quarta-feira, 21 de agosto de 2013
Saudades de Évora, do Estremoz e dos bons vinhos do Alentejo
Bem que eu gostaria de estar em Évora, em Portugal, nesta semana, porque, até o dia 24, e a Semana de Prova de Vinhos do Alentejo, com produtos da Bacalhôa, do Julio Bastos e do Monte dos Cabaços. Rever a praça Joaquim António de Aguiar, as ruas estreitas de Évora, o teatro Garcia de Resende e, sem dúvida, beber bons vinhos Alentejo. Os vinhos em prova começaram com Quinta do Carmo, branco (2012) e tinto (2010), o primeiro elaborado com Roupeiro, Arinto e Antão Vaz; o segundo, com Aragonez, Trincadeira e Alicante Bouschet, complementadas com Cabernet Sauvigon. Este, estava nas barricas quando estive em Estremz, em 2011, visitando a Bacalhôa, quando provei grandes vinhos, inclusive um espumante de primeiríssima linha, em companhia do Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia da casa, e Carina Gomes, RP. Acho que foi um Loridos Extra Brut 2007, que passou três anos na garrafa, safrado, sem adição de açúcar, um extra-brut “pás dosé” já que não se adiciona licor de expedição no “dégorgement”. Coisa muito boa. Encerramos um excelente almoço com Moscatel de Setúbal 2000.
Os vinhos Dona Maria, do Julio Bastos, em prova são o Dona Maria, branco (2012) e tinto (2010), o primeiro com Arinto, Antão Vaz e Viosinho; o segundo, com Aragonez (50%), Cabernet Sauvigon (20%), Alicante Bouschet (15%) e Syrah (15%). Também estarão em prova vinhos da Monte dos Cabaços Colheita Selecionada, branco (2011) e tinto (2007), o primeiro com Roupeiro, Arinto e Antão Vaz; o segundo, com Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Aragonez e outros.
Também tenho boas lembranças dos vinhos Monte dos Cabaços, principalmente dos que bebi no restaurante São Rosas, em Estremoz, com a própria Margarida Cabaços e seu filho Tiago. Tudo muito lindo, bom, desde o poético nome do restaurante, que se deve ao milagre da Raínha Santa Isabel até às comidas, preparadas especialmente pela Margarida Cabaço, que fez questão de ir à cozinha. Comemos mariscos, pezinhos de porco preto, queijo curado de ovelha amanteigado, sopa de tomate com crocante de porco preto e ovos. Ao final, um Vintage Fonseca 1997, a melhor safra da Fonseca e Guimarães.
Mas o jantar, pelo que me lembro, começou com um Monte dos Cabaços Branco 2010 Colheita Selecionada, com Roupeiro, Arinto e Antão Vaz, bastante fresco e com acidez equilibrada. Depois, fomos para um Margarida 2009, branco, elaborado com Encruzado, Verdelho, Alvarinho e Vognier, com as uvas misturadas na cuba, um branco de inverno, gastronômico, com final de boca alongado.. Os tintos começaram com Monte dos Cabaços Colheita Selecionada 2006, com Ttouriga Nacional, Syrah,Cabernet Sauvignon e aAlicante Bouschet, sem madeira, de taninos suaves, notas de tabaco e de chocolate preto; e continuaram com o Monte dos Cabaços Reserva 2005, com Touriga Nacional, Syrah, Cabernet Sauvignon e Alicante Bouschet, no qual a fruta está bem presente, em harmonia perfeita com a madeira, e o Margarida Tinto 2008, elaborado com Syrah (96%) e Viognier (4%), ambas pisadas, do qual ela produziu apenas 4.200 garrafas. Criado pela enóloga Susana Esteban, tem 14,5º de álcool, cor rubi carregado, aroma floral intenso, complexo no nariz e na boca, bem estruturado, ficou um ano em barrica de carvalho francês usadas. Como falei na Margarida e na Susana, devo dizer que esta é uma adega comandada por mulheres, porque a elas se une a também enóloga Marta Matos. Margarida acha isso muito bom “porque as mulheres são mais atentas aos detalhes”.
Depois, chegou a vez de provarmos os vinhos do Tiago Cabaço, filho de Margarida, que faz parte da nova geração dos produtores alentejanos. Por influencia do pai e da mãe, resolveu investir em uva e vinho e criou seu projeto em 2004. Apresenta-se como um dos mais jovens na idade e número de colheitas no mercado. Jovem e irreverente, deu a seus vinhos nomes relacionados com a modernidade do mundo cibernético e internético - .com, .beb e blog. Produz cerca de 300 mil garrafas/ano. Sua enóloga é a mesma dos pais: Susana Esteban.
Começamos a degustar pelo blog 2009, com 90% de Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah, apontado pelos críticos da região com o melhor vinho tinto de 2009 no Alentejo. O especialista Rui Falcão colocou-o entre os 10 melhores vinhos nacionais. Passou 100% em barrica, novas e usadas, é muito equilibrado e tem longevidade na boca. Seguiu-se o blog bi-varietal, com Alicante Bouschet (60%) e Syrah (40%), com características especiais dadas pelas barricas novas de carvalho francês, 15,3º de álcool, uma frescura enorme, boa acidez, boa estrutura, jovem. Maria, a jovem esposa de Tiago, informou que Rui Falcão considerou-o “um vinho impróprio para cardíacos”.
Depois, fomos para o .com 2010, um branco com Roupeiro, Arinto, Antão Vaz, Verdelho e Viognier, mineral, estruturado na boca, selecionado pela crítica inglesa Jancis Robinson para um de seus “vinhos da semana”. A seguir, o .beb 2010, com Arinto, Roupeiro, Verdelho e Viognier, que passou 100% em barrica, complexo, untuoso e estruturado.
Os tintos de Tiago começaram com .com 2010, elaborado com Touriga Nacional, Aragonez, Vinhas Velhas, Cabernet Sauvignon, sem madeira, muito jovem, mas com potencial de guarda. Depois, o .com 2010, com Syrah e Touriga Nacional de vinhas de 22 anos, a então idade de Tiago, também não passou por madeira, e mostra bem a tipicidade das duas castas, aromático, vermelho, frutado com elegância, jovem, ideal para guardar. E, finalmente, o .beb Premium 2010, com Syrah, Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e TourigaNacional, passado 100% em barrica, está no ponto ideal para beber.
Tenho certeza que os atuais Monte dos Cabaços são bons. Os que provei naquela noite chuvosa, escutando a linda história de Santa Isabel e o rei D. Diniz, já indicavam um trabalho sério e persistente em busca da qualidade dos chamados “novos vinhos do Alentejo”. Que saudade do Estremoz e de Évora.
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