domingo, 15 de março de 2015

Azeitonas e azeites, nova riqueza gaúcha


                      Luiz Eduardo Batalha mostra qualidade das azeitonas a Paul Vossen, 
Paulo Freitas e Patricia Galasini
             Felipe Batalha, Paulo Freitas e Paul Vossen nos tanques de azeitonas
                                  Fotos  Danilo Ucha


A safra de azeitonas de 2015, aberta oficialmente em Livramento,  na  primeira semana de fevereiro, está sendo positiva, maior do que as anteriores, mas com produção total aquém do esperado. Chuvas demais na época da floração das oliveiras prejudicaram algumas áreas. Enquanto alguns plantadores da variedade arbequina, por exemplo, colheram 19 quilos de fruta por árvore, rendimento considerado muito bom, outros não colheram nada. Mesmo assim, a Emater acredita que a safra será superior aos 300.581 quilos de 2014, que renderam 30.489 litros de azeite.
De acordo com a contagem da secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, esta foi a 4ª safra de azeitona gaúcha dos tempos modernos. No século passado, houve algumas tentativas de plantio, mas não prosperaram, segundo se diz, porque as variedades selecionadas não se adaptaram ao Rio Grande do Sul
Nos dias 6, 7 e 8 acompanhei a segunda colheita da Fazenda Guarda Velha, em Pinheiro Machado, mas só agora consigo escrever sobre ela, porque de lá fui direto para Minas Gerais (Uberaba) e várias cidades do interior de São Paulo, visitar grandes empreendimentos do agronegócio (confinamentos, desenvolvimento genético, saúde animal e até um grande projeto de criação de tilápias), com meu amigo jornalista Altair Albuquerque, da Texto assessoria, organizadora do Road Show de Jornalistas de Agronegócio 2015.
Em Pinheiro Machado, à convite do grande empreendedor paulista Luiz Eduardo Batalha, que acompanha desde que plantou o primeiro pé de oliveira naquela região, tive a satisfação e honra de conviver com a Patricia Galasini e o Jairo Klapp, especialistas em pizzas e azeites, e com o sommelier de azeites Paulo Freitas, que entende como poucos dos azeites do mundo. Também reencontrei o norte-americano Paul Vossen, professor da Universidade de Davis, na Califórnia, meu parceiro na safra 2014, também na Guarda Velha, e companheiro de viagem por fazendas de oliveiras, na Califórnia, considerado um dos maiores especialistas em azeites dos Estados Unidos. Embora conheça a Califórnia, não conheço a Universidade de Davis (só passei perto), mas, curiosamente, Vossen, é o segundo mestre daquela universidade que passa por minha vida. Nos anos de 1970, acompanhei  a instalação dos vinhedos da National Distillers, em Santana do Livramento, minha terra natal, e a fundação da Almaden, hoje do Grupo Miolo. Quem “descobriu” aquela região para a uva e os vinhos finos foi o norte-ameircano Harold Olmo, da Universidade de Davis, que começou suas pesquisa por lá nos idos de 1940. Olmos mostrou que a região da Campanha era uma das melhores para o cultivo de viníferas nobres do mundo. Hoje, a Campanha tem cerca de 20 vinícolas produzindo grandes vinhos, especialmente tintos.
A colheita das azeitonas












