quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Don Giovanni - A opção pela sustentabilidade

                               Beatriz Giovannini, a matriarca da Don Giovanni
                               Foto Luciano Garcia
                       Daniel Panizzi, gerente comercial da Don Giovanni
                       Foto Eduardo Benini

Marcos Graciani, coordenaor da Confria do Bom Vin, de Porto Alegre, manda-me o texto nascido do mais recente encontro dos confrades com a Vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira. A vinícola aposta aposta no plantio biodinâmico de videiras para dar perenidade aos negócios
Prática comum em algumas regiões da França, o manejo biodinâmico está começando a ganhar terreno no Brasil. Coube à vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira (RS), ser uma das pioneiras do país com a adoção do calendário biodinâmico onde a poda, manejo e a colheita são executados respeitando as regras da agricultura sustentável. No outono deste ano, pela primeira vez, foi feita uma compostagem com preparados biodinâmicos [direcionamento que garante maior atividade biológica e vitalidade no desenvolvimento da planta]. O preparo serviu de adubo para os vinhedos. No local, foi semeada ainda aveia preta no espaço entre as linhas. A grande aposta é que o uso da técnica biodinâmica trará qualidade aos produtos. “É difícil de descrever, mas o sistema biodinâmico ajuda a conseguir maturação mais completa. Os vinhos são mais intensos, encorpados, expressivos e longevos”, enumera Maciel Ampese, enólogo formado no Instituto Federal e cursando especialização em agricultura biodinâmica no Instituto Elo, em Botucatu (SP). Ampese projeta que o processo biodinâmico estará implantado em todos os vinhedos em até cinco anos. “Percebemos uma tendência mundial pela redução de defensivos químicos por causa da busca pela alimentação mais saudável”, recorda Daniel Panizzi, gerente comercial da Don Giovanni. Desde 2013, a vinícola já utiliza o TPC (Thermal Pest Control, ou controle térmico de pestes, procedimento de imunização de culturas agrícolas à base do ar quente). Como a técnica não supriu inteiramente a necessidade de diminuir o uso de agrotóxicos, a opção foi pelo manejo biodinâmico.
 Ainda que não seja o objetivo principal, a reconversão dos vinhedos poderá valorizar os vinhos da empresa – sobretudo os espumantes que respondem por 80% da produção anual de 120 mil garrafas. A ideia é manter o volume atual já que o microterroir de Pinto Bandeira é excelente para as uvas Chardonnay e Pinot Noir, usadas em alguns corte de espumantes. Atualmente, o município conta com Indicação de Procedência (forma de proteção da origem de produtos, inspirada no conceito francês de indicação de origem, que é a utilização de qualquer referência direta ou indireta da origem geográfica de produtos e serviços para identificá-los). Porém, os empresários da região já estudam com a Embrapa a busca da Denominação de Origem (ou DO, quando um produto faz a transição para esse nível, as normas e controles ficam muito mais específicos como as quantidades máximas que podem ser colhidas e o processo de elaboração do vinho). A previsão é que Pinto Bandeira seja elevado à categoria DO em até três anos. Dessa forma, os espumantes produzidos na região seguirão algumas normas – entre elas serem feitos pelo método tradicional e utilizar as variedades Chardonnay, Pinot Noir e Riesling para elaboração das bebidas, por exemplo.
 A nova denominação pode ajudar ainda mais a fazer com que os espumantes produzidos pela vinícola ganhem notoriedade. O Dona Bita 70 Meses que o diga. Elaborado com as variedades Chardonnay e Pinot Noir, a bebida foi feito pelo método tradicional com fermentação na própria garrafa e com nada menos que quase seis anos de maturação. O nome é uma homenagem dos filhos e proprietários da vinícola, Paola, Fábia e André, para a mãe, Beatriz Dreher Giovannini, cujo apelido carinhoso está impresso no rótulo. Ela completou, em julho, 70 anos. “Como o Dona Bita tem oito gramas de açúcar por litro, mas tem muito tempo em contato com leveduras, ele acompanha muito bem carne vermelha e massas mais condimentadas. Certamente não é aquele espumante para beira da piscina”, comenta Panizzi que é casado com Fábia e trabalha há mais de cinco anos na vinícola à convite da família. Neste primeiro lote, foram produzidas 500 unidades do produto cujo valor sugerido é de R$ 220. 
No entanto, a Don Giovanni tem outros espumantes de alta gama no portfólio. A Linha DG, da qual o Dona Bita faz parte, tem ainda outros quatro rótulos: Brut (R$ 65), Rosé Brut (R$ 52), Nature (R$ 65) e o Série Ouro Extra Brut 36 meses (R$ 100). A Linha Stravaganzza conta com duas opções: Moscatel (R$ 42) e Brut (R$ 48). O Stravaganzza Brut obteve nota excelente ( acima de 92 pontos) durante a 9º edição do Concurso do Espumante Brasileiro, organizado pela Associação Brasileira de Enologia (ABE) realizado no dia 16 de outubro. O rótulo conquistou uma das cinco grandes medalhas de ouro.
 Entre os vinhos tranquilos, o único branco é o Chardonnay (R$ 55). Entre as opções de tintos estão Merlot (R$ 55), Tannat (R$ 55), Cabernet Franc (R$ 55), Cabernet Sauvignon (R$ 55) e o Cuvée Segundo Acto (elaborado com pequenas parcelas dos melhores vinhos tintos elaborados no ano de 2012. É composto por 40% de Merlot, 15% de Tannat, 10% de Cabernet Sauvignon e 35% de Ancelota. R$ 92)
 Além da vinícola, o complexo da Don Giovanni reúne ainda varejo, pousada e restaurante. O estabelecimento fica a 12 quilômetros do centro de Bento Gonçalves em um dos pontos mais altos da região (720m). O local organiza refeições harmonizadas no restaurante que tem capacidade para 50 pessoas e atende a hóspedes e grupos mediante reservas. Grande parte do que é oferecido no cardápio, como temperos, legumes e hortaliças são produzidos na propriedade. Entre as delícias servidas está o risoto de vinho tinto Don Giovanni e alcachofras – o prato mais pedido na casa. Os quartos da pousada ficam junto a um casarão estilo colonial construído em 1930, mantendo as características originais. Em 2010, a antiga estrebaria do local foi totalmente reformada, sendo construída uma nova acomodação que foi apelidada de cabana. A jacuzzi, com vista para os parreirais, dá um toque de romantismo. Fábia, Paola e André, proprietários da vinícola, têm como hábito receber pessoalmente, sempre que podem, os hóspedes.

 No ano passado, a propriedade recebeu cerca de 600 turistas por mês. Na região há outras duas vinícolas, mas nenhuma com capacidade para atender grandes grupos de excursões, por exemplo. “É um modo de turismo mais particular. Praticamente metade dos turistas tem vindo de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Também há um aumento considerável de catarinenses”, conta Panizzi. Ainda que o Rio Grande do Sul represente hoje a maior fatia de mercado em vendas (30%), o Rio de Janeiro tem ganhado robustez (15%). O restante da região sul, Pará, Ceará, Mato Grosso e Recife (PE), além do Distrito Federal, são locais onde a Don Giovanni tem testemunhado um crescimento exponencial. “São resultados de um trabalho que estamos colhendo”, comemora Panizzi. Nada mais natural para uma companhia que optou pela sustentabilidade para dar perenidade ao negócio.

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