sábado, 30 de junho de 2012

Supersafra de uva no RS agrava problemas do setor vitivinícola brasileiro


Maior estado produtor de uva no Brasil, Rio Grande do Sul processou a 2ª maior safra de uva da história este ano. Estoques de vinhos – a maioria vinho comum - devem somar mais de 300 milhões de litros no final do ano.
A supersafra de uva colhida e processada este ano no Rio Grande do Sul agrava os problemas vividos pelo setor vitivinícola brasileiro. Os vitivinicultores gaúchos processaram a segunda maior safra de uva da história em 2012. Segundo dados do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho) divulgados dia 20 de junho na Secretaria da Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa), durante reunião da Câmara Setorial da Uva e do Vinho, com a presença do secretário Luiz Fernando Mainardi, foram processados 696,1 milhões de quilos de uvas no RS, estado responsável por cerca de 90% da elaboração brasileira de vinhos e 55% da produção de uvas. Este é o volume de uvas processadas pelas vinícolas do RS, sem contar as uvas para consumo in natura, as vendidas para fora do estado e as processadas artesanalmente. O volume de uva deste ano é muito próximo da safra recorde do ano passado, que fechou com a colheita e o processamento de 709,6 milhões de quilos de uva.
Atualmente, as vinícolas instaladas no Rio Grande do Sul possuem 268,9 milhões de litros em estoque. “O volume excedente está mais de 100 milhões de litros acima do normal, que é um estoque de passagem ao redor de 150 milhões de litros”, afirmou o diretor-executivo do Ibravin, Carlos Raimundo Paviani. Com a nova safra de uva, que deve gerar 436,4 milhões de litros de vinho e derivados, a projeção é fechar o ano com 306 milhões de litros estocados, o maior volume desde 2009, quando havia um acúmulo de 313 milhões de litros de vinhos e derivados. “A grande safra de uva deste ano coloca o setor em alerta, pois os estoques são ainda maiores. Estamos esperando desde 2010 por medidas de redução dos estoques de vinhos finos e de mesa”, observou Paviani.
A preocupação é enorme entre os pequenos produtores de uva do RS. “Estamos apreensivos, porque se este problema não for resolvido, não haverá espaço na indústria para receber as uvas da próxima safra”, alertou coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, que também preside o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua.
“Vamos pedir ao governo federal que tome medidas para escoar o excedente de estoques de vinhos e assim aliviar o setor e tranquilizar os produtores”, disse o secretário Luiz Fernando Mainardi. “Também vamos reforçar a solicitação para que o governo adote medidas de salvaguarda para a produção nacional, contendo a invasão de produtos importados, cujo crescimento ultrapassa os 30% nos primeiros meses do ano”, completou o secretário.

Fartura e qualidade

As uvas viníferas somaram 75,7 milhões de quilos nesta safra, um pouco menor do que o recorde de 83,8 milhões de quilos da safra 2008. No ano passado, a safra de uva vinífera foi de 82,7 milhões de quilos. As uvas comuns (americanas ou híbridas) produziram uma colheita de 620,3 milhões de quilos, um pouco menor do que os 626,9 milhões de quilos de 2011. O tamanho da atual safra de uva surpreendeu o setor. “Mesmo com uma forte estiagem e com a ocorrência de granizo em dezembro, a produção de uva no Estado foi farta”, ressaltou Paviani. Conforme ele, se as videiras gaúchas não tivessem sofrido com o granizo e com a seca, esta seria a maior safra já colhida no Estado. “Era para ser uma safra cheia, superior a 750 milhões de quilos”, calculou.
Paviani disse que a boa produção desta safra, mesmo com a ocorrência de intempéries, está relacionada às novas áreas de cultivo implantadas nos últimos anos e que só agora entram definitivamente em produção, especialmente na Serra Gaúcha, a mais tradicional região produtora do Brasil. “Expandimos a área produtiva de uva na Serra Gaúcha e também em outras regiões, como a Campanha, a Serra do Sudeste e inclusive o Norte do Estado”, enumerou.
Além de quantidade, a forte estiagem gerou também uma safra de uva de alta qualidade, comparável à emblemática safra de 2005. A ocorrência do fenômeno La Niña, que trouxe em clima mais seco, com menos incidência de chuvas, resultou em um Grau Babo médio de 16,3 para as uvas viníferas, ante 14,9 do ano passado. Nas uvas comuns, o Grau Babo médio foi de 14,5 nesta safra, contra 13 no ano passado. Em 2005, o Grau Babo foi de 17,2 nas viníferas e de 15,3 nas comuns. “É o maior grau alcançado desde 2005, empatado com a safra de 2006”, diz Paviani. O Grau Babo representa a quantidade de açúcar, em peso, existente em 100g de mosto. “Os técnicos acreditam a safra de 2012 está entre as três melhores da história”, salientou Paviani.

