domingo, 8 de junho de 2014

Organização da ovinocultura é caminho sem volta


A PecPress envia-me interessante artigo de um criador de Dorper, ovino que também está se expandindo pelo Rio Grande do Sul. Mas os maiores criadores ainda estão no centro do País. Eis o texto de Paulo Auygusto Franzine*, presidente da associação Dorper: 
“Na última década, presenciamos uma reviravolta na ovinocultura, com a queda da lã e as demandas fortíssimas para a carne de cordeiro. Nesta transição, o produtor brasileiro mais uma vez demonstrou sua vocação de produzir alimento, fazendo emergir um mercado que há tempos permanecia adormecido. Agora é preciso arregaçar as mangas e trabalhar mais que nunca para atender as demandas que construímos, além daquelas por qualidade que ainda estão por vir. 
Sabor, maciez e suculência já são caraterísticas marcantes do produto nacional, graças ao investimento realizado dentro da porteira, no melhoramento genético do plantel e com o uso de novas tecnologias. O resultado não poderia ser melhor e surpreende mesmo aqueles que resistiam ao consumo por experiências negativas no passado, quando a carne que chegava ao consumidor era de qualidade duvidosa e oriunda de animais abatidos em idade avançada. 
Hoje, podemos afirmar com convicção que nossa matéria-prima já é superior à boa parte daquela que vem sendo importada de outros países que fazem os ovinocultores brasileiros experimentar amarga concorrência. Claro, não podemos generalizar. A qualidade do que entra depende diretamente do bolso de quem compra. Vivenciamos um momento especial e que há muitos anos esperávamos. O consumo cresceu, forçando importação do produto num primeiro instante, e agora alavanca a organização de nossa cadeia produtiva.  
Para que isso aconteça de fato, como produtores temos de garantir à indústria escalas constantes para que consigam, ao menos, honrar os contratos firmados. Este elo importante está encontrando muita dificuldade para conseguir cordeiros. A resposta aparece nos preços pagos ao produtor, nunca antes tão atraentes. Em praças importantes como São José do Rio Preto e Marília, no Estado de São Paulo, o quilo de carcaça ovina está cotado a R$ 12,22 ou R$ 184,00/@ (cotação Aspaco), quase o dobro do que ganha um pecuarista que trabalha com bovinos de corte. 
Sou empresário, aposto nesse mercado há poucos anos, e para mim não faria sentido permanecer nele se não gerasse lucro. Com um rebanho de 17 milhões de cabeças, que não cresce nem 2% ano (dado do IBGE/FAO), a oferta de cordeiros é e continuará sendo o grande gargalo no Brasil por algum tempo. Traduzindo para o bom português, é o cenário perfeito para quem busca faturar mais ou para o criador de bovinos diversificar a renda, especialmente considerando o ciclo produtivo da espécie, muito inferior ao do boi.  
Enquanto, uma fazenda tecnificada abate gado de corte com 24 meses de idade, um cordeiro é terminado com até 150 dias de vida. Propriedades que investem um pouco mais em genética reduzem este intervalo um pouco mais, gerando borregos superprecoces em menos de 120 dias. A qualidade suprema conferida nesses produtos, inclusive, trouxe para cordeiros cruza Dorper e White Dorper um certificado de qualidade inédito na ovinocultura. 
Boi e ovino é um casamento perfeito e duradouro, e que faz grande sucesso nos países onde a ovinocultura é consolidada. Viabiliza o total aproveitamento da terra, hoje uma regra no Brasil. Outro benefício desta integração é a possibilidade de contar com renda extra para enfrentar as oscilações de mercado. Os insumos utilizados são praticamente os mesmos nas duas atividades, com cuidado maior apenas em relação ao controle sanitário do rebanho ovino, que são mais sensíveis a verminoses. Problema facilmente resolvido com vermifugação adequada e adoção do pastejo rotacionado. O boi come a parte de cima do pasto, ovelha, a de baixo. Falando nisso, o mundo produz em regime extensivo e conosco não deve ser diferente.  
E não se preocupe se está ingressando agora na criação e conhece pouco sobre o manejo. Existem núcleos de produtores espalhados pelo território brasileiro, além das associações, entidades ligadas ao governo e até mesmo os grandes criadores, que estão empenhados em abrir suas propriedades para mostrar de que forma trabalham. Algumas, inclusive, oferecem assistência técnica, consultoria ou mesmo acesso à genética em troca da exclusividade na compra dos cordeiros, inclusive remunerando acima dos preços de mercado por qualidade. 
Caso deseje investir numa atividade de rápido retorno econômico, a ovinocultura é uma excelente opção. O mercado é promissor, mas é preciso atentar ao manejo para que o negócio não vá por água abaixo. Reserve as matrizes saudáveis e férteis e selecione reprodutores funcionais. Controle custos na ponta do lápis e, se não tem condições de formar um lote com número suficiente de animais para abate, una forças com seu vizinho. E que fique a lição mais importante: o consumo só cresce no Brasil por causa da qualidade da carne que produzimos. Agora, é nossa obrigação abastecer o mercado com um produto à altura.” 
*Paulo Augusto Franzine é presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper), selecionador de ovinos dessas raças em São Roque (SP).



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