Com demandas tão atraentes, é impossível afirmar que a
ovinocultura seja um mal negócio. De um lado, a carne de cordeiro já entra no
cardápio da sociedade brasileira. Do outro, o rebanho nacional não cresce mais
que 2% ao ano. Uma reação imediata é a alta nos preços pagos para o produtor,
que agora encontra condições para se profissionalizar e fornecer o produto que
o mercado deseja. “Meu negócio é seleção genética, mas comercializo cordeiro
por mais de R$ 200,00/@ (arroba). É quase o dobro do que ganha o pecuarista que
trabalha com gado de corte. Realmente, vale muito a pena investir”, avalia o
criador Bolivar Figueiredo Silva Filho, criador de ovinos Dorper e White
Dorper, no município de Platina, que fica perto de Assis (SP).
Esses ovinos foram desenvolvidos na África do Sul para
suprir a carência de qualidade na produção nativa de carne de cordeiro. Fazem
sucesso em todos os países onde a ovinocultura é desenvolvida. Quando cruzadas
com outras raças, resultam em cordeiros precoces, que vão para o abate entre
150 e 180 dias de vida, pesando até 50 quilos.
Dados como esses definem a legítima carne de cordeiro,
aquela que o consumidor aprendeu a saborear e está disposto a pagar mais para
tê-la em sua mesa. Em hipótese alguma este produto tão nobre deve ser
confundido com carne de carneiro, aquela proveniente de ovinos que alcançam maturidade
sexual. “A carne de carneiro tem um gosto muito forte e que não agrada o
paladar do brasileiro. Aliás, é um dos motivos pelo qual o consumo não cresceu
ainda mais”, explica, ressaltando que o consumidor, por este motivo, criou uma
imagem negativa da carne ovina.
Entretanto, quando os consumidores experimentam a carne
de cordeiro produzida atualmente acabam se rendendo e tornando-se clientes
fiéis. Segundo Bolívar, mesmo em meio a uma cadeia produtiva ainda
desorganizada, o padrão de qualidade da carne de cordeiro nacional já é melhor
do que boa parte do produto importado. Não existem dados oficiais, mas
estima-se que o consumo per capita tenha saltado de 700 gramas/habitante/ano
para mais de 1 kg, o que é ainda é pouco, se comparado com o Uruguai e Nova
Zelândia, por exemplo, onde cada pessoa chega a consumir mais de 30 quilos/ano.
Enquanto o interesse pela carne de cordeiro cresce,
ofertas que sustentem a demanda poderão se tornar um problema no médio/longo
prazo. Existem no Brasil cerca de 17 milhões de cabeças de ovinos, volume
quatro ou cinco vezes menor do que seria o necessário para atender a população.
Para especialistas, o momento de investir no setor é agora. Nunca na história
da ovinocultura os preços estiveram tão elevados pela carne. “E não é preciso
começar grande. Uma pequena propriedade já seria capaz de gerar renda. Para
quem puder ir um pouco além e investir na seleção genética, poderá aproveitar
ainda mais. Consigo vender reprodutores - aqueles que quando cruzados com
ovelhas comerciais dão origem aos cordeiros que serão abatidos - por quase R$
2.000,00. É um preço excelente”, diz o criador.
E o retorno pode vir em pouquíssimo tempo. Bolívar, por
exemplo, começou seu plantel há apenas quatro anos, mas já conseguiu construir
marca entre os que selecionam há mais tempo. Cooperativismo é boa alternativa –
Já existem polos espalhados pelo Brasil que produzem em sistema de parceria
para ter escala comercial. Mesmo em regiões onde a ovinocultura é pouco
difundida, é possível adotar um modelo semelhante. “A cada dia surgem pequenos
produtores de carne, que muitas vezes são vizinhos e não se conhecem. A união
ajudaria na formação de escala e no acesso aos benefícios conquistados por
projetos já consolidados, como desconto nos insumos e uso de tecnologias. As
associações de raças poderiam ser mais atuantes nesse sentido, estimulando a
comunicação entre os pequenos produtores em uma mesma região”, avalia Bolívar.
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