Uma
assembleia da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) nunca foi tão
comemorada pelos ovinocultores nordestinos, em especial pelos pernambucanos.
Foi de lá que veio o anúncio oficial de que agora toda a região foi
classificada como área livre de febre aftosa com vacinação, mérito conquistado
antes apenas pela Bahia e por Sergipe. “Temos um acervo genético fantástico, só
que tínhamos muita dificuldade em divulgá-lo para o restante do Brasil, pelos
custos com quarentena, sorologia, comunicações entre estados e outras burocracias”,
conta o criador Roberto Teixeira, proprietário da cabanha Dorper Constelação,
no município de Caruaru, no Agreste Pernambucano.
Há três
anos, ele visitou uma exposição em São Paulo (SP) e se apaixonou por duas raças
de origem sul-africana, a Dorper e a White Dorper. Comprou um animal e, de lá
pra cá, passou a figurar no circuito nacional, adquirindo animais consagrados,
de cabanhas tradicionais, especialmente do Nordeste e Sudeste, onde estão os
grandes bancos genéticos dessas raças.
Contando entre
doadoras, reprodutores, matrizes, receptoras e time de pista seu plantel gira,
atualmente, em torno de 400 animais, incluindo o rebanho comercial, de onde
saem alguns cordeiros para abate. Mesmo em meio a tantas dificuldades
decorrentes da barreira sanitária, Teixeira conseguiu divulgar seu trabalho.
“Sofríamos demais por estarmos numa região classificada como de risco para
aftosa. Poucos queriam ou tinham condições de transitar animais para fora de
Pernambuco. Para que isso acontecesse, eu costumava mobilizar os colegas e até
assumir responsabilidades para representar Pernambuco em outros estados”, diz o
criador.
Em 2011,
por exemplo, quando ocorreu em Salvador (BA), a Exposição Nacional das Raças
Dorper e White Dorper, a mostra suprema dessas raças, houve pouca representação
de criadores dos demais estados nordestinos. Até mesmo os colegas com mais
prestigio de Alagoas, Piauí, Rio Grande do Norte deixaram de participar com
animais. “Essas raças estão crescendo muito e nossa presença era mais que obrigatória.
Juntei animais de meus colegas, fizemos a quarentena, botei tudo no caminhão da
Constelação e partimos para o evento. O mesmo aconteceu na Exposição Nacional
de 2012, realizada no Espírito Santo, quando conseguimos, inclusive, levar um
número ainda maior de animais e criadores. Sempre fui muito otimista, mas a lei
de mercado é soberana: custo deve se pagar com a venda dos animais. Antes, era
quase impossível girar esse mercado. Focávamos nas demandas da região”, afirma.
Agora que
Pernambuco encontra-se numa situação equivalente à da maioria dos estados
brasileiros, o trânsito animal será livre e sem custos adicionais. A felicidade
de Roberto é tamanha que ele e outros criadores participarão em peso da 8ª
Exposição Nacional das Raças Dorper e White Dorper, que regressa para a Bahia
neste ano. A ABCDorper, em parceria com a Associação dos Criadores de Caprinos
e Ovinos da Bahia (ACCOBA), decidiu promover essa mostra junto com a 27ª Feira
Nacional da Agropecuária (Fenagro’2014), entre os dias 29 de novembro e 7 de
dezembro.
Certamente,
será uma das maiores exposições na história da raça, com mais de 1.000 animais
em julgamento, agora com a presença maciça de quem antes podia comprar, mas não
vender.
Relação
entre genética e produção de carne – Pernambuco,
assim como outras Unidades Federativas, absorve toda a carne ovina que produz,
seja ela de cordeiro (proveniente de animais jovens) ou carneiro (aqueles
abatidos com idade mais avançada). Segundo Roberto Teixeira, aos poucos, a
qualidade desse produto é aperfeiçoada e num futuro próximo chegará ao padrão
desejado pelos consumidores dos grandes centros urbanos. “Com a queda das
barreiras sanitárias, o produtor se movimentará mais nesse sentido e a
atividade vai se organizar”, diz.
Em
relação a preço, diz que os produtores já recebem entre R$ 14,00 e R$ 18,00
pelo quilo do ovino, o que o criador acredita ser reflexo do anúncio feito pela
OIE. “Por estes dias, tentei comprar um lote de receptora, mas não consegui
negociar. Tinha gente cobrando até R$ 20/quilo”, informa, explicando que a
cotação do quilo/animal é balizador de preço na região da propriedade.
Para
fornecer a carne desejada pelo mercado, é preciso investir em melhoramento
genético, ou seja, comprar reprodutores que, comprovadamente, resultem em
cordeiros precoces, com alto rendimento de carcaça e qualidade de carne. As
raças sul-africanas Dorper e White Dorper apresentam tal qualidade, tanto que,
hoje, são as raças que mais crescem no Brasil. Os machos são férteis e cobrem
um bom volume de ovelhas a campo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário