Como há mais de 40 anos visito a região vitivinicola da serra
gaúcha – meus primeiros trabalhos foram para o jornal Folha da Tarde, de Porto
Alegre, na década de 1960 -, vi o setor crescer, acompanhei os investimentos e
a “criação” do chamado “vinho brasileiro”, o nascimento de muitas vinícolas e a
consolidação de quatro ou cinco grandes grupos, especialmente nos últimos 10
anos; consegui muitos amigos (e alguns inimigos, especialmente quando escrevi,
em O Estado de S. Paulo, há alguns anos, que, na serra gaúcha, até de uva se
fazia vinho, em função de fraudes descobertas no vinho enviado a granel para
São Paulo, ou quando publiquei o que o famoso enólogo francês Michel Rolland,
disse pra mim e a Bete Duarte, que o vinho do Brasíl só conquistaria prestígio
mundial quando acabasse com o vinho comum (tese com a qual não concordei), o
que levou até o meu amigo Hermes Zanetti, então presidente da Aurora, a falar
mal de mim) – acho que posso meter a minha colher torta neste angu.
Que há uma séria
polêmica entre pequenos e grandes produtores de vinho, quanto ao tratamento
dado a cada um, há; que o Ibravin dá tiro no pé, dá; como no não muito distante
episódio da tentativa defendida pelo instituto de criar barreiras absurdas ao
ingresso de vinho estrangeiro (salvaguardas), querendo com isso reserva de
mercado. Felizmente, o governo federal não entrou na conversa. O consumo de
vinho brasileiro, pelos brasileiros, aumentaria facilmente se o vinho aqui
produzido fosse menos caro e de melhor qualidade, como diz o jornalista Pedro
Maciel.
Temos vinhos bons?
Temos vinhos excelentes. Mas os preços, em geral, além de mais caros do que os
estrangeiros de mesmo nível, estão acima da capacidade de consumo da maioria da
população. Como disse um jornalista amigo meu, cujo nome não revelo porque ele
não me autorizou, o Ibravin deveria usar o dinheiro do Fundovitis para ajudar
os produtores a conseguirem baixar custos, qualificar a gestão e melhorar a
qualidade ao invés de estar jogando-o em campanhas publicitárias que até,
agora, segundo muitos produtores, tem sido inócuas.
A maioria das
pessoas sabe que um dos motivos do vinho ser caro são os altos impostos
cobrados pelo governo. O que deve ser feito? Mostrar isso e lutar, no Parlamento
e no Executivo, para reduzir a carga fiscal. Logística, transporte, falta de
mão de obra também encarecem, mas tudo tem solução se houver disposição de
procurá-la. Nesta história toda, uma das coisas que sempre vi em mais de 40
anos de visitas aos vinhedos, quem menos ganha é o produtor da matéria-prima,
da uva, e, mesmo assim, dá para viver bem, como se vê na linda, agradável e
simpática região da uva e do vinho na serra gaúcha, bordada de casas novas e
grandes instalações para produção de vinhos. Não incluo aqui as novas
províncias vinícolas do Rio Grande do Sul – Encruzilhada e Campanha,
principalmente – porque lá os novos projetos são maiores, mais empresariais, o
que também é um sinal de que o setor representa bons negócios e rende dinheiro.
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