Ainda vou ir à cidade de São Roque, em São Paulo, para
conhecer os vinhos da região, mas, principalmente, tomar uma sopa de pedras,
acompanhada pelo vinho do morto, duas iguarias da Quinat do Olivardo. Sei que o
prato leva feijão-vermelho, costelinha de porco, chouriça, morcela, toucinho,
batatas, cebola, alho, louro, azeite, entre outros condimentos, é uma sopa
típica da culinária de Portugal, em especial de Almeirim, considerada a ‘capital
da sopa de pedra’, cidade situada no coração da região do Ribatejo, onde certa
vez, jantei com um grande senhor de terras, criador de touros para arena, de
cavalos e produtor de vinhos e ele caiu na asneira de dizer que aquele cálice
no qual estávamos bebendo um bom tinto estava na sua família há mais de 400
anos. Pra que, perdi o gosto pela pomba com passas de uvas que comiamos, só
segurando aquele calice precioso. Imagina se o quebro! .
Brincadeiras à parte, ao contrário do que se imagina, a
sopa de pedra é um prato que leva muitos ingredientes no seu preparo, e que a
‘pedra’ é apenas um pretexto histórico, com base em uma lenda portuguesa. Diz a lenda difundida em Portugal, que um
frade andarilho e faminto, chegando à porta de um agricultor, pediu uma ajuda e
não foi atendido. Não perdeu a esperanças e disse aos presentes: “Vou ver se
faço um caldinho de pedra”.
Em seguida pegou uma pedra que estava no chão,
limpou a terra e disse que aquela era ideal para fazer um bom caldo. Todos na
casa riram do frade. Foi quando o religioso indagou: “Vocês nunca comeram sopa
de pedra? Só lhes digo que é uma coisa muito boa”.
O grupo respondeu o desafio em coro: “Queremos ver
isso”. Foi o que o frade sempre quis ouvir. Depois de ter lavado a pedra, o
frade pediu uma panela de barro, encheu de água, colocou a pedra dentro e em
seguida levou ao fogo. Assim que a água levantou fervura, ele disse: “Um pedaço
de toucinho e este caldo ficará um primor.” Ferveu mais um tempo e os curiosos
ainda estavam pasmos. Em seguida o frade provou o caldo e comentou: “Está
insosso, se tivesse uma pitada de sal, seria o ideal”.
Salgado o caldo, o frade bradou novamente: “Esse caldo
com umas batatas e folhas de couve, até os anjos comeriam”. A dona da casa
trouxe os ingredientes fresquinhos da horta. Em seguida o frade clamou: “Se
tivesse um pedacinho de chouriça, dava toda graça”. Trouxeram um pedaço de
chouriça, ele juntou aos outros que já estavam cozinhando na panela. O cheiro
do caldo invadia toda a casa. O frade sentou-se, comeu até lamber o beiço. No
fundo da panela a pedra continuava intacta e serviu de questionamento pelos
presentes: “Senhor frade, e a pedra?” O religioso andarilho sabiamente
respondeu: “A pedra, lavo-a e levo-a comigo para outra vez”. E assim comeu onde
não lhe queriam dar nada.
Já o vinho dos mortos é outra tradição em Portugal. Foi uma medida adotada
pelos portugueses para preservar a bebida dos constantes saques franceses e de
outros soldados eu invadiam o país no passado. Enterravam as garrafas no meio
da pastagem, das plantações de uvas e debaixo das adegas. O que os portugueses
não imaginavam é que esse armazenamento inusitado deu novas características ao
vinho envelhecido, atraindo mais apreciadores.
A Quinta do Olivardo é uma adega, restaurante, lanchonete
e loja de produtos coloniais, vinhos, doces e compotas caseiras, atração
turística pela boa comida, ambiente acolhedor e também pela paisagem
exuberante. Os parreirais ladeando as instalações conferem o clima bucólico das
propriedades rurais da Ilha da Madeira, em Portugal, onde o proprietário
Olivardo Saqui buscou inspiração para construir um dos locais mais visitados da
Estrada do Vinho. Está localizada no km 4 da Estrada do Vinho, em São
Roque (SP), com acesso pelo km 58,5 da Rodovia Raposo Tavares (SP-270). Fica a
60 km de São Paulo e a 45 km de Sorocaba.
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