A elaboração dos azeites





Mas, voltemos às oliveiras, azeitonas e azeites.
Na região de Pinheiro Machado, o empresário paulista Luiz Eduardo Batalha é um dos produtores que começou, dias 6, 7 e 8, uma boa colheita em parte de seus 148 hectares plantados com 47 mil pés de oliveiras, mas alguns vizinhos, como Galvão Bueno e Darci Miolo, não tiveram fruta em condições de aproveitamento. “São coisas do clima e da agricultura”, disse Batalha, “mas isso não deve desesperar ninguém, pois a produção de azeitona e azeite, que já começou de forma intensa aqui no Rio Grande, é uma nova e importante alternativa econômica, com grande futuro pela frente, e vai ocupar terras que hoje não são aproveitadas nem pelo gado nem pela agricultura convencional.”
Foi a segunda safra da Fazenda Guarda Velha. Também acompanhei a primeira, em 2014, inclusive a elaboração, então, do primeiro azeite, o Batalha, que já está no mercado, em duas versões, suave e forte. Posso garantir que são de alta qualidade e o Paulo Freitas confirmou. Coisa boa, mesmo.
Batalha, um incentivador da nova atividade, recebeu o secretário estadual da Agricultura, Ernani Polo, em sua fazenda Guarda Velha, mostrou-lhe os olivais e a indústria de azeite e disse que o governo deve incentivar o plantio de oliveiras. Polo concordou.
Na noite de sábado, dia 7, apresentou  o maior técnico dos Estados Unidos em azeites, Paul Vossen, e os especialistas brasileiros Patricia Galasini e Paulo Freitas para falarem para mais de 30 pessoas reunidas na fazenda sobre a cultura e suas perspectivas econômico-financeiras.  Reencontrei lá os enólogos Anderson Schmitz, Rossano Lazzaroto e Carlos Eduardo Seronni, e os empresário Marco e Mauro Balinhas e Gilson Mesko, com quem andei pela Califórnia, em novembro de 2014, exatamente degustando vinhos e azeites. Também estava lá o Ivan Magalhães, sócio do Galvão Bueno na Bellavista Estate, em Candiota, onde criam gado, ovelhas, cavalos e plantam vinhedos e oliveiras. Neste ano, as azeitonas não deram bem, mas, em contrapartida, as uvas foram excelentes, alcançando 24 graus Babo. Galvão Bueno deveria ter comparecido, mas como estava em companhia do italiano Roberto Cipresso, visitando os vinhedos, teve que voltar para o centro do País, onde o italiano tinha compromissos. Mas ele também é um entusiasta do plantio de oliveira, já possui 15 hectares plantados e está destinado mais 45ha para o cultivo.
Muitos dos proprietários rurais que estavam no jantar da Fazenda Guarda Velha, oferecido por Batalha, sua esposa Ronize, o filho Felipe e sua namorada Ana Estela, se entusiasmaram com as perspectivas das oliveiras, das azeitonas e dos azeites, cujo mercado brasileiro e mundial é francamente comprador, e, certamente, vão engrossar o contingente de 109 produtores gaúchos que já plantam oliveiras em mais de 30 municípios. É uma nova riqueza para o Rio Grande do Sul, especialmente para a região da Campanha, que precisa diversificar sua matriz econômica.
A colheita 2015 da Fazenda Guarda Velha deverá ser de 40 mil quilos de azeitonas, parte destinada ao consumo na mesa, parte para a produção de 6 mil litros de azeite. Inovador e preocupado com a qualidade, Batalha decidiu que as azeitonas de mesa, a partir de agora, não conterão uma só grama de soda, como colocam os demais produtores.
 Anunciou que, em 2015, serão plantados mais 150 hectares de oliveiras. Galvão Bueno, que já tem 5 mil pés na Bueno Bellavista Estate, em Candiota, ali ao lado, anunciou, através do Ivan Magalhães, que vai plantar mais 15 mil pés em 45 hectares, pois acredita que é um bom negócio. Além de representar uma nova riqueza, as azeitonas e os azeites estão criando empregos na região. Nesta colheita, que se estenderá pelo mês de março, a Fazenda Guarda Velha, que também colhe viníferas, está empregando 70 pessoas nos olivais, 30 nos vinhedos e mais 7 na indústria de azeite.
E, por falar em viníferas, posso anunciar que Luiz Eduardo Batalha também fez, neste verão, sua primeira colheita de uvas numa área de 70 hectares, escolhida porque tem todas as características necessárias à produção de bons vinhos. Seu primeiro vinho, em vinificação na Boscato, em Bento Gonçalves, vai ser apresentado nos próximos meses.
Para comemorar a boa safra de azeitonas, Luiz Eduardo Batalha ofereceu um jantar – cordeiro desossado assado na trempe do fogo de chão - para vários empresário da região de Pinheiro Machado. O enólogo Anderson Schmitz foi encarregado de selecionar os vinhos. Ele fez uma seleção bem interessante. Entre as garrafas que abrimos, com satisfação e deleite, estavam Zanella Merlot 2011, Sanjo Maestrele Integrus Pinot Noir 2012, uma agradável surpresa, pois não acredito muito em Pinot Noir brasileiro, Cabanha Geller Tannat 2008, Sanjo Maestrele Integrus Cabernet Sauvignon 2008, Seronni Lazzaroto Merlot e Cabernet Franc, Sincronia Shiraz 2012, da vinícola Franco Italiano, e Sanjo Maestrele Integrus Chardonnay 2011. Como falei com o Ivan Magalhães minha posição sobre o Pinot Noir no Brasil, ele fez questão de me oferecer uma garrafa do Pinot Noir da Bellavista Estate, dizendo que, ao bebê-lo, vou mudar de opinião. Trouxe-a com carinho para minha adega e estou preparando espírito para abri-la.

 Parte dos 148 hectares de olivais da Fazenda Guarda Velha
Alguns dos vinhos escolhidos pelo Anderson


       






         
         

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