnay, que pasou oito meses em carvalho francês, 13,5º de álcool, amanteigado; Malhadinha Nova Touriga Nacional 2012, com 12 meses de madeira francesa nova, 15º de álcool; o Monte da Peceguina Tinto 2012, um vinho fresco, com Aragonez, Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Trincadeira e Syrah, 14º de álcool, harmonizado perfeitamente com a carne de porco; o Malhadinha Tinto 2011, com Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Tinta Miúda, pisado a pé, com 14/15 meses de barricas francesas novas. Nesta edição, foi a primeira vez que o Syrah deixou de entrar no Malhadinha Nova. Ao final, na sobremesa, o Malhadinha Nova Late Harvest 2010, 100% Petit  Manseng, com excelente acidez e não demasiadamente doce, com 12,5º de álcool, vendido em Portugal por E 20,00.
Das provas e da conversa com o enólogo Nuno Gonzales ficou uma certeza: sobre a safra de 2010:
 tanto o Syrah quanto o Malhadinha Nova, vinhos diferentes, são muito bons. Não deixem de provar.

Herdade da Malhadinha Nova – e-mail: reservas@malhadinhanova.pt

Alentejo 18 – Herdade do Pinheiro, em Ferreira do Alentejo


        Ana Silveira Ferreira Bicó, da Herdade do Pinheiro

O Alentejo, no passado recente dos anos de 1930-1960, foi uma região de muitos latifúndios, grandes extensões de terras, propriedades de uma única família. Com a Revolução dos Cravos, em 1975, isso começou a mudar. Foi o que aconteceu com a família de Antonio Francisco Silvestre Ferreira, dono de áreas imensas, nas quais plantava uvas, oliveiras, sobreiros, produzia vinhos, azeites e cortiça, criava ovelhas Merino Negro, porcos pretos, gado Alentejano e possuía até um frigorífico para abater os animais e preparar as carnes. Com a revolução, começaram as dificuldades econômico-financeiras e o complexo foi ruindo. Hoje, os netos de Antonio Francisco, Ana Bicó e Miguel Ferreira Silvestre, tem 120 hectares de vinhas, 50 há de oliveiras, milho e trigo, em Ferreira do Alentejo, nas antigas instalações do complexo, algumas em ruínas, cujo sonho é recuperar “quando houver dinheiro”. É a Herdade do Pinheiro.
Nesta nova fase, a primeira colheita foi em 2001, com 60% de uvas tintas e 30% brancas. A adega produz cerca de 700 mil litros de vinho/ano.
Ana Silvestre Ferreira Bicó conduziu a degustação. Começamos com um Herdade do Pinheiro Branco 2012, com Arinto e Antão Vaz, fresco, aromático, cremoso. Depois, um HP Rosé 2012, com Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, de cor linda, não é doce, bem estruturado,  com fruta, o que lhe permite acompanhar bem até churrasco. Seguiu-se o HP Vinhas Novas 2012, com Syrah e Touriga Nacional (50 x 50) de vinhedos novos, com cerca de seis anos, vinho com forte tom de cassis, bem vegetal, com 13,5º de álcool; o HP Tinto 2009, com Cabernet Sauvignon, Aragonez e Trincadeira, com 13,5º de álcol, destaca a presença da CS, bem estruturado, redondo; o HP Tinto 2011, com Touriga Nacional e Alicante Bouschet, já tem mais álcool, 14,5º, e passou sete meses em barricas de carvalho francês e americano. É vendido a E 5,90 em Portugal.
O sexto vinho foi o HP Reserva 2001, vinho da primeira colheita da herdade, com 13 anos de garrafa, com Aragonez, Trincadeira e Touriga Nacional, tem cor ainda bem viva e mostra excelente potencial de evolução, é um vinho que ainda irá longe, fresco e equilibrado. Tem 12,5º de álcool. Depois, o HP Reserva 2002, com Aragonez, Trincadeira e Touriga Nacional, 12,5º de álcool, e o HP Reserva 2003, com Aragonez, Trincadeira e Touriga Nacional, com 13,5º de álcool, aroma de resina de pinheiro, muito estruturado, taninos já macios, agradável. E, finalmente, o HP Antonio Silvestre Silveira, colheita selecionada de Trincadeira, Touriga Nacional e Alicante Bouschet. É um vinho de coleção, para comprar duas garrafas, beber uma e guardar a outra. Com 14,5º de álcool, foram produzidas apenas três mil garrafas.

Herdade do Pinheiro – e-mail:geral@herdadedopinheiro.com.pt

Alentejo 19 – Herdade do Monte Novo e Figueirinha


José Gonçalves, da Monte Novo e Figueirinha

Era noite escura quando deixamos Ferreira do Alentejo e pegamos a estrada para Beja, onde teríamos o encontro com o enólogo José Gonçalves, da Sociedade Agrícola  Monte Novo e Figueirinha, marcado para o restaurante Vovó Joaquina (rua do Sembrano, 57), onde, mais uma vez, além dos bons vinhos, experimentamos outras especiarias da cozinha alentejana. O restaurante é num casarão antigo, no centro de Beja, nas proximidades do local onde foi descoberta uma cidade da Era do Ferro, sob a atual área urbana. É decorado com antiguidades e com fotos de pessoas do passado, criando um clima art-decô, mas a freqüência é de jovens e apreciadores da boa comida. Um pouco antes de entrar no restaurante vi uma cena que me recordou, com intensidade, um período que morei em Portugal, nos anos de 1970, e ia para o bairro da Mouraria, em Lisboa, em companhia do Clóvis Ott e da Vera Renner, comer sardinhas assadas nos fogareiros de brasa, nas esquinas ou à porta das casas. Na rua Sembrano, em Beja, um homem abanava seu fogareiro no qual três sardinhas assavam e inundavam o ar com o cheiro característico.
José Gonçalves, amigo dos donos do restaurante e entusiasta do projeto, começou informando que a Monte Novo e Figueirinha nasceu em 1998, numa área de 300 hectares, em S. Brissos, Beja, 160 há dedicados a oliveiras e 40 há a vinhas. A adega foi construída em 2003 e produz 1 milhão de garrafas/ano. O azeite, que nós provamos, primeiro em colheres e, depois, em pequenos copinhos, como deve ser, é maravilhoso e se chama Azeite Herdade da Figueirinha. A produção é de sete milhões de quilos de azeitonas/ano. São 50 mil árvores no olival das espécies galega, sobrançosa e ordevil. O azeite não é filtrado, o que o torna mais fresco ao paladar, mais intenso, mais picante. Com pão alentejano, é fantástico. Como sempre, começamos com os petiscos: cogumelos com bacon e muzzarela, queijo de cabra com nozes caramelizadas, mimos de porco, plumas de porco e picapau de porco.
A colheita das uvas é feita à máquina. Comentei com Gonçalves que foi em Portugal que vi, pela primeira vez, a colheita mecânica de uvas para vinhos, nos idos de 1970, no Ribatejo, e fiquei impressionado com a violência do equipamento em relação à parreira, que ficava quase destruída. Hoje, a tecnologia evoluiu, as vinha foram plantadas em alturas mais adequadas à máquina, que não só colhe as uvas, como também as limpa de folhas, talos e outros detritos, entregando-as prontas na cantina. Uma máquina colhe um hectare de vinhedo por hora. Quando é feita a colheita manual, são necessários 30 pessoas para fazer o mesmo serviço durante um dia.
O primeiro vinho foi o Intuição Branco 2012, com Antão Vaz, Arinto e Chardonnay, 12,8º de álcool, de cor citrina, aroma a frutos tropicais, leve e fresco. Depois, o Figueirinha Branco Reserva 2012, com Chardonnay, Antão Vaz e Arinto, que mostrou clara fruta limpa, ideal para acompanhar pratos com peixes e mariscos, acidez ótima, 13º de álcool. O terceiro foi o Rosé Amnésia 2013, ano considerado muito bom por Gonçalves, com 100% de Touriga Nacional, 13,5º de álcool, um vinho que foge do padrão, não é tão leve como costumam ser os rosés.
O quarto vinho foi o Figueirinha Brut 2011,espumante  com 5% de Pinot Noir e 95% Chardonnay. Tem aroma floral, toque de mel, perlage fina, é fresco, com boa acidez, persistente, bom para aperitivo, com 12,5º de álcool. É vendido por E 7,49, em Portugal. O quinto foi o Amnésia Tinto 2009, com Touriga Nacional, Syrah e Aragonez, cor rubi intenso, aromas de frutos vermelhos, chá preto, taninos sauves, acidez equilibrada., 13,5º de álcool. O sexto vinho foi o Herdade da Figueirinha Tinto Reserva 2009, com Trincadeira, Aragonez, Alicante Bouschet, Syrah e Cabernet Sauvignon, também de cor rubi intenso, aromas a frutas vermelhas bem maduras, baunilha, boa acidez, taninos suaves, 13,5º de álcoll, com corpo e estrutura, que harmonizou muito bem com os bifes de porco preto com batatas doces fritas que pedi.
Os dois últimos vinhos da noite no Vovó Joaquina foram o Fonte Mouro Reserva Tinto 2011 e o Fonte Mouro  Garrafeira Tinto 2003. . O primeiro, 100% Touriga Nacional, tem 14,5º de álcool, cor rubi intensa, aromas a frutos pretos e alguma notas florais e de especiarias, taninos suaves, boa acidez e final longo. O segundo, com Trincadeira, Alicante Bouschet e Aragonez, mostra ser um vinho com grande longevidade, 14,2º de álcool, passou 14 meses em barricas de carvalho francês e americano. É vendido a E 15,00.

