A PecPress envia-me interessante artigo de um criador de
Dorper, ovino que também está se expandindo pelo Rio Grande do Sul. Mas os
maiores criadores ainda estão no centro do País. Eis o texto de Paulo Auygusto
Franzine*, presidente da associação Dorper:
“Na última década, presenciamos uma reviravolta
na ovinocultura, com a queda da lã e as demandas fortíssimas para a carne de
cordeiro. Nesta transição, o produtor brasileiro mais uma vez demonstrou sua
vocação de produzir alimento, fazendo emergir um mercado que há tempos
permanecia adormecido. Agora é preciso arregaçar as mangas e trabalhar mais que
nunca para atender as demandas que construímos, além daquelas por qualidade que
ainda estão por vir.
Sabor, maciez e suculência já são
caraterísticas marcantes do produto nacional, graças ao investimento realizado
dentro da porteira, no melhoramento genético do plantel e com o uso de novas
tecnologias. O resultado não poderia ser melhor e surpreende mesmo aqueles que
resistiam ao consumo por experiências negativas no passado, quando a carne que chegava
ao consumidor era de qualidade duvidosa e oriunda de animais abatidos em idade
avançada.
Hoje, podemos afirmar com convicção
que nossa matéria-prima já é superior à boa parte daquela que vem sendo
importada de outros países que fazem os ovinocultores brasileiros experimentar
amarga concorrência. Claro, não podemos generalizar. A qualidade do que entra
depende diretamente do bolso de quem compra. Vivenciamos um momento especial e
que há muitos anos esperávamos. O consumo cresceu, forçando importação do
produto num primeiro instante, e agora alavanca a organização de nossa cadeia
produtiva.
Para que isso aconteça de fato, como
produtores temos de garantir à indústria escalas constantes para que consigam,
ao menos, honrar os contratos firmados. Este elo importante está encontrando
muita dificuldade para conseguir cordeiros. A resposta aparece nos preços pagos
ao produtor, nunca antes tão atraentes. Em praças importantes como São José do
Rio Preto e Marília, no Estado de São Paulo, o quilo de carcaça ovina está
cotado a R$ 12,22 ou R$ 184,00/@ (cotação Aspaco), quase o dobro do que ganha
um pecuarista que trabalha com bovinos de corte.
Sou empresário, aposto nesse mercado
há poucos anos, e para mim não faria sentido permanecer nele se não gerasse
lucro. Com um rebanho de 17 milhões de cabeças, que não cresce nem 2% ano (dado
do IBGE/FAO), a oferta de cordeiros é e continuará sendo o grande gargalo no
Brasil por algum tempo. Traduzindo para o bom português, é o cenário perfeito
para quem busca faturar mais ou para o criador de bovinos diversificar a renda,
especialmente considerando o ciclo produtivo da espécie, muito inferior ao do
boi.
Enquanto, uma fazenda tecnificada
abate gado de corte com 24 meses de idade, um cordeiro é terminado com até 150
dias de vida. Propriedades que investem um pouco mais em genética reduzem este
intervalo um pouco mais, gerando borregos superprecoces em menos de 120 dias. A
qualidade suprema conferida nesses produtos, inclusive, trouxe para cordeiros
cruza Dorper e White Dorper um certificado de qualidade inédito na
ovinocultura.
Boi e ovino é um casamento perfeito e
duradouro, e que faz grande sucesso nos países onde a ovinocultura é
consolidada. Viabiliza o total aproveitamento da terra, hoje uma regra no
Brasil. Outro benefício desta integração é a possibilidade de contar com renda
extra para enfrentar as oscilações de mercado. Os insumos utilizados são
praticamente os mesmos nas duas atividades, com cuidado maior apenas em relação
ao controle sanitário do rebanho ovino, que são mais sensíveis a verminoses.
Problema facilmente resolvido com vermifugação adequada e adoção do pastejo
rotacionado. O boi come a parte de cima do pasto, ovelha, a de baixo. Falando
nisso, o mundo produz em regime extensivo e conosco não deve ser diferente.
E não se preocupe se está ingressando
agora na criação e conhece pouco sobre o manejo. Existem núcleos de produtores
espalhados pelo território brasileiro, além das associações, entidades ligadas
ao governo e até mesmo os grandes criadores, que estão empenhados em abrir suas
propriedades para mostrar de que forma trabalham. Algumas, inclusive, oferecem
assistência técnica, consultoria ou mesmo acesso à genética em troca da
exclusividade na compra dos cordeiros, inclusive remunerando acima dos preços
de mercado por qualidade.
Caso deseje investir numa atividade de
rápido retorno econômico, a ovinocultura é uma excelente opção. O mercado é promissor,
mas é preciso atentar ao manejo para que o negócio não vá por água abaixo.
Reserve as matrizes saudáveis e férteis e selecione reprodutores funcionais.
Controle custos na ponta do lápis e, se não tem condições de formar um lote com
número suficiente de animais para abate, una forças com seu vizinho. E que
fique a lição mais importante: o consumo só cresce no Brasil por causa da
qualidade da carne que produzimos. Agora, é nossa obrigação abastecer o mercado
com um produto à altura.”
*Paulo Augusto Franzine é presidente da Associação Brasileira dos
Criadores de Dorper (ABCDorper), selecionador de ovinos dessas raças em São
Roque (SP).
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