segunda-feira, 12 de maio de 2014

Cordeiro pode ser negócio da vez no Mato Grosso do Sul


A indústria paga entre R$ 140 e R$ 180 pela arroba de carcaça ovina e o Mato Grosso do Sul reúne condições para ser um dos maiores produtores. A tradição em outras atividades pecuárias confere um acervo de mão de obra qualificada, bastando apenas capacitá-la para a lida dos ovinos, sem contar a produção de grãos em abundância, que ajuda a baratear uma das etapas mais onerosas na produção de cordeiro: a terminação no cocho. Logística privilegiada também é um diferencial economicamente interessante, por estar há poucas horas dos principais polos consumidores, especialmente São Paulo, que consome cerca de 80% de toda produção nacional.
O rebanho local tem características peculiares, especialmente em relação à rusticidade, cultura que veio com os imigrantes sulistas, principalmente os gaúchos, que conduzem um sistema de criação exemplar. As raças lanadas e semideslanadas foram se adaptando aos aspectos edafoclimáticos, incrementando a rusticidade. “Temos uma ovinocultura latente, com um rebanho bem adaptado e produtivo também”, relata Ana Cristina Andrade Bezerra, da ASMACO (Associação Sul Mato Sul-matogrossense dos Criadores de Ovinos).
Em volume, assim como em outras regiões, o rebanho é inexpressivo, com algo em torno de 600 mil cabeças. Essa, aliás, é um conta subjetiva. Ovino é uma espécie “rastreadora” para febre aftosa, dispensando a necessidade de declaração de vacinação do rebanho. Problema mesmo é o fato da ovinocultura ainda ser encarada pela maioria como meio de subsistência, e muitas vezes pelos próprios ovinocultores. “É comum criadores dizerem possuir 200 cabeças, quando, na verdade, têm o dobro disso. A criação é o negócio da vez. Não só pelos preços mais atraentes, mas também pelo seu ciclo produtivo, mais curto; custo de produção compensatório e grande demanda”, avalia.
A criação, comumente, é consorciada com outras espécies, como o gado de corte e leite. Em países onde este mercado é desenvolvido, como Uruguai, Austrália e Nova Zelândia, o maior percentual dos rebanhos é tocado dessa maneira. Além de ganhos sanitário, outra vantagem é a variabilidade econômica que proporciona. Ovinos poderiam compensar, por exemplo, oscilações abruptas comuns no mercado do boi gordo.
Evitando atravessadores – Sem volume e escala, o cenário é atraente aos atravessadores, como são conhecidos aquelas pessoas que vão até as fazendas para comprar cordeiros. Custos de captação só se tornam compensadores para a indústria em fazendas que forneçam de 150 a 300 animais/ciclo, sendo que a média produtiva pode não chegar a 70 cabeças. Sem condições para aumentar o rebanho, quem cria e produz fica à mercê dos atravessadores, e sem qualquer poder de barganha. 
Para tentar coibir tal prática, foi desenvolvido no ano passado o Sistema PDOA (Propriedade de Descanso de Ovinos para Abate), que abrigam rebanhos até a formação de uma carga que compense os custos com frete. Atualmente, apenas uma propriedade está operante, com 5 embarques já realizados e a participação de produtores com diferentes quantidades de animais. “Independentemente do volume de animais, todos recebem o mesmo preço, situação que não aconteceria se a negociação fosse feita de maneira individual. O objetivo é realizar abates mensais, sempre buscando melhor remuneração ao produtor”, finaliza Ana Cristina.
O modelo criado no ano passado é credenciado na Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO) e na Secretaria de Estado da Fazenda do Mato Grosso do Sul (SEFAZ), além de contar com uma infraestrutura personalizada, provida de currais de divisão e desembarcadouros que respeitam práticas de bem-estar animal. 

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