Foto Luciano Garcia
Daniel Panizzi, gerente comercial da Don Giovanni
Foto Eduardo Benini
Marcos Graciani, coordenaor da Confria do Bom Vin, de
Porto Alegre, manda-me o texto nascido do mais recente encontro dos confrades
com a Vinícola Don Giovanni, de Pinto Bandeira. A vinícola aposta aposta no
plantio biodinâmico de videiras para dar perenidade aos negócios
Prática comum em algumas regiões da França, o manejo
biodinâmico está começando a ganhar terreno no Brasil. Coube à vinícola Don
Giovanni, de Pinto Bandeira (RS), ser uma das pioneiras do país com a adoção do
calendário biodinâmico onde a poda, manejo e a colheita são executados
respeitando as regras da agricultura sustentável. No outono deste ano, pela
primeira vez, foi feita uma compostagem com preparados biodinâmicos
[direcionamento que garante maior atividade biológica e vitalidade no
desenvolvimento da planta]. O preparo serviu de adubo para os vinhedos. No
local, foi semeada ainda aveia preta no espaço entre as linhas. A grande aposta
é que o uso da técnica biodinâmica trará qualidade aos produtos. “É difícil de
descrever, mas o sistema biodinâmico ajuda a conseguir maturação mais completa.
Os vinhos são mais intensos, encorpados, expressivos e longevos”, enumera
Maciel Ampese, enólogo formado no Instituto Federal e cursando especialização
em agricultura biodinâmica no Instituto Elo, em Botucatu (SP). Ampese projeta
que o processo biodinâmico estará implantado em todos os vinhedos em até cinco
anos. “Percebemos uma tendência mundial pela redução de defensivos químicos por
causa da busca pela alimentação mais saudável”, recorda Daniel Panizzi, gerente
comercial da Don Giovanni. Desde 2013, a vinícola já utiliza o TPC (Thermal
Pest Control, ou controle térmico de pestes, procedimento de imunização de
culturas agrícolas à base do ar quente). Como a técnica não supriu inteiramente
a necessidade de diminuir o uso de agrotóxicos, a opção foi pelo manejo
biodinâmico.
Ainda que não seja o objetivo principal, a
reconversão dos vinhedos poderá valorizar os vinhos da empresa – sobretudo os
espumantes que respondem por 80% da produção anual de 120 mil garrafas. A ideia
é manter o volume atual já que o microterroir de Pinto Bandeira é excelente
para as uvas Chardonnay e Pinot Noir, usadas em alguns corte de espumantes.
Atualmente, o município conta com Indicação de Procedência (forma de proteção
da origem de produtos, inspirada no conceito francês de indicação de origem,
que é a utilização de qualquer referência direta ou indireta da origem
geográfica de produtos e serviços para identificá-los). Porém, os empresários
da região já estudam com a Embrapa a busca da Denominação de Origem (ou DO,
quando um produto faz a transição para esse nível, as normas e controles ficam
muito mais específicos como as quantidades máximas que podem ser colhidas e o
processo de elaboração do vinho). A previsão é que Pinto Bandeira seja elevado
à categoria DO em até três anos. Dessa forma, os espumantes produzidos na
região seguirão algumas normas – entre elas serem feitos pelo método
tradicional e utilizar as variedades Chardonnay, Pinot Noir e Riesling para
elaboração das bebidas, por exemplo.
A nova denominação pode ajudar ainda mais a fazer
com que os espumantes produzidos pela vinícola ganhem notoriedade. O Dona Bita
70 Meses que o diga. Elaborado com as variedades Chardonnay e Pinot Noir, a
bebida foi feito pelo método tradicional com fermentação na própria garrafa e
com nada menos que quase seis anos de maturação. O nome é uma homenagem dos
filhos e proprietários da vinícola, Paola, Fábia e André, para a mãe, Beatriz Dreher
Giovannini, cujo apelido carinhoso está impresso no rótulo. Ela completou, em
julho, 70 anos. “Como o Dona Bita tem oito gramas de açúcar por litro, mas tem
muito tempo em contato com leveduras, ele acompanha muito bem carne vermelha e
massas mais condimentadas. Certamente não é aquele espumante para beira da
piscina”, comenta Panizzi que é casado com Fábia e trabalha há mais de cinco
anos na vinícola à convite da família. Neste primeiro lote, foram produzidas
500 unidades do produto cujo valor sugerido é de R$ 220.
No entanto, a Don Giovanni tem outros espumantes de alta
gama no portfólio. A Linha DG, da qual o Dona Bita faz parte, tem ainda outros
quatro rótulos: Brut (R$ 65), Rosé Brut (R$ 52), Nature (R$ 65) e o Série Ouro
Extra Brut 36 meses (R$ 100). A Linha Stravaganzza conta com duas opções:
Moscatel (R$ 42) e Brut (R$ 48). O Stravaganzza Brut obteve nota excelente (
acima de 92 pontos) durante a 9º edição do Concurso do Espumante Brasileiro,
organizado pela Associação Brasileira de Enologia (ABE) realizado no dia 16 de
outubro. O rótulo conquistou uma das cinco grandes medalhas de ouro.
Entre os vinhos tranquilos, o único branco é o
Chardonnay (R$ 55). Entre as opções de tintos estão Merlot (R$ 55), Tannat (R$
55), Cabernet Franc (R$ 55), Cabernet Sauvignon (R$ 55) e o Cuvée Segundo Acto
(elaborado com pequenas parcelas dos melhores vinhos tintos elaborados no ano
de 2012. É composto por 40% de Merlot, 15% de Tannat, 10% de Cabernet Sauvignon
e 35% de Ancelota. R$ 92)
Além da vinícola, o complexo da Don Giovanni reúne
ainda varejo, pousada e restaurante. O estabelecimento fica a 12 quilômetros do
centro de Bento Gonçalves em um dos pontos mais altos da região (720m). O local
organiza refeições harmonizadas no restaurante que tem capacidade para 50
pessoas e atende a hóspedes e grupos mediante reservas. Grande parte do que é
oferecido no cardápio, como temperos, legumes e hortaliças são produzidos na
propriedade. Entre as delícias servidas está o risoto de vinho tinto Don
Giovanni e alcachofras – o prato mais pedido na casa. Os quartos da pousada
ficam junto a um casarão estilo colonial construído em 1930, mantendo as
características originais. Em 2010, a antiga estrebaria do local foi totalmente
reformada, sendo construída uma nova acomodação que foi apelidada de cabana. A
jacuzzi, com vista para os parreirais, dá um toque de romantismo. Fábia, Paola
e André, proprietários da vinícola, têm como hábito receber pessoalmente,
sempre que podem, os hóspedes.
No ano passado, a propriedade recebeu cerca de 600
turistas por mês. Na região há outras duas vinícolas, mas nenhuma com
capacidade para atender grandes grupos de excursões, por exemplo. “É um modo de
turismo mais particular. Praticamente metade dos turistas tem vindo de São
Paulo ou do Rio de Janeiro. Também há um aumento considerável de catarinenses”,
conta Panizzi. Ainda que o Rio Grande do Sul represente hoje a maior fatia de
mercado em vendas (30%), o Rio de Janeiro tem ganhado robustez (15%). O
restante da região sul, Pará, Ceará, Mato Grosso e Recife (PE), além do
Distrito Federal, são locais onde a Don Giovanni tem testemunhado um
crescimento exponencial. “São resultados de um trabalho que estamos colhendo”,
comemora Panizzi. Nada mais natural para uma companhia que optou pela
sustentabilidade para dar perenidade ao negócio.
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