sexta-feira, 13 de junho de 2014

Em Caruaru (PE), criador comemora derrubada de barreiras sanitárias em todo Nordeste


Uma assembleia da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) nunca foi tão comemorada pelos ovinocultores nordestinos, em especial pelos pernambucanos. Foi de lá que veio o anúncio oficial de que agora toda a região foi classificada como área livre de febre aftosa com vacinação, mérito conquistado antes apenas pela Bahia e por Sergipe. “Temos um acervo genético fantástico, só que tínhamos muita dificuldade em divulgá-lo para o restante do Brasil, pelos custos com quarentena, sorologia, comunicações entre estados e outras burocracias”, conta o criador Roberto Teixeira, proprietário da cabanha Dorper Constelação, no município de Caruaru, no Agreste Pernambucano.
Há três anos, ele visitou uma exposição em São Paulo (SP) e se apaixonou por duas raças de origem sul-africana, a Dorper e a White Dorper. Comprou um animal e, de lá pra cá, passou a figurar no circuito nacional, adquirindo animais consagrados, de cabanhas tradicionais, especialmente do Nordeste e Sudeste, onde estão os grandes bancos genéticos dessas raças.
Contando entre doadoras, reprodutores, matrizes, receptoras e time de pista seu plantel gira, atualmente, em torno de 400 animais, incluindo o rebanho comercial, de onde saem alguns cordeiros para abate. Mesmo em meio a tantas dificuldades decorrentes da barreira sanitária, Teixeira conseguiu divulgar seu trabalho. “Sofríamos demais por estarmos numa região classificada como de risco para aftosa. Poucos queriam ou tinham condições de transitar animais para fora de Pernambuco. Para que isso acontecesse, eu costumava mobilizar os colegas e até assumir responsabilidades para representar Pernambuco em outros estados”, diz o criador.
Em 2011, por exemplo, quando ocorreu em Salvador (BA), a Exposição Nacional das Raças Dorper e White Dorper, a mostra suprema dessas raças, houve pouca representação de criadores dos demais estados nordestinos. Até mesmo os colegas com mais prestigio de Alagoas, Piauí, Rio Grande do Norte deixaram de participar com animais. “Essas raças estão crescendo muito e nossa presença era mais que obrigatória. Juntei animais de meus colegas, fizemos a quarentena, botei tudo no caminhão da Constelação e partimos para o evento. O mesmo aconteceu na Exposição Nacional de 2012, realizada no Espírito Santo, quando conseguimos, inclusive, levar um número ainda maior de animais e criadores. Sempre fui muito otimista, mas a lei de mercado é soberana: custo deve se pagar com a venda dos animais. Antes, era quase impossível girar esse mercado. Focávamos nas demandas da região”, afirma.
Agora que Pernambuco encontra-se numa situação equivalente à da maioria dos estados brasileiros, o trânsito animal será livre e sem custos adicionais. A felicidade de Roberto é tamanha que ele e outros criadores participarão em peso da 8ª Exposição Nacional das Raças Dorper e White Dorper, que regressa para a Bahia neste ano. A ABCDorper, em parceria com a Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (ACCOBA), decidiu promover essa mostra junto com a 27ª Feira Nacional da Agropecuária (Fenagro’2014), entre os dias 29 de novembro e 7 de dezembro.
Certamente, será uma das maiores exposições na história da raça, com mais de 1.000 animais em julgamento, agora com a presença maciça de quem antes podia comprar, mas não vender.
Relação entre genética e produção de carne – Pernambuco, assim como outras Unidades Federativas, absorve toda a carne ovina que produz, seja ela de cordeiro (proveniente de animais jovens) ou carneiro (aqueles abatidos com idade mais avançada). Segundo Roberto Teixeira, aos poucos, a qualidade desse produto é aperfeiçoada e num futuro próximo chegará ao padrão desejado pelos consumidores dos grandes centros urbanos. “Com a queda das barreiras sanitárias, o produtor se movimentará mais nesse sentido e a atividade vai se organizar”, diz.
 Em relação a preço, diz que os produtores já recebem entre R$ 14,00 e R$ 18,00 pelo quilo do ovino, o que o criador acredita ser reflexo do anúncio feito pela OIE. “Por estes dias, tentei comprar um lote de receptora, mas não consegui negociar. Tinha gente cobrando até R$ 20/quilo”, informa, explicando que a cotação do quilo/animal é balizador de preço na região da propriedade.

Para fornecer a carne desejada pelo mercado, é preciso investir em melhoramento genético, ou seja, comprar reprodutores que, comprovadamente, resultem em cordeiros precoces, com alto rendimento de carcaça e qualidade de carne. As raças sul-africanas Dorper e White Dorper apresentam tal qualidade, tanto que, hoje, são as raças que mais crescem no Brasil. Os machos são férteis e cobrem um bom volume de ovelhas a campo.

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