Pesquisas podem ajudar a reverter cenário negativo da carne ovina no Brasil
Tomo a liberdade de reproduzir uma interessante reportagem de Fernando Pivetti - fernando.pivetti@usp.br - distribuida pela Agência Usp de Notícia, dia 2 de setembro, sobre um projeto desenvolvido na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, em Pirassununga, que concluiu que a qualidade da carne de cordeiros tende a aumentar se os animais não forem castrados e se submetidos a uma dieta de confinamento adequada. Os animais pesquisados foram os meio sangue Dorper X Santa Inês.
"A dissertação de mestrado da veterinária Madeline Rezende Mazon se baseou na análise comparativa do desempenho, características de carcaça e qualidade de carne entre os ovinos castrados e não-castrados. O projeto teve início no final de 2011, buscando inovações em pesquisas com relação a características e qualidades do comércio de ovinos. Segundo a pesquisadora, a ideia do investimento partiu da observação de “um certo preconceito com a carne ovina, e sempre constatamos reclamações de cheiro ruim, sabor desagradável, ranço. Por isso, queríamos avaliar se castrando os animais logo após o desmame e se o tempo em que eles ficam no confinamento iriam melhorar ou piorar essas características da carne”.
Para cada análise foi aplicada uma metodologia específica. No entanto, de uma forma geral, foram avaliados 48 ovinos machos Dorper x Santa Inês com 32,3 ± 5,04 quilos (kg) de peso corporal e 104 dias de idade no início do experimento. “Os animais foram alojados dois por baia de acordo com o peso inicial e, após 14 dias de adaptação ao local, foram alimentados com uma dieta contendo 75% de grãos de milho inteiros, 20% de pelete proteico mineral e 5% de feno de capim chamado ‘coast cross’ ”, explica Madeline.
Os animais foram desmamados aos 90 dias de idade e, após a adaptação, 24 foram castrados com o burdizzo aos 113 dias de idade. A alimentação e as sobras foram pesadas diariamente para determinações de matéria seca e eficiência alimentar. Madeline explica que os animais foram pesados no início do experimento e eram realizados acompanhamentos a cada 14 dias da evolução do peso.
Dois processos de abate foram executados. Um deles aos 36 dias de confinamento, e outro aos 78 dias, cada um contendo parcelas iguais de machos castrados e não castrados. A partir daí, foram determinadas as caracteristicas da carcaça e da carne. Para a pesquisadora, o resultado das análises não trouxeram grandes surpresas. “Já esperávamos que os animais não castrados tivessem efeito da testosterona como anabolizantes, fazendo-os obter melhores resultados de desempenho, no entanto esperávamos que os animais castrados tivessem melhores resultados na análise sensorial e no perfil de ácidos graxos, supondo que, sem a ação da testosterona, o odor e sabor ovino apresentassem diferenças significativas, o que não foi encontrado”.
Segundo Madeline, o comércio de carne ovina é muito restrito no Brasil devido à relação de consumo em dias festivos e à influência pelo não acompanhamento técnico da produção ovina. “Ainda são muito comuns abates de animais velhos, com cheiro e sabor característico. E esse produto, quando chega ao consumidor, causa uma má impressão e o desestimula a futuros consumos”.
A pesquisadora acredita que pesquisas que buscam avaliar o desempenho da produção de carne ovina são os principais caminhos para reverter o quadro negativo do produto no cenário nacional, uma vez que esses animais mestiços são os mais utilizados pelos produtores Brasileiros de cordeiros. “É importante que haja um trabalho de estímulo às pesquisas de qualidade do produto, ajudando a verificar a melhor idade de abate e a condição sexual para que não tenha grandes influências negativas sobre a carne de cordeiro”, completa.
Imagem cedidas pelo pesquisador
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