Alternativa

Seguindo uma tendência dos últimos três anos, aumentou o volume de uvas comuns destinadas à elaboração de suco de uva. Nesta safra, 56% da uva comum colhida foi encaminhada para produção de suco. No ano passado foi 51%. Em 2004, apenas 24% da uva comum virou suco. “Esta é uma nova realidade do setor, que tem encontrado no suco de uva uma alternativa viável para o maior equilíbrio econômico e uma saída para enfrentar os altos estoques de vinhos de mesa”, destacou Paviani.
Assim como no ano passado, a produção de uvas viníferas foi dominada – mais de 60% - por cinco municípios nesta safra: Bento Gonçalves (16,8 milhões/kg), Farroupilha (10,4 milhões/kg), Monte Belo do Sul (8,1 milhões/kg), Santana do Livramento (7,5 milhões/kg) e Garibaldi (4 milhões/kg). Na sequência dos 10 maiores municípios produtores de uvas viníferas aparecem São Jorge, Encruzilhada do Sul, Cotiporã, Santa Tereza e Flores da Cunha.

Ranking

Os maiores municípios produtores de uva (comuns e viníferas) do Rio Grande do Sul e por extensão do Brasil são Bento Gonçalves (115,61 milhões de quilos, ante 123,3 milhões de quilos em 2011), Flores da Cunha (89,05 milhões/kg, contra 106,6 milhões/kg em 2011), Farroupilha (65,12 milhões/kg, diante de 72 milhões/kg no ano passado), Caxias do Sul (58,91 milhões/kg, frente a 60,5 milhões/kg de 2011) e Garibaldi (52,65 milhões/kg, contra 49,8 milhões/kg em 2011). Eles são seguidos por Monte Belo do Sul (43,49 milhões/kg), Nova Pádua (34,54 milhões/kg), Antônio Prado (26,43 milhões/kg) e São Marcos (21,38 milhões/kg).
Das uvas colhidas e processadas este ano no Rio Grande do Sul, 62,4% são originadas de apenas dois municípios, Bento Gonçalves (37,5%) e Flores da Cunha (24,9%). Na safra passada, Bento Gonçalves processou 36,2% da uva gaúcha e Flores da Cunha 24,9%. Farroupilha passou de 10,7% em 2011 para 11,2% das uvas processas no RS este ano. Ao todo, 65 municípios processaram uva nesta safra, ante 70 em 2011.
Evolução de vinícolas no RS
O número de empresas vinícolas no Rio Grande do Sul soma 733 este ano, contra 751 no ano passado. Os primeiros cinco municípios sede destas empresas são Flores da Cunha (24,3%), Caxias do Sul (16,9%), Bento Gonçalves (10,4%), Garibaldi (8,7%) e Farroupilha (6%). Em 2005, existiam 699 vinícolas no RS. Paviani destacou que 156 municípios gaúchos produziram uva nesta safra, contra 151 na safra de 2011 e 143 em 2010. Em 2004, por exemplo, havia 119 municípios produtores de uva no RS.


Add captionUva boa e em alta quantidade
 

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Infográfico mostra o comportamento das safras de uvas


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