Herdade do Monte Novo e Figueirinha – e-mail: adega@montenovoefigueirinha.pt

Alentejo 20 - Boas lembranças de Portugal

             Só foi possível rever o Templo de Diana, em Évora, à noite
Mas voltei a dormir no Castelo do Rei D. Diniz e da Raínha Santa Isabel, em Estremoz

Mais uma vez visito Portugal e trago boas lembranças de sua gente, suas paisagens, seus vinhos e suas comidas. É vorá continua linda e misteriosa, com suas ruas estreitas, seu teatro, o templo de Diana, a Pousada dos Loios, o Fialho. Estremoz, com suas ruas palmilhadas há séculos, o castelo do Rei D. Diniz, a lenda de Santa Isabel, que transformou pães em rosas para fugir à ira do Rei, o restaurante São Rosas, que lembra o episódio. Vale a pena contá-lo. Numa época de crise e fome, a Raínha Isabel tirava pães da despensa do castelo e os levava aos pobres que rodeavam a grande muralha, ainda hoje existente. O Rei sabia e não aprovava. Certa vez, encontrou-a no pátio, com o regaço estufado, demonstrando que levava alguma coisa ali, e, para pegá-la em desobediência, perguntou-lhe o que levava. Isabel, candidamente, respondeu – São rosas! E largou a sobressaia, jogando ao chão as rosas nas quais os pães haviam se transformado. Desta vez não fui ao restaurante São Rosa, não deu tempo, mas, em 2011, lá estive, inclusive provando os vinhos de Margarida Cabaços.
Também não comi castanhas assadas na praça principal de Évora. Mas conheci a Maria Teresa Chicau, da Comissão Vitivinicola Regional Alentejana, que, todas as segundas-feiras, me manda a relação dos vinhos que participarão das provas da Semana dos Produtores. E, obviamente, a Maria Amélia Vaz da Silva, diretora de marketing da CVRA, que teve a gentileza de me convidar para conhecer um Alentejo Diferente. Também foi uma satisfação passar alguns dias em companhia do Victor Carneiro, motorista da Babika Actividades Turísticas, que nos levou às diversas adegas que visitamos. Se você, leitor, for à Portugal e precisar de transporte, procure o Victor, pelo telefone celular +351916941601  ou pelo e-mail babikamail@sapo.pt ou, ainda, à rua Gabriel Vitor Monte Pereira, 23 – 7000-533, em Évora. Mais indicações em WWW.babika